Os fundamentos que sustentam as instituições repousam sobre um bem invisível, mas essencial: a confiança. Quando essa coluna começa a ceder, o edifício da República se torna instável, e cedo ou tarde, irá desmoronar.
Nada mais evidente do que o processo corrosivo que hoje se instala nas relações entre os Três Poderes da República. Essa deterioração institucional alimenta uma crise que não é apenas política, mas também moral e social. Corrói silenciosamente os alicerces da democracia e ameaça o próprio sentido da República.
Os discursos não apenas elevaram o tom, mas também perderam o sentido da decência. O diálogo entre os Poderes se transformou em um campo de provocações. Em vez de construir pontes, multiplicam-se os muros. Não se busca a construção de novos tempos, de modo à sociedade consolidar níveis de cultura através do bom exemplo. O que mais se vê são xingamentos, gestos obscenos e outros tipos de baixaria vindos de cidadãos de aparente “bom nível”!
O brasileiro médio, cansado de promessas recicladas e escândalos repetidos, observa com desconfiança cada palavra proferida por quem ocupa o poder, seja de Esquerda ou Direita. A política virou um roteiro previsível, onde os escândalos se sucedem como capítulos de uma novela sem fim, e a impunidade já é personagem permanente. As instituições, que deveriam inspirar segurança, transformaram-se em palcos de disputas ideológicas e interesses pessoais. A gente não vê, mas se ouve dizer das mazelas praticadas em certos locais onde o poder emana de pessoas sem preparo algum para exercer certos cargos. O resultado disso, nem precisa citar!
Hoje, os discursos de palanque perderam a credibilidade. As promessas de mudança tornaram-se frases ocas, repetidas a cada quatro anos. O brasileiro vota descrente, paga impostos por obrigação e assiste à política com o mesmo ceticismo com que assiste às reprises de um velho drama nacional.
As instituições, por sua vez, estão mais dedicadas à disputa do protagonismo do que cumprirem sua vocação de garantidoras da legalidade e do equilíbrio. O que deveria ser a harmonia dos Poderes virou um duelo de vaidades. O eleitor, descrente, segue votando não por esperança, mas por um estado de paralisia mental. O voto, que já foi um gesto de fé na democracia, hoje é apenas um ritual obrigatório de quem aprendeu a esperar pouco e a desconfiar de tudo.
Nas redes sociais, o extremismo entre Esquerda e Direita substituiu o bom diálogo, e o debate político virou um campo de batalha onde a razão é a primeira vítima. Essa crise da confiança nacional vai além da política: ela mina a moral pública, enfraquece a coesão social e alimenta a descrença de toda uma coletividade. Quando o cidadão não acredita mais em quem governa, e quem governa não respeita quem o elege, a democracia entra em legítimo estado de êxtase desalentador…
E o mais deplorável em todo esse contexto, é que os atores que buscam ocupar o papel principal no mercado político, não sinalizam uma esperança de novos tempos, que poderiam advir do próximo pleito eleitoral de 2026. As velhas raposas não abandonam a sedução pelo Poder e assim não viabilizam o surgimento de revelações no quadro político que possam substituí-los. Como diriam os críticos mais mordazes: “Ninguém merece”!
Reconstruir a confiança nacional é o grande desafio de nosso tempo. Isso exige transparência, coerência e compromisso. “A CRISE DA CONFIANÇA NACIONAL” é o sintoma mais grave de uma sociedade exausta. Sem um claro projeto de reconstrução, continuaremos a assistir, de braços cruzados, ao lento desmonte da própria República, porque em decisão não pode ter paixão, principalmente aquela obsessiva que cega os apaixonados pelos falsos “mitos”, como temos assistido no Brasil ultimamente.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
2 Comentários
Caro Agenor, parabéns pela lucidez e profundidade ao escrever este editorial. Sua análise vai muito além da conjuntura política e institucional – ela toca o cerne de uma realidade que há tempos corrói o tecido moral do país.
Com sensatez, você expõe o quanto a confiança, esse bem invisível que sustenta a República, encontra-se fragilizada não apenas entre os Três Poderes, mas também no seio da sociedade civil organizada. Afinal, a crise de confiança não é monopólio das instituições – ela se manifesta nas relações cotidianas, na descrença generalizada, na intolerância e na perda da capacidade de diálogo.
Quando o cidadão deixa de confiar não só em quem governa, mas também em seus pares – nas lideranças, nos movimentos sociais, nas associações, na própria comunidade – o país entra num estado de paralisia cívica. E é justamente essa lucidez do seu texto que o torna tão relevante: ele não apenas descreve uma crise, mas provoca uma reflexão sobre o papel de cada um de nós na sua superação.
Mais do que um editorial, “A Crise da Confiança Nacional” é um alerta e um convite à reconstrução moral e cívica do Brasil.
MAIS UM ARTIGO POR DEMAIS IMPORTANTE E OPORTUNO. TUDO COM UMA NARRATIVA REALISTA, TRATOU DE ALGO QUE TODO GOVERNO DEVE TER: CONFIANÇA ACIMA DE TUDO! O PROBLEMA É: ELES RECEBEM A CONFIANÇA E DELA SE APROVEITAM… E MAIS, DEITAM E ROLAM EM PLENA LUZ DO SOL…