Obviamente, que esse título tão sugestivo publicado no mês de junho de 2017, vai nos trazer à lembrança um dos fortes componentes culturais que integram essa FESTA DE SÃO JOÃO do Nordeste Brasileiro: a QUADRILHA! Mas, a mente de cada um anda tão corrompida com tantas maledicências que permeiam o em torno da nossa vida, na atualidade, que logo ficamos assustados com a possibilidade de que seja uma das muitas quadrilhas que integram o universo político brasileiro, já há alguns anos!
Recordando, nos bons tempos que marcaram várias gerações, e fizeram a alegria quase ingênua de muitos sorridentes nordestinos, a tradição cultural das Quadrilhas enchia de beleza e encanto os festejos de São João na maioria das cidades do interior e em algumas capitais do Nordeste.
Visto que a Lei 14.900 aprovada pelo Senado Federal foi sancionada pela Presidência da República, reconhecendo a “Quadrilha Junina” como manifestação cultural nacional, espera-se que ela volte a ser reincorporada às festas de São João em todo o Norte e Nordeste do Brasil.
Lembro-me, com certa nostalgia, dos bons e saudosos tempos de Uauá, em que logo após a novena ao Padroeiro São João Batista, o povo, disciplinadamente, já se postava em torno da quadra para o “Concurso de Quadrilha”, onde concorriam escolas e colégios da sede e do interior, todos imbuídos de uma pura vibração em defesa do nome da sua escola.
A propósito, recordo-me que no belíssimo São JOÃO da cidade de Uauá, uma das regras históricas convencionadas ao contratar uma banda, era a condição de só tocar FORRÓ. No entanto, testemunhei na última festa – da qual acabo de retornar -, que algumas bandas contratadas para os shows, o que menos fizeram foi tocar e cantar o legítimo forró, fato objeto de repúdio por parte de muitos visitantes tradicionais. Impossível, não citar aqui frases do ilustre “Cidadão Uauaense”, o Professor Roberto Dantas – Historiador/Documentarista/Escritor -, que lá esteve em Uauá, contidas na sua crônica “REFLEXÕES JUNINAS – UM HUMILDE PEDIDO”, onde assim se manifestou de forma clara e objetiva sobre o assunto:
“Uauá… é recanto privilegiado de inúmeros e tão talentosos artistas e sempre teve nos festejos juninos o seu grandioso momento de efervescência musical e de fervor religioso. […] Nada contra o novo, nada, em particular, contra ritmos e produções estilizadas! Nada! Todavia, não é justo que artistas, inclusive os da terra, sejam preteridos ou tenham menores tempos de apresentações, ou mesmo recebam menores cachês. […] Mestre Cavachão e Nilton Freitas bem sabem do que aqui, educadamente, denuncio e reclamo. […] Peço, humildemente, que atentem para a imperativa preservação da cultura popular tão bem representada pelos artistas dessa nossa querida Terra dos Vagalumes, que reflitam com inteligência e, consequentemente, propiciem a justa visibilidade dos seus artistas ou que, com competência, para Uauá tragam artistas e grupos mais condizentes à saudável algaravia junina!”
Solidarizo-me, na íntegra, com tudo que foi denunciado pelo emérito Professor Dantas. Ninguém se desloca de suas cidades para o interior, durante o São João, para ouvir ou dançar ritmos de arrocha, calipso, funk, samba, frevo ou rock. O artista Cavachão, pela idade e enorme número de composições de forró em que exalta o nome de Uauá, bem como os jovens e bons artistas Nilton Freitas e Renan Mendes – todos, filhos da terra -, deveriam merecer o respeito e prioridades na programação, mesmo que a Prefeitura tenha terceirizado a organização e execução da festa. O que aconteceu no palco, pelo menos com Cavachão e Nilton, foi vergonhoso e decepcionante!
Mas, caro leitor, como tudo nessa vida sofre um processo de aperfeiçoamento para o bem ou para o mal, surgiram, no cenário nacional, outras quadrilhas que não tem a leveza da dança e da simplicidade, mas tem a habilidade de agirem nos bastidores com as mãos sujas sobre o dinheiro público.
Essas reflexões devem contribuir de maneira positiva para uma reorientação dos novos rumos que pretendemos para a preservação dos valores culturais e folclóricos do nosso País. “Salve o Sertão! Salve Uauá!”
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
7 Comentários
Disse a verdade, meu amigo, o São João que nós conhecemos não existe mais, foi desvirtuado. Bela crônica. Parabéns. (Salvador-BA).
Nota 1000! (Feira de Santana-BA).
Excelente artigo! O São João de hoje discrimina os forrozeiros em favor desses artistas que recebem grandes cachês. Lamentável. (Salvador-BA).
Plenas realidades e plenas verdades. Está tudo estilizado e misturado. E ao final nada de Junino, mas só aquilo que o dinheiro quer…
Muito bom! Salve Uauá. (Salvador-BA).
Adepto das antigas, tradicionais e originais “FESTAS JUNINAS” com seus sanfoneiros de 8 a 120 baixos abrilhantando as quadrilhas após a queima das fogueiras, me sinto um peixe fora d’água ao participar de um show com essas modernidades e sofisticação.
Ressalvados as devidas proporções, faço das palavras do Agenor, escritor e do ilustre Cidadão Uauaense, Roberto Dantas, as minhas próprias palavras, uma vez que os relatos são feitos por alguém com profundo conhecimento de causa.
Parabéns, por mais uma crônica revestida de nossa realidade! Permito-me, outra vez, emitir meus parcos comentários, como a seguir:
Se “logo ficamos assustados com a possibilidade de que seja uma das muitas quadrilhas que integram o universo político brasileiro, já há alguns anos!”, é, perfeitamente, natural, pois são quadrilhas de políticos o que medra, em grande escala, em nosso País!
“Lembro-me, com certa nostalgia, dos bons e saudosos tempos de Uauá”. Este comportamento salutar era o normal em todo o Nordeste, mas com a razia desbragada da música estranha às festas juninas, principalmente, às joaninas, o cultural passa a ser supérfluo.
Isto se deve à influência da mídia, principalmente a televisiva, máxime a Globo, exímia em massificação e assentada no ‘quanto pior melhor’, a juventude de hoje foi manipulada para aceitar os ritmos barulhentos, de cunho, eminentemente, comercial, sem a essência da música e sem a poesia e sem a historicidade das letras.
As frases ‘contidas na sua crônica “REFLEXÕES JUNINAS – UM HUMILDE PEDIDO”’ são compostas de pura necessidade para preservação da cultura nordestina. As colocações das “REFLEXÕES JUNINAS” são bem pertinentes, pois nosso Nordeste é pródigo na produção de cantores e músicas destinados aos festejos juninos e joaninos – festejos que são quase uma religião. Note-se que até o Carnaval está sendo maculado com as intromissões desses ritmos despropositados.
A propósito destas assertivas, aliado à observação que os artistas filhos da terra , tem-se outro desprestígio para com eles: enquanto os cantores dos “ritmos de arrocha, calipso, funk, samba, frevo ou rock” recebem uma fábula, a esses artistas nativos é pago um valor irrisório, considerando a época e a qualidade deles. Diga-se, ademais, que esse descaso com a cultura nordestina – cultura personificada em suas músicas e em seus cantores – deve-se à gana dos políticos à cata de votos, porquanto a massa juvenil que se identifica com aqueles ritmos divorciados dos festejos juninos/joaninos, é altamente considerável. E os políticos regionais investem nessa fatia de desavisados, ou ignorantes políticos.
São quadrilhas que se multiplicam como ratos. (Maceió-AL)