Seu artigo mexeu profundamente com o meu imaginário, a ponto de me inspirar a escrever um complemento, que compartilharei ao final de sua postagem.
Pra que você quer essa foto? – Perguntou-me o homem simples, um, dessa linhagem de sertanejo que está findando. As novas gerações de sertanejos, não usarão no futuro, no seu cotidiano de idoso, um chapéu de couro surrado, não sustentarão os costumes simples, o jeito pacato de ser. O sertão que se apresenta, engolido pelo fenômeno da globalização, é outro. Vai ficando para trás uma geração que superou todas as adversidades, da água barrenta às longas distâncias montado em um burrinho. Que contava as luas e previa as chuvas ou estiagens do próximo ano. Vai ficando para trás um jeito de se comunicar, um sotaque, as práticas de muitos ofícios, conhecimentos ancestrais engolidos pelas distrações modernas.
E não estou falando da romantização do atraso e nem da pobreza. Falo das identidades, que são flutuantes, que mudam a todo tempo, mas que tem se esfacelado rapidamente numa homogeneização que vai igualando tudo. Em breve teremos espantalhos vestindo a fantasia do que fomos, e nós, outdoors das réplicas de marcas caras, teremos uma só cara, em qualquer lugar, em qualquer Estado. Ivan Santana.
Complemento Feito pelo editor Florisvaldo:
“Ivan, boa tarde! Li seu artigo e ele me tocou fundo. Sou de uma época em que o sertanejo que o senhor descreve ainda caminhava pelas estradas de terra, chapéu de couro marcado pelo sol, passos firmes e modos que o tempo ensinou. Vi, com meus próprios olhos, essa geração enfrentar a seca, medir o tempo pela lua, confiar na sabedoria passada de pai pra filho.
Hoje, acompanhando o século XXI, percebo que tudo mudou depressa demais. A modernidade chegou com força, levando embora jeitos, falas, gestos e costumes que, para muitos, podem parecer simples… mas para quem viveu aquilo, sabe que eram preciosidades. Não era romantizar a pobreza, era reconhecer uma identidade — algo que nos fazia únicos.
Lendo suas palavras, senti como se estivesse revisitando um pedaço da minha própria história. O sertanejo de antigamente está, de fato, ficando pra trás. E nós, que atravessamos duas épocas tão diferentes, vemos com certa tristeza esse mundo sendo engolido por uma uniformidade que deixa tudo parecido, sem alma.
Concordo plenamente: estamos virando vitrines de marcas, enquanto aquela autenticidade – aquela raiz forte que nos sustentou por gerações – vai se perdendo no tempo.
Seu artigo é um retrato fiel de uma mudança que tenho acompanhado de perto. E dói um pouco perceber que aquilo que fomos, talvez amanhã exista apenas em fotografias… ou na memória de quem viveu. Florisvaldo F Dos Santos”
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