Este artigo analisa a importância estratégica do investimento educacional para o desenvolvimento econômico, social e tecnológico de uma nação, destacando a formação de capital humano, a redução das desigualdades e o fortalecimento institucional como elementos fundamentais. A partir de referências teóricas clássicas e contemporâneas – como Paulo Freire, Amartya Sen, Eric Hanushek e Theodor Schultz –, o texto demonstra como a educação de qualidade é condição indispensável para o crescimento sustentável. Exemplos internacionais, como Coreia do Sul e Chile, reforçam a tese de que políticas públicas sérias, continuadas e de longo prazo geram impactos positivos no PIB, na competitividade e na inovação. Por fim, apresenta-se um conjunto de propostas concretas para o Brasil, com foco em alfabetização plena, valorização docente, infraestrutura escolar e digital, governança eficiente e integração entre educação e desenvolvimento.
Introdução
O desenvolvimento econômico e social depende de múltiplos fatores estruturais, entre os quais a educação ocupa papel central. No século XXI, a competitividade entre países e regiões está fortemente associada ao grau de escolarização da população, à qualificação da força de trabalho e à capacidade de produzir e difundir conhecimento. Conforme afirma Amartya Sen (1999), o desenvolvimento está diretamente ligado à expansão das liberdades e capacidades humanas, sendo a educação um dos pilares para que indivíduos atuem plenamente na vida social e econômica.
No caso brasileiro, apesar de avanços relevantes nas últimas décadas, persistem desafios históricos, como desigualdades regionais, baixos níveis de aprendizagem e insuficiência de investimentos. Darcy Ribeiro (1995) já alertava que a crise educacional brasileira “não é uma crise, é um projeto”, indicando que a precarização do setor está enraizada em escolhas políticas e estruturais de longa duração. Assim, investigar a relação entre educação e desenvolvimento e propor caminhos viáveis torna-se fundamental para um projeto de país mais justo e competitivo.
A educação como fundamento do desenvolvimento: bases teóricas
A relação entre educação e desenvolvimento foi consolidada por diversos teóricos ao longo do século XX.
2.1 A contribuição de Paulo Freire
Paulo Freire (1970) reafirma a educação como prática de liberdade, capaz de promover consciência crítica, participação democrática e transformação social. Embora não trate diretamente de economia, sua obra fornece base para compreender a formação cidadã como parte essencial de qualquer projeto nacional de desenvolvimento.
2.2 Teoria do Capital Humano
A partir da década de 1960, autores como Gary Becker (1964) e Theodor Schultz (1971) demonstraram que investimentos educacionais aumentam a produtividade do trabalhador e, consequentemente, a renda média das sociedades. A educação deixa de ser apenas direito social e passa a ser também um investimento econômico.
2.3 Eficiência dos sistemas educacionais
Pesquisadores como Hanushek e Woessmann (2012) comprovam, a partir de estudos comparativos internacionais, que não apenas o acesso, mas também a qualidade da aprendizagem é determinante para o crescimento econômico. Países com melhores resultados em exames como PISA tendem a apresentar PIB per capita mais elevado.
2.4 Desenvolvimento como liberdade
Para Sen (1999), a educação amplia as capacidades humanas e, por isso, constitui elemento central para o desenvolvimento sustentável. Não se trata apenas de gerar renda, mas de ampliar oportunidades reais de bem-estar, inovação e participação social.
Situação educacional do Brasil
Apesar de avanços significativos na universalização do acesso, o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais. Dados do INEP (2023) indicam que mais de 55% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental não alcançam níveis adequados de alfabetização. O PISA 2022 aponta que o Brasil permanece abaixo da média da OCDE em leitura, matemática e ciências.
A desigualdade territorial também é profunda: enquanto estados do Sudeste e Sul obtêm desempenho superior, regiões Norte e Nordeste enfrentam dificuldades de infraestrutura, formação docente e financiamento. A valorização dos professores permanece como um dos maiores gargalos, embora estudos demonstrem que a qualidade docente é o fator escolar mais determinante para a aprendizagem (Hanushek, 2011).
Adicionalmente, o nível de investimento em educação, que já foi de 6,6% do PIB em 2014, caiu para 5,8% em 2022 (OCDE).
Lições internacionais
4.1 Coreia do Sul
A Coreia do Sul é o exemplo mais emblemático de transformação nacional baseada em educação. Entre as décadas de 1960 e 1990, o país realizou um dos maiores investimentos proporcionais em capital humano da história. A taxa de escolarização secundária saltou de 27% para mais de 90%. Hoje, os coreanos figuram entre os líderes do PISA e apresentam economia baseada em alta tecnologia, com conglomerados como Samsung, LG e Hyundai.
4.2 Chile
O Chile, embora com desafios próprios, tornou-se referência latino-americana em governança e continuidade de políticas educacionais. Investimentos graduais em tempo integral, formação docente e avaliação sistêmica permitiram avanços significativos. Mizala e Romaguera (2002) analisam como o país consolidou instrumentos de gestão educacional e meritocracia institucional alinhados à melhoria de resultados.
Os exemplos demonstram que políticas bem estruturadas, contínuas e apoiadas por consenso social podem transformar a realidade educacional e econômica.
- Propostas para o Brasil
Com base nos diagnósticos apresentados, é possível delinear um conjunto de propostas estruturantes:
5.1 Alfabetização plena até os 7 anos
Implementar um Plano Nacional de Alfabetização com formação intensiva de docentes, materiais de qualidade e monitoramento contínuo.
5.2 Valorização da carreira docente
Plano nacional de carreira com piso digno, formação continuada e incentivos à dedicação exclusiva.
5.3 Expansão da educação integral
Adotar modelo de escola de tempo integral com currículo integrado e foco em competências acadêmicas, socioemocionais e tecnológicas.
5.4 Infraestrutura escolar e digital
Garantir conectividade de alta velocidade, laboratórios, bibliotecas atualizadas e manutenção preventiva.
5.5 Governança educacional
Criar mecanismos de gestão baseados em dados, metas claras e transparência, reduzindo descontinuidades políticas.
5.6 Integração entre educação, inovação e desenvolvimento regional
Fortalecer universidades, institutos federais e centros tecnológicos, alinhando formação profissional às demandas produtivas locais.
- Considerações finais
A educação continua sendo o principal vetor capaz de articular crescimento econômico, inclusão social e soberania nacional. Os exemplos internacionais demonstram que investir de forma consistente, séria e de longo prazo produz resultados concretos. Para o Brasil, transformar a educação em prioridade real exige visão estratégica, pacto federativo sólido e políticas públicas orientadas por evidências. Apenas assim será possível construir um projeto de país que garanta desenvolvimento sustentável e oportunidades para todos.
Referências
BECKER, Gary. Human Capital. Chicago: University of Chicago Press, 1964.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
HANUSHEK, Eric; WOESSMANN, Ludger. The Role of Education Quality in Economic Growth. World Bank, 2012.
INEP. Relatório Nacional de Alfabetização. Brasília, 2023.
MIZALA, Alejandra; ROMAGUERA, Pilar. Sistemas de incentivos en educación. Santiago: Universidad de Chile, 2002.
OCDE. Education at a Glance. Paris: OECD Publishing, 2022.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SCHULTZ, Theodor. Investment in Human Capital. New York: Free Press, 1971.
SEN, Amartya. Development as Freedom. New York: Knopf, 1999.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade

