Por mais que alguns se esforcem em ocultar essa verdade, é indisfarçável ver como as práticas democráticas sofreram, nos últimos tempos, uma visceral mudança conceitual. Passou a ser proibitivo alguém assumir postura contrária ou de combate aos princípios nocivos que abastecem a sustentação do Projeto de Poder do partido dominante. Tantas foram as justas lutas no passado pela liberdade em todos os sentidos, que era de se imaginar que a conquista do poder se revelaria uma forma exemplar de convivência com as divergências e o respeito ao direito inalienável do pensamento livre de qualquer cidadão, sobretudo, quando ele se materializa no combate ao crime infiltrado nas instituições públicas.
Mas, a verdade tem sido outra, com um grande contingente de pseudo-intelectuais que, ao invés de usarem argumentos convincentes que defendam as causas inglórias de uma inepta gestão pública, preferem buscar justificativas de amparo aos erros cometidos, além de desrespeitarem aqueles que exercitam o direito de se manifestarem livremente. E, como se não bastassem as atitudes isoladas dos sectários, ainda há correntes do governo que querem aprovar uma lei de controle das comunicações, o que significa instituir um desastroso modelo de censura à imprensa, cuja anomalia é típica das ditaduras que tanto combatem da boca pra fora, a exemplo de Cuba e Venezuela.
O grande desencanto em que vive toda a sociedade brasileira diante do baixíssimo nível de moralidade de que se reveste o comportamento das pessoas, com maior evidência nas atitudes dos principais agentes que atuam nas instituições públicas em geral, desde os mais expressivos às arraias miúdas, sinaliza, permanentemente, a expectativa de que uma luz seja acesa no final do túnel, indicando que tudo isso é temporário e de que algo de novo irá acontecer nesse deplorável cenário. Tenho por dogma respeitar as posições contrárias, mas continuarei atento aos fatos que embalam esse barco à deriva…
Naturalmente que isso não surgirá do nada, sem que haja uma ação firme de alguma liderança comprometida com essas transformações, e que tenha o poder do convencimento na implantação de conceitos para uma nova sociedade. Precisamos de uma completa OPERAÇÃO DE LAVAGEM MORAL, de modo que surja do além uma nova República, constituída de homens de bem e de respeito.
Lamentavelmente as nossas lideranças têm nos passado um sentimento de aceitação desse perfil vigente, como se fosse suficiente o investigar e punir (este último, aliás, nem sempre acontece!). Por exemplo, nas oportunidades em que as autoridades mais representativas falam para grandes platéias ou dão entrevistas coletivas, nada melhor que palavras mais incisivas fossem colocadas, expressando esse desejo de mudança comportamental. Ao invés disso, utilizam-se das frases de efeito que provocam risos de aprovação, mas que nada constroem de positivo. Está em curso o julgamento de alguém envolvido naquela famosa operação onde, praticamente, todos os condenados – e até presos! – estão, um a um, sendo inocentados! E aí vem a velha máxima do ditado popular: “que meter a mão no alheio, compensa…!”
A triste realidade que envolve o Brasil do presente produz um sentimento de desencanto e desesperança no cidadão brasileiro. Esse estado de ânimo decorre do fato de que o universo político não se renovou, e o que vemos aí são as velhas raposas apenas seduzidas pelo poder.
Embora o cenário político não contribua positivamente para um desejado processo de reconstrução nacional, é preciso acreditar que nas futuras eleições o eleitorado demonstre que não perdeu a consciência de suas responsabilidades ao utilizar o forte e honrado instrumento do voto, na escolha dos seus governantes.
De uma vez por todas, o eleitor tem que ter uma conscientização permanente de que, somente através dele, alguma coisa poderá ser feita ou, ao contrário, absolutamente NADA mudará.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com imparcialidade
9 Comentários
Caro Agenor, bom dia!
Como sempre, o título e o editorial são irretocáveis.
A corrupção é uma questão persistente nas sociedades de todo o mundo. Ela mina a confiança pública, distorce a justiça e prejudica a coesão social. Para compreender essa questão complexa, analisei e refleti sobre as obras de sete filósofos que oferecem suas perspectivas particulares sobre a natureza, as causas e as implicações da corrupção. Suas visões, embora variadas, lançam luz sobre um problema que perdura através das eras e que, lamentavelmente, ainda aflige nosso tempo.
Veja:
1 -Nicolau Maquiavel: A Natureza da Corrupção Política
Nicolau Maquiavel, o icônico pensador político renascentista, é frequentemente associado à frase “os fins justificam os meios”. Em sua obra “O Príncipe,” ele não apenas descreveu a natureza da política, mas também iluminou as táticas muitas vezes imorais usadas pelos líderes. Maquiavel não necessariamente advogava pela corrupção, mas reconhecia sua presença na política e como líderes podem ser compelidos a agir de maneira corrupta para manter o poder ou alcançar objetivos.
Para Maquiavel, a corrupção política não era uma aberração, mas uma manifestação natural da luta pelo poder e da natureza humana. Ele desafiou a visão idealizada de governantes virtuosos e argumentou que, em um mundo imperfeito, a corrupção era uma realidade com a qual se deveria lidar.
2 – Jean-Jacques Rousseau: Corrupção como Desvio da Vontade Geral
Jean-Jacques Rousseau, o filósofo do Iluminismo, contribuiu com uma perspectiva diferente. Em sua obra “O Contrato Social,” ele explorou o conceito de vontade geral, que representa os interesses coletivos de uma sociedade. A corrupção, de acordo com Rousseau, surge quando os líderes agem em desacordo com a vontade geral, priorizando interesses próprios ou de grupos específicos.
Rousseau via a corrupção como uma distorção do propósito da política: servir ao bem comum. Em seu entendimento, a corrupção ocorre quando os líderes se afastam da missão de representar o povo e, em vez disso, buscam benefícios pessoais ou servem a interesses particulares.
3 – Immanuel Kant: A Corrupção como Violência Moral
Immanuel Kant, um dos filósofos mais influentes da história, oferece uma perspectiva moral sobre a corrupção. Em sua obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes,” Kant introduz o imperativo categórico, que exige que a ação seja universalizável, ou seja, uma pessoa deve agir de tal forma que todos possam seguir o mesmo princípio.
Kant via a corrupção como uma violação desse imperativo. Quando um agente público aceita subornos, subverte a moralidade universal, agindo em seu próprio interesse e prejudicando o bem-estar geral. Kant considerava a corrupção como uma forma de violência moral, minando a base ética da sociedade.
4 – Hannah Arendt: A Banalidade da Corrupção
Hannah Arendt, filósofa política do século XX, explorou o conceito de “banalidade do mal” em sua obra “Eichmann em Jerusalém.” Embora seu foco principal fosse o Holocausto, suas ideias podem ser aplicadas à corrupção. Arendt argumentou que o mal muitas vezes surge da inércia e da conformidade com estruturas de poder.
A corrupção, vista através da lente de Arendt, pode ser banalizada quando as pessoas, incluindo funcionários públicos, aceitam a corrupção como parte da rotina, sem questionar ou resistir. Ela nos alerta sobre os perigos de uma sociedade que permite a corrupção se tornar uma norma aceitável.
5 – Karl Marx: Corrupção como Produto do Capitalismo
Karl Marx, conhecido por sua crítica ao capitalismo, via a corrupção como um subproduto do sistema econômico. Em sua análise, o capitalismo fomenta a busca implacável por lucro, levando a práticas corruptas. A competição intensa e a acumulação de riqueza criam incentivos para a corrupção.
Para Marx, a corrupção não era apenas um desvio moral, mas uma consequência inevitável do sistema. Ele argumentava que, sob o capitalismo, os indivíduos seriam levados a agir de maneira corrupta para manter ou ampliar sua riqueza.
6 – Søren Kierkegaard: Corrupção como Desespero Existencial
O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard trouxe uma abordagem existencial à corrupção. Ele argumentava que a corrupção não era apenas uma questão moral, mas também um sintoma de um profundo desespero existencial. Para Kierkegaard, o ser humano corrompe a si mesmo quando age de maneira inautêntica, negando sua verdadeira natureza.
Kierkegaard via a corrupção como uma forma de desespero, onde os indivíduos se alienam de sua própria autenticidade, buscando ganhos pessoais às custas de outros. Ele acreditava que superar a corrupção envolvia uma jornada de autoconhecimento e autenticidade.
7 – John Stuart Mill: Corrupção como Abuso de Poder
O filósofo utilitarista John Stuart Mill oferece uma perspectiva de corrupção baseada no abuso de poder. Mill defendia o princípio da utilidade, que avalia as ações com base na maximização do bem-estar geral. Ele via a corrupção como prejudicial à sociedade, uma vez que envolve agentes públicos agindo em seu próprio interesse, em detrimento do bem comum.
Mill argumentava que a corrupção era um abuso de poder, onde aqueles em posições de autoridade usavam sua influência para ganho pessoal. Ele via a transparência e a prestação de contas como antídotos para a corrupção.
Filósofos Iluminam a Complexidade da Corrupção
As perspectivas de filósofos renomados oferecem uma compreensão multifacetada da corrupção. Desde a visão de Kant sobre a violência moral até a análise de Marx sobre o papel do capitalismo, esses pensadores nos lembram que a corrupção é um fenômeno complexo com raízes profundas na moral, política e sociedade. Reconhecer e entender essas origens é o primeiro passo para combater a corrupção eficazmente. As lições desses filósofos destacam a importância de construir instituições éticas, promover a igualdade e garantir a responsabilidade na esfera pública. Somente através do esforço conjunto da sociedade e do compromisso com o bem comum podemos aspirar a um mundo menos corrupto.
Fonte: https://pt.linkedin.com/pulse/sete-fil%C3%B3sofos-explicam-corrup%C3%A7%C3%A3o-meritum-compliance-tool-wxnxf
A ilustração perfeita. O conteúdo do Artigo mais perfeito ainda. Todas as verdades foram todas muito bem ditas…!!! A vergonha pede passagem…
Pois é, aqui no Brasil, ainda temos a ideia de admirar o “patrão” e votar nele e, de seguir apoiando as ditas famílias “tradicionais” de políticos, desde os primeiro tempos de nação democrática. (Salvador-BA).
Realmente é um vício que não tem cura. (Irecê-BA).
Acho que não veremos essa praga acabar, tá no sangue dos políticos. Bela crônica, amigo Agenor. Parabéns. (Salvador-BA).
Bom dia colega. Muito bom! Essa é a pura verdade. (Maracás-BA).
Você, Agenor, me representa, com suas lógicas. Aprecio seus textos sempre direcionados à razão. Com essa juventude totalmente doutrinada, intencionalmente e ao modo deles, acho muito difícil chegarmos lá, mas… como nunca devemos perder a esperança! (Miguel Calmon-BA).
Infelizmente, testemunhamos, hoje mais do que antes, uma parcela considerável de representantes dos mais corruptos e ambiciosos, atuando nas Casas Legislativas Estaduais e Municipais e, o que é grave, igualmente no Parlamento Nacional. Sabe-se, de longa data, que o Congresso, com tamanha virulência, é comandado por um gangster insaciável! Some-se a tal descalabro, assistimos, perplexos, às anuências inaceitáveis de alguns membros governamentais, os quais, em nome de uma dita governabilidade, isentam-se de suas obrigações. Que Deus nos proteja!
A mudança está nas crianças se modificarmos a estrutura de ensino.
Voltarmos a valorizar a nossa bandeira, a educação religiosa verdadeira, o respeito aos nossos valores. (Salvador-BA).