No bairro da zona leste foram registrados 1.722 roubos de em 2014; em Pinheiros, foram 1.234 notificações de furtos.
Você estaciona seu carro em uma rua e, quando volta, não o encontra; ou para em um semáforo e é abordado por bandidos armados que o obrigam a sair e levam seu veículo. Essas cenas de furto e roubo fazem parte da rotina dos moradores das grandes cidades e aumentam a sensação de insegurança. Na cidade de São Paulo, foram registradas 82.668 ocorrências de roubos ou furtos de veículos entre janeiro outubro de 2014 (último dado disponível). Deste total, foram 40.582 roubos e 42.086 furtos, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
Se nos números gerais da cidade as ocorrências de roubos e furtos são quase equivalentes, no bairro de São Mateus, na zona leste, crimes com o uso da violência são bem mais comuns. Entre todos os distritos da cidade, o bairro foi o campeão no quesito roubo de veículos.
De cada dez ocorrências do tipo, sete são roubos. Até outubro, foram roubados 1.722 veículos e outros 724 foram furtados. Na soma entre roubos e furtos, o distrito também fica a frente dos outros da capital. Os números levam em conta os boletins de ocorrência registrados no 49º DP, delegacia que atende ao bairro e adjacências.
Em contrapartida, a região sob responsabilidade do 14º DP (Pinheiros), na zona oeste, teve a maior quantidade de veículos furtados no período, de acordo com os dados da secretaria. Foram 1.234 furtos entre janeiro e outubro de um total de 1.560 ocorrências envolvendo veículos. Outros 326 veículos foram roubados, o que coloca o distrito na 56ª colocação entre todas as 92 delegacias de São Paulo no critério. Na soma entre roubos e furtos, a região fica na 7ª posição.
Para José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, consultor de Segurança Pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a explicação para as diferenças está nas particularidades dos bairros.
“São Mateus é um bairro com altos índices de criminalidade em geral. É um caso clássico de violência contínua. Os bandidos roubam o carro para a prática de outros crimes e depois abandonam. Pinheiros tem mais policiamento, portanto os ladrões são mais esquivos e procuram lugares mais propícios para o furto”, diz.
Ele lembra também que, além de Pinheiros, o 14º DP é responsável pelas investigações da região da Vila Madalena, conhecida pelos bares e pela intensa vida noturna. “É uma região com uma grande quantidade de estabelecimentos, o que a torna um alvo fácil para os ladrões. Mesmo com o policiamento mais intenso, os bandidos trabalham com olheiros, que sabem em que ruas a policia está atuando e atacam outras.”
Outros bairros
No ranking de bairros com maiores ocorrências envolvendo veículos, o Jabaquara (zona sul), região do 35º DP, aparece em segundo lugar, com 1.715 casos. Assim como em São Mateus, na área as práticas com uso de violência verbal ou física são maioria – foram 1.289 roubos e 426 furtos. Na região de atuação do 69º DP Teotônio Vilela, na zona leste, os roubos também superam os furtos em uma proporção de 59% para 41%. Foram 997 roubos e 707 furtos – 1.704 ocorrências no total.
Apenas no quesito roubo, além de São Mateus, a tríade com maiores registros se completa com o 35º DP e o Parque São Rafael (55º DP), que registrou 1.272 ocorrências. A região teve ainda 271 registros de furtos – uma proporção de 82% para roubos e 18 para furtos.
“As pessoas imaginam que roubos aconteçam com mais facilidade nos bairros mais ricos, mas todos os tipos de violência acontecem com mais intensidade nas áreas periféricas. É o pobre roubando pobre. Nesses locais falta tudo. Faltam escolas, as pessoas estudam menos, há mais desempregados, mais gente na rua. Por outro lado, falta também policiamento. Esses jovens são alvos fáceis para serem cooptados por criminosos que moram na região. Roubam por ali mesmo”, diz Silva Filho.
Na modalidade furto, o pódio se completa com os registros do 7º DP Lapa e 23º DP Perdizes, ambos na zona oeste. “Locais propícios ao furto são aqueles em que há muitos carros e em nos quais eles ficam estacionados por muito tempo”, diz o coronel, lembrando as ruas próximas à Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Perdizes. “O bandido sabe que o carro vai ficar parado por muito tempo.”
Soluções
Para a coordenadora de Gestão do Conhecimento do Sou da Paz, Ligia Rechenberg, os números mostram que não é apenas a ação da polícia ostensiva que irá resolver o problema dos roubos.
“Tem de haver um trabalho integrado entre as duas polícias. A Polícia Civil faz os registros e a Polícia Militar vai fazer o patrulhamento e ostensivo. Mas o ideal seria que a Polícia Civil fizesse esse trabalho de análise criminal e compilasse todas as informações no Boletim de Ocorrência”, analisa ela.
“Esses dados incluem as características do roubo, modelos de veículos preferidos, ruas mais perigosas, horários de atuação, modus operandi. Assim, a PM poderia focar a atuação nas regiões mais vulneráveis.”
Segundo Rechenberg, com esse estudo, a polícia conseguiria entender o que atrai os criminosos e agir para evitar o roubo não apenas para recuperar o veículo e prender o ladrão.
Outro lado
Em resposta à reportagem do iG, a SSP afirma que as polícias Civil e Militar intensificaram as ações ostensivas e de investigação nas áreas citadas pela reportagem para coibir os roubos e furtos de veículos nas duas regiões. Como resultado dos trabalhos, as polícias prenderam 478 e 822 pessoas e recuperaram 296 e 2.198 veículos respectivamente nas regiões de Pinheiros (14ºDP) e São Mateus (49ºDP).
A SSP afirma ainda que a Divisão de Investigações sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas (Divecar) do DEIC fiscalizou 123 estabelecimentos e fechou 137 desmanches irregulares na Capital.
Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 27/12/2014
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios