Por Florisvaldo Ferreira dos Santos
Enquanto torcedor do Glorioso Timão – Sport Club Corinthians Paulista, confesso: poucas sensações me deixam tão inquieto como ver o time vencendo por 2 a 0. Afinal, deveria ser motivo de calma, mas pra mim é o alerta vermelho: “vamos ao terceiro” ou “que termine logo”! Essa sensação eu chamo de Síndrome dos 2 x 0.
Não é superstição pura – é algo que vive no futebol. Já vi times abrirem 2 a 0, desacelerarem, pensarem que o jogo tá garantido… enquanto o adversário vai crescendo, se empolgando. Primeiro gol do adversário: o ritmo muda. Segundo: o empate, o desespero, os erros aparecem. E se continuar, poderá virar algo ainda pior. Isso aconteceu no jogo de hoje Japão x Brasil: o Brasil abriu 2 a 0, o Japão virou pra 3 a 2.
Por que 2 a 0 é um placar traiçoeiro
Dá ao time que está vencendo uma sensação de conforto, de que o trabalho está feito. O ritmo cai, decisões táticas mais defensivas, substituições que visam “administrar”.
O adversário, sabendo que ainda “só precisa de dois”, passa a jogar com mais liberdade, menos pressão inicial, busca espaços e acerta seu ritmo.
O placar de 2-1, depois de 2-0, é como um sopro de esperança: obriga quem está à frente a reagir, a manter concentração e trabalho duplo. E muitos times não conseguem.
A síndrome é só contra o meu time? Lógico que não, pois lembro de alguns exemplos históricos marcantes. Aqui vão algumas partidas internacionais que ilustram bem a virada partindo de um 2-0 (às vezes empate depois, às vezes virada), e em alguns casos goleadas:
- Chelsea 2-4 Bradford City (FA Cup, 2015): Chelsea estava vencendo por 2-0, mas Bradford City virou ainda no primeiro tempo e venceu 4-2.
- Liverpool × Bournemouth (Premier League, 2024/25): Bournemouth tomou dois gols de Everton no início, estádio lotado, relógio quase zerando, mas fez 3-2.
- Liverpool 4-3 × Bournemouth (2016-17): Liverpool liderava por 2-0 em Liverpool, mas permitiu a reação do time visitante, vencendo por 4-3.
- Outro exemplo: Arsenal 5-2 Tottenham (derby) quando o Arsenal já estava perdendo ou em desvantagem inicial – esse foi uma virada com vantagem maior, embora não seja exatamente “estar 2-0, perder por goleada”.
Exemplos brasileiros que se aproximam ou ilustram bastante a síndrome
Aqui vão alguns jogos do Brasil que ilustram bem a síndrome, com viradas depois de estar perdendo por 2-0, ou jogos em que isso causou drama:
Bragantino 2 x 5 Palmeiras (Paulista) – O Palmeiras venceu por 5-2 depois de sair perdendo por 2-0, inclusive com um jogador a menos. Uma virada histórica na casa do adversário.
Santos 4-5 Flamengo (Brasileirão de 2011) – O Santos abriu 2-0 cedo, mas o Flamengo conseguiu reagir e virou pra 5-4, um clássico tempo de virada intensa.
Ponte Preta 4 x 3 Atlético Mineiro (Brasileirão 2001) – O Atlético abriu 2-0, mas depois o jogo foi muito dramático, com virada.
Vitória 3 x 4 Goiás (Brasileirão 2003) – Vitória fez 3-0, Goiás reagiu e venceu por 4-3, embora não seja exatamente “o time que estava 2-0”, mas serve para ver como uma desvantagem pode virar.
Na vida, assim como no futebol, nada está garantido até o apito final. Há momentos em que achamos que já “estamos ganhando” – o emprego certo, o relacionamento estável, o projeto encaminhado – e deixamos de manter o esforço, esquecemos que sempre pode haver vento contrário. A “Síndrome dos 2 x 0” nos ensina que é preciso humildade, persistência e foco até o último minuto. Porque até o placar mais confortável pode virar pesadelo se deixarmos de acreditar – e, às vezes, se deixarmos de lutar.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
1 comentário
Florisvaldo, eu também não confio.
E o pavor já começa quando passa dos 2 X 0 para o Placar de 2 x 1!
Já começo a enxergar o 2 x 2 próximo!
E isso aconteceu no jogo Japão contra o Brasil no dia de ontem!!