Como é preocupante testemunhar-se que por mais que se fale em “estado democrático de direito” no país, frase bonita e emblemática, na prática há um grande desencontro e um enorme abismo na convivência com as divergências…! Aliás, essa frase ganha evidência quando os debates ficam acirrados nas tribunas do Congresso Nacional e, eventualmente, existe algum risco de perda do poder pelo grupo dominante e aí, sim, os direitos são invocados e defendidos com grande veemência.
Outro detalhe marcante é ressaltado nas conversas políticas das rodas de amigos, quando o papo começa bem e amistoso, mas, de repente, a ira produzida pelas posições políticas radicais interfere de forma violenta naquele que era, até então, um bom relacionamento… Numa discussão desse tipo ocorre que a força dos argumentos passa a dar lugar ao argumento da força, da indelicadeza e da intolerância, o que vem demonstrar que os mais elementares princípios do direito democrático de expor ideias, eventualmente contrárias, geralmente encontra forte resistência. Até mesmo entre os leitores que honram os autores de crônicas de natureza política, percebe-se em alguns comentários farta agressividade e irreverência pela não concordância com determinadas análises. Nesses casos, contudo, o equilíbrio recomenda o acolhimento da crítica sem polêmica, em respeito às regras democráticas.
O pior de tudo é que a sociedade brasileira está vivendo, talvez, um dos momentos mais conturbados, tristes e inusitados da sua história, dominados pelas incertezas e inseguranças que dominam o cenário nacional. Naturalmente que parte da população tem pensamentos político-partidários antagônicos, embasados em princípios ideológicos cuja defesa deve ser respeitada, porque esse debate cívico é bom, aquece os mais variados temas e amadurece o exercício da liberdade de pensar. É da discussão digna e franca dos problemas municipais, estaduais e nacionais, em Associações Comunitárias ou em Audiências Públicas, que surgem as boas ideias e nascem os novos líderes nos diversos níveis, que podem resgatar as esperanças da descoberta de representantes mais comprometidos com os problemas dessa gente sofrida.
Da outra parte, tem uma população que não quer saber quem é Dilma, Lula, Temer, Cunha, Aécio, Renan e outros tantos, mas que quer gritar alto e em bom som que está faltando o feijão na panela, que o SUS que funcionava já não está correspondendo e que os exames médicos de urgência estão sendo marcados para seis meses depois e a vida às vezes não espera tanto…!
Tudo isso serve como preliminar à abordagem de um tema vergonhoso e deplorável que está dominando o noticiário nacional. De pronto, antecipo que não importa a ideologia política, a religião ou as preferências conceituais de vida daqueles que se utilizam de recursos tão espúrios quanto medievais para expressar o destempero de suas reações ou exteriorizar a sua posição política. Refiro-me à CUSPARADA como a nova arma de defesa e agressividade, lançada pelo Deputado Jean Willys contra o seu desafeto e colega Jair Bolsonaro – com quem não tenho a menor simpatia -, em plena sessão solene da Câmara dos Deputados e transmitida pelas TVs para o Brasil e para o mundo…! Não importa o tipo de animosidade e o baixo nível de diálogo entre os dois, mas o Brasil se envergonha com atitudes tão baixas por parte de um Deputado, que passa um péssimo exemplo às nossas crianças que assistiam a TV ao lado dos seus pais!
Como prova de que o desvio de comportamento negativo logo adquire adeptos, o festejado ator global José Abreu, em seleto restaurante em que se encontrava com a esposa, ao receber agressões verbais de um cliente grosseiro, mal-educado e inconsequente que estava sentado próximo a sua mesa, optou pelo uso do nojento e asqueroso CUSPE como instrumento de defesa, atingindo em cheio o rosto da mulher que acompanhava o seu agressor. Como tudo vira moda no Brasil, outros manifestantes resolveram imitá-los e em via pública colocaram fotos de políticos em frente de cada um e, sentados, cuspiam repetidamente nos seus rostos! Protesto idiota, ínfimo, pequeno e rasteiro!
É um retrocesso que nos coloca a Ano Luz dos princípios de civilidade e nos remetem ao tempo das cavernas, se é que se pode ofender os nossos antepassados, achando-os tão pueris e selvagens assim! Ainda que discorde e faça muitas restrições à conduta de certo deputado, não posso deixar de reconhecer que o mesmo foi feliz ao pronunciar o seu voto na sessão do impeachment – mesmo que tenha soado meio falso -, usando a frase que se ajusta ao fechamento deste texto: “DEUS TENHA MISERICÓRDIA DO BRASIL”!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador – BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 01/05/2016