
No ano em que o país alcançou o pleno emprego e o dólar trouxe alívio, com queda de 14% no ano, a ceia de Natal deve chegar mais farta e sofisticada à mesa dos brasileiros. Em contraste com 2024, quando a disparada da moeda americana e problemas climáticos deixaram a comida mais cara, a conjuntura mais favorável estimulou a indústria a lançar sabores, apostar em produtos de maior valor agregado e reforçar linhas premium. Varejistas anteciparam importações, aumentaram as compras e houve até quem conseguisse manter os preços do ano anterior, graças à menor pressão cambial.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) projeta que o consumo das famílias no período das festas de fim de ano cresça 15%. Se confirmado, será o maior avanço em toda a série, iniciada em 2015, segundo o vice-presidente da entidade, Márcio Milan.
Além do emprego formal em nível recorde, que amplia a renda disponível das famílias com a injeção de um décimo terceiro maior, os preços dos itens típicos da ceia subiram apenas 3,5% em relação ao ano passado, o menor percentual desde o início da série em 2017, segundo a Abras.

– A queda do dólar ao longo do semestre trouxe previsibilidade para as negociações. O que sentimos é que eles (os supermercados) anteciparam a compra dos produtos típicos da ceia de Natal, incluindo vinho e azeite. O governo retirou a taxa de importação, e isso fez o preço do azeite cair em média 18% – diz Milan.
A indústria trouxe novidades para a temporada, com o lançamento de kits de carne bovina e de aves e mais versões de panetone, de 80 gramas, para presentes, até tamanhos maiores de 750 gramas, acompanhando a diversificação do tamanho das famílias.
Novos panetones
A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, renovou de 10% a 15% de seu portfólio natalino e aposta tanto em itens de maior valor agregado, como o chester semidesossado recheado com farofa – lançado em comemoração aos 45 anos do produto – quanto em opções mais práticas e de menor custo. Uma das novidades é o empanado de chester, pensado para ser um petisco de air fryer para encontros ou “pré-ceia”.
A tendência do brasileiro de fazer churrasco nesta data ainda motivou a ampliação da linha chester ‘Na Brasa’, que ganhou dois cortes. Na área de sobremesas, a linha Miss Daisy agora tem um novo sabor da Torta Brigatone, feita com mousse e panetone de chocolate. Com o dólar mais comportado, a companhia diz ter conseguido manter o ritmo de inovação sem tanta pressão vinda dos insumos.
– Estamos otimistas com o Natal – diz Luiz Franco, diretor de Marketing e Inovação da MBRF.
A Bauducco aposta em produtos premium, versões mini e até novos sabores ligados à demanda por “indulgências acessíveis” que notou entre os clientes. Para isso, lançou o novo Chocottone sabor pistache e a “collab” com a Fini, com os sabores Dentadura, de 450 gramas, e Beijos, de 80 gramas.
Já a linha premium do panetone de chocolate terá mais dois sabores: caramel macchiato e cereja. A empresa fortaleceu a linha de presentes, com novas latas de 750 gramas e minilatas colecionáveis.
A empresa diz que viu o custo de alguns ingredientes subir, mas o planejamento das compras e a renegociação com fornecedores reduziram os impactos, diz André Britto, diretor de Marketing:
– Vimos um movimento antecipado de pedidos dos varejistas. Acreditamos em um portfólio democrático, partindo de um desembolso próximo de R$ 5, até opções maiores, para famílias, ou presentes mais premium.
No Cadeg, tradicional mercado municipal do Rio, a loja Empório Tuta do Bacalhau já vê ganhos com a venda de cestas natalinas, especialmente para empresas, em um formato que não oferecia até o ano passado. A loja fechou parceria com uma distribuidora que já entrega os kits montados. Os preços vão de R$ 73,90 a R$ 228 e incluem itens como panetones, torrones, bolos, mix de frutas secas e espumantes.
O mercado de trabalho aquecido aumentou as vendas, com as empresas tentando reter mão de obra. Para o gerente da loja, Carlos Babo, a conjuntura influencia:
– As empresas estão valorizando mais o funcionário.
A loja começou a contatar os clientes corporativos em meados de novembro e tem fechado pedidos de cem a 200 cestas por venda, conta o gerente. Boa parte do estoque dos itens natalinos já foi feito. O bacalhau, importado da Noruega, teve reajuste, entre 7% e 10%, mas nada que o gerente considere exagerado. Babo avalia que o consumo está mais aquecido este ano:
– Estou vendo as pessoas comprarem mais. A economia deu uma melhorada.
O Supermercados Zona Sul fez as primeiras compras de panetones em maio e, em setembro, já tinha o mix disponível nas lojas. O volume de encomendas cresceu 79% em relação ao ano passado.
– Com a inflação mais controlada, há uma tendência maior ao consumo. Mesmo com o aumento de preços, o percentual é menor que em 2024 – afirma Ricardo Bonuccelli, gestor comercial e de importação da rede.

Entre novembro e o início de dezembro, as vendas de importados na rede subiram 12,7%. Segundo Bonuccelli, o dólar mais baixo abre espaço para ampliar o portfólio:
– O câmbio em queda nos permite investir mais, especialmente em novidades. Categorias como biscoitos, vinhos, bomboniere e gastronomia são as mais beneficiadas.
Azeite como presente
Na Planeta Sonho, tradicional delicatessen da Zona Sul do Rio, as cestas natalinas, que vão de R$ 119 a R$ 2.600 e atendem a diferentes públicos, têm os mesmos preços do ano passado. Segundo o proprietário, Marcelo Maleh, a queda do dólar ajudou a segurar custos:
– Isso nos permitiu manter o valor sem alterar a qualidade.
No caso do azeite, um item central tanto na mesa quanto no preparo da ceia, o euro estável em um patamar alto impediu qualquer alívio cambial. A melhora dos preços veio pela safra internacional mais favorável e pela decisão do governo de zerar o Imposto de Importação (II) para azeites e outros alimentos essenciais em março.
Com isso, o produto retornou à faixa de R$ 35 a garrafa de 500 ml em muitos pontos de venda, afirma Yasmin Roiter, gerente de marketing da Gallo Brasil.
Com a demanda se recuperando após meses de alta, a empresa aumentou o volume planejado para a temporada e aposta que a linha premium, lançada em setembro, ganhe tração nas festas de fim de ano. Pela sofisticação e proposta sensorial, a versão tem sido até uma opção de presente, diz a gerente da Gallo:
– Percebemos um consumidor mais aberto a experimentar azeites premium em ocasiões especiais, sem deixar de buscar produtos versáteis e com bom custo-benefício para o dia a dia.
Moacir Sbardelotto, diretor regional do Assaí, diz que a rede percebeu que os clientes anteciparam parte das compras de Natal já na Black Friday para aproveitar os preços promocionais.
— O que vemos desde novembro é um consumidor que busca o custo-benefício: ele não deixa de celebrar, mas olha com cuidado para o preço de cada item. A ceia tende a ser completa, porém equilibrada. Num cenário de juros altos, vemos marcas de primeiro preço com adição de algumas escolhas mais premium no mix.
Os números da ceia
3,5%
- É o percentual de reajuste médio dos produtos típicos da ceia de Natal este ano, de acordo com a Abras, também a menor alta da série histórica da associação de supermercados
15%
- É a alta esperada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para o consumo das famílias nas festas de fim de ano. Se for confirmada, será a maior da série histórica da Abras, iniciada em 2015
10% a 15%
- Foi a renovação do portfólio da BRF, que produz as marcas Sadia e Perdigão para este ano, com chester semidesossado recheado com farofa e o empanado de chester para fazer na airfryer
7% a 10%
- Foi o aumento médio do preço do quilo do bacalhau, um dos pratos mais típicos da ceia de Natal. Queda de 14% na cotação do dólar este ano limitou a alta do peixe
Fonte: https://oglobo.globo.com – Por Carolina Nalin – Rio de Janeiro
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