O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e do ex-presidente da República José Sarney. A TV Globo deu informação de que teria sido solicitada também a prisão do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Todos esses quatro caciques peemedebistas são fiadores políticos do governo Temer. No caso de Renan, ainda pode ser discutido o afastamento da presidência do Senado.
Por analogia com o que aconteceu com Eduardo Cunha, há alta chance de Renan também perder o comando de fato do Senado. Isso guindaria o vice-presidente da Casa, Jorge Viana (PT-AC), ao comando do Senado, o que não seria bom para o Palácio do Planalto.
Se Renan também for preso, o impacto sobre o PMDB será ainda maior, com dano para o governo Temer. O presidente do Senado se reaproximou do presidente interino, com quem tem histórico de rivalidade no PMDB, e ajudou o novo governo a aprovar projetos no Congresso.
O caso de Jucá é outro que poderia trazer complicação enorme para o governo, porque, se o STF endossar o pedido de Janot, estará, de certa forma, avalizando a tese de que houve uma trama para derrubar Dilma e instalar Temer no poder.
Na semana passada, Temer disse em entrevista que nunca um aliado lhe propôs tal ideia. Afirmou ainda que a Lava Jato tem apoio de sua administração e que nunca houve gesto dele contra a investigação.
No entanto, uma decisão dura do Supremo em relação a Jucá atingiria um dos principais articuladores do impeachment de Dilma. Obviamente, daria munição ao PT contra Temer na batalha do impeachment.
Se houver decisão contrária a Renan e Jucá, será difícil que o Supremo preserve Sarney, apesar de as gravações em relação a ele serem, digamos assim, de menor teor explosivo na comparação com as demais. No caso de Sarney, seria um pedido de prisão domiciliar com uso de tornozeleira.
A decisão do Supremo sobre esses quatro políticos será importante para ditar os rumos da crise e da batalha do impeachment no Senado. Não pode ser descartada a possibilidade de um político graúdo desses fazer delação premiada. A história da Lava Jato ensina, como mostram as delações de empreiteiros que resistiam a aderir ao instituto, que uma colaboração não é impossível diante da possibilidade de prisão ou de meses no cárcere.
É importante que o STF decida rapidamente a respeito desses pedidos de Janot. A economia está sofrendo muito com a incerteza política. É preciso dar respostas rápidas.
Sonho petista
Caso o Supremo pegue pesado com os quatro caciques peemedebistas, o PT certamente entenderá que aumenta a chance de a presidente afastada retomar o poder.
Mas a maior aliada de Temer é a ameaça da volta de Dilma. Essa possibilidade amedronta o mercado financeiro, o empresariado e boa parte da classe política e da opinião pública.
Desde quando deixou a Presidência em 12 de maio, Dilma não fez um gesto de autocrítica. Não admitiu um erro na economia. Pelo contrário, prometeu agir com irresponsabilidade fiscal se retomasse o poder. Dilma ainda hesita em assumir a proposta de convocar eleição presidencial neste ano.
Os gestos da presidente afastada são mais de quem guerreia por uma fotografia histórica de vítima de um golpe do que uma estratégia eficaz de retorno ao poder. Nesse contexto, é mais provável que aconteça uma crise que atrapalhe o governo Temer e viabilize nova eleição presidencial do que uma tormenta que devolva o cargo a Dilma.
Para o mercado financeiro, o empresariado e boa parte da classe política e da opinião pública, está muito claro que um novo governo Dilma aprofundaria a crise. Entre tantos motivos, um é potencialmente danoso para a petista: tem uma delação de Marcelo Odebrecht no meio do caminho.
Apoio da opinião pública e oportunidade perdida
Ao manter ontem três auxiliares que estavam em diferentes apuros políticos, Temer cometeu um erro. Na semana passada, disse que a Lava Jato criara jurisprudência de demissão rápida. Não foi o que aconteceu em relação a Henrique Alves, ministro do Turismo.
Sobre o advogado-geral da União, Fábio Osório Medina ficou no cargo para Temer não perder o terceiro ministro em mais uma segunda-feira. A respeito de Fátima Pelaes, é pura insensibilidade política em relação às questões da Secretaria da Mulher. Fátima Pelaes é inadequada para a função.
Obviamente, é importante Temer se apoiar nas forças políticas que o sustentam e levar em conta o impacto disso sobre o Congresso. Mas é o apoio da opinião pública para dar respostas à crise econômica e política que o levaram ao Palácio do Planalto. Se tiver apoio da opinião pública, ficará mais fácil enfrentar os políticos.
Nesse sentido, Temer perdeu ontem uma oportunidade, porque a opinião pública não tolera mais um sistema político movido a corrupção. E o STF pode dar mais uma evidência disso ao decidir sobre os pedidos de prisão de quatro caciques peemedebistas.
Fonte: http://www.ig.com.br/ – http://www.blogdokennedy.com.br/
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 07/06/2016