Na convivência diária dos membros de uma família, onde tenha um mínimo de dois irmãos, muita coisa boa acontece no lar, inclusive os momentos agitados de brigas entre eles que os pais tentam administrar e cuja responsabilidade, quase sempre, recai mais sobre as mães, as eternas heroínas do dia a dia. Dentre tantas e tantas briguinhas durante a infância, quem não se recorda daquelas disputas que marcam de forma bem emblemática a força do ciúme e do desejo de imitação, ou quando já começa a se vislumbrar, na tenra idade, a luta pela igualdade de direitos, e a mãe quer dar um basta final em determinada brincadeira ou briga, e ouve o protesto: “Por que ele pode fazer e eu não?”. Essa pergunta impositiva deixa a mãe numa “sinuca de bico” para tomar uma decisão e que conclui, invariavelmente, por acabar de vez com a brincadeira ou a briga de ambos.
Nas rodas de conversas sobre o atual momento político brasileiro e os acontecimentos negativos que recheiam de escândalos imorais a vida política e econômica do país, vem ganhando corpo cada vez mais um triste conceito comportamental entre os debatedores, quando, ao invés de se unirem na reprovação dos crimes que são cometidos pelas pessoas investidas de cargos na administração pública ou de empresas estatais, o que se tem registrado são posições unilaterais em defesa do partido e do grupo político. Mesmo nas discussões entre amigos de longas datas, nota-se que não há espaço para uma análise criteriosa e imparcial em defesa de princípios de moralidade e correção, porque as paixões cegam os debatedores de tal forma que os contra argumentos a qualquer acusação sobre o que aí está ocupando as páginas dos jornais, os noticiários televisivos, 99% do tempo da Polícia Federal, todo o tempo de vários juízes e delegados que no Paraná se dedicam a ouvir depoimentos de dezenas de arraias graúdas dos empreiteiros nacionais e funcionários estatais, invariavelmente, partem para a lembrança das frases domésticas dos tempos de criança, quando dizem por analogia: “Por que o PSDB e o DEM podem fazer e o PT, o PMDB e o PP não?”.
Observe o leitor que esse é um leve episódio de infância que nos acompanha ao longo de toda a vida, tanto nos bons exemplos educativos que nos foram passados ou mesmo os oriundos do universo das brigas infantis. Ao invés de repudiar a prática dos erros, há uma tendência predominante de reclamar o direito de agir da mesma forma porque o outro praticou ou pratica determinado crime. Na crônica anterior já chamei à atenção para a prudência que a oposição deveria ter nas acusações aos partidos que se acham envolvidos (PT, PMDB e PP) pelo menos pelas citações até agora, porque “quem tem telhado de vidro não joga pedra no do vizinho” e ainda porque acredito na verdade do provérbio português que diz ser “tudo farinha do mesmo saco”!
Participei de uma amistosa conversa entre amigos, recentemente, e quando esperava solidariedade não na defesa de partidos, mas na execração de toda a bandidagem que aí está a defesa que ouvi foi a menção aos escândalos registrados em gestões anteriores, como época Collor, reeleição para cargos do Executivo, Mensalão Mineiro e outros mais, como forma de justificar os atuais. E o que ficava mais que evidente nas entrelinhas, era: “se eles fizeram por que nós não?”. Diante da minha reação afirmativa de que todos os culpados deveriam ser punidos, porque são todos iguais, ouvi uma sonora expressão de alívio: “Ah… Ah…!” Não era isso o que gostaria de ouvir, mas uma atitude de contestação e união contra as indecências que estão sendo cometidas, que precisam ser exorcizadas, urgentemente, da vida política e administrativa nacional, a fim de que se restabeleça o ideal de um Brasil diferente, cuja honradez e dignidade de cada cidadão possa nos identificar como uma nação de trabalho e respeito.
É triste e deplorável quando se usa os erros do passado como forma de defender e nivelar os crimes atuais. Pode-se até selecionar eventuais acertos de medidas do governo, que naturalmente existem, para defender os ideais que no princípio dessa caminhada inspiraram um projeto político, hoje, visceralmente vilipendiado, deturpado e corrompido pelos que deveriam defendê-lo. Concordo totalmente com o pensamento do jurista Modesto Carvalhosa, quando afirmou em entrevista à “Revista Dinheiro”: “A Operação Lava Jato está para o Brasil assim como a Operação Mãos Limpas, que praticamente acabou com a influência da máfia, esteve para a Itália. […] É evidente que estamos na “Operação Mãos Limpas” brasileira. Se não aproveitarmos este momento histórico para limpar e mudar os hábitos políticos no País, nunca mais faremos isso. Estamos diante de uma oportunidade única de acabar com a corrupção”.
Um leitor, que às vezes nos honra com a sua contribuição comentando nossos artigos, sugeriu, gentilmente, na última semana, que era “SÓ JUNTAR AS PROVAS E CORRER PARA A DELEGACIA, não é mesmo?!”, a propósito dos envolvidos na Operação Lava Jato. Mas isso não é necessário, leitor, porque a DELEGACIA da Polícia Federal juntamente com a Justiça Federal, já DISPÕE das provas e o mapa da lama. A nós basta a expectativa e a esperança de que a justiça seja feita, exemplarmente, mas não como ocorreu com o Mensalão, em que muitos dos envolvidos e condenados já se acham soltos!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 29/11/2014
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios
2 Comentários
Caro Agenor: Sempre votei no PT, mas isso não me deixa de olhos tapados e sei que os corruptos devem ser punidos sim, não importa o partido ou cargo que exerça. Torço sinceramente para que a nossa justiça se imponha e quem nos “roubou” pague na cadeia além de devolver o fruto do “roubo” aos cofres públicos. (Irecê-BA).
Agenor, este ponto que você aborda sobre os erros do passado me chama a atenção, pois se o atual partido que governa o país, que está sendo denunciado a todo momento por corrupção, não efetua nenhuma ação contra os anteriores , só posso acreditar em duas situações que a lógica me impões: ou os anteriores fizeram tão bem feito que não tem como descobrir, ou trata-se de apenas uma desculpa de quem está no poder para tentar diminuir sua responsabilidade. Seja o que for, nesta sua aula política a sua citação de usar os erros passados para justificar os erros presentes é a constatação do que ocorre no Brasil, e nas minhas palavras, as vezes um pouco contundentes, afirmo que estamos sendo governados por maus elementos. Qual o preço da corrupção? Os desfavorecidos o sabem. Mesmo sabendo, continuam com seus ídolos. Falsos e corruptos. Foz do Iguaçu-PR.