Quem tem experiência em gestão de crise sabe que é mais fácil construir uma imagem positiva a desconstruir uma reputação negativa. Nos dois casos, entretanto, será sempre preciso trabalho, ações coerentes e paciência. Basta um pequeno deslize para que uma boa imagem desmorone, e para que as portas se fechem à tentativa de se recuperar uma reputação.
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, flerta com a segunda hipótese. Bem preparado, ostentando currículo invejável, que o credenciaria a ocupar qualquer posto relevante nas mais exigentes corporações mundiais, ao assumir o Ministério começa a dar apenas os primeiros passos em busca da recuperação de uma imagem combalida por decisões que ajudou a tomar e contribuíram para que o Brasil entrasse na crise atual.
Sabendo que sua presença no Ministério da Fazenda deixaria o mercado com a pulga atrás da orelha, Barbosa começou a discursar, conceder entrevistas e participar de teleconferências antes mesmo de assumir o posto. Será que suas palavras afastarão a desconfiança que suas ações, teses e ideologias provocaram?
Nunca me canso de lançar mão dos ensinamentos do Padre Antônio Vieira para encontrar respostas a desafios delicados como esses enfrentados pelo ministro. Vamos imaginar que o pregador proferisse seu famoso “Sermão da Sexagésima” hoje, e não em 1655, e que, na plateia da Capela Real, Nelson Barbosa ocupasse o lugar dos padres que ali acorreram para ouvir e aprender.
A aula de Vieira poderia ser a mesma. Só para relembrar. Naquela oportunidade, o pregador usou o sermão com o objetivo de mostrar aos padres como agir para catequizar e manter os fiéis na igreja. As mesmas palavras serviriam para orientar Barbosa como proceder para persuadir o mercado a esquecer de seus equívocos, e a acreditar que doravante terá comportamento distinto.
Pois bem, o que disse Vieira aos padres e que poderia ser dito ao ministro Barbosa? “Uma coisa é o pregador, e outra é o que prega. O Pregador é nome; o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao Pregador. Ter nome de Pregador, ou ser pregador de nome, Ministro, não importa nada; as ações da vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo”.
E apertando o torniquete no ministro, Vieira talvez ponderasse: “O melhor conceito que o Pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o mundo, hoje por que se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras; são tiros sem bala; atroam, mas não ferem”.
Calma, ministro. É só um sermão.
Imagino Vieira olhando nos olhos do ministro para dizer: “O pregar, que é falar, faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. Verbo Divino é palavra Divina; mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas, se forem desacompanhadas de obras”.
E aqui a lição final para Barbosa refletir na solidão do seu gabinete: “A razão disto, é porque as palavras ouvem-se, as obras veem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos”.
Ulalá, ministro, o caminho que vossa excelência pavimentou para si mesmo será difícil e espinhoso. Como deixou claro Vieira: somente as ações poderão tornar suas palavras críveis. Boa sorte. Para nós.
Blog do Florisvaldo – Informação com Imparcialidade – 27/12/2015