Cena da tragédia que resultou na morte do Senador José Kairala, em 1963
É comum se ouvir entre as pessoas, com muita frequência, um tipo de comentário que parece ser a síntese de uma concordância diante da ocorrência dos fatos do dia a dia: “como os tempos mudaram”! A expressão justifica muitos acontecimentos, principalmente aqueles decorrentes do processo de evolução tecnológica que, efetivamente, impressiona e impacta pela grandiosidade dos avanços que apresentam.
Contudo, em meio a todo esse universo de maravilhas que mexem com as nossas emoções, algum detalhe sempre ocorre que quebra o sentido de unanimidade das coisas. O mais surpreendente é que exatamente o ser humano que é o responsável por tantas e tão extraordinárias mudanças, é o principal responsável pelo lado negativo que infelicita e envergonha a tanta gente.
As tragédias criminosas ocorridas em escolas, tem trazido dor incomensurável e uma permanente preocupação para os pais, os professores e alunos, porque não dizer para a própria sociedade, diante do grau de absurda violência de que se reveste esse tipo de crime.
Dentre tantos outros maus exemplos, há um que pela natureza de sua origem, fere os nossos sentimentos ter de desenvolver uma reflexão sobre ele. Reporto-me a históricos e repetidos atos de violência ocorridos no CONGRESSO NACIONAL!
Sim, o leitor não leu errado, nem houve falha de digitação. Nem tão pouco estou me referindo a debates verbais contundentes na Tribuna ou no Plenário em defesa de teses, que são as atribuições pertinentes ao desempenho da função parlamentar. O que causa repúdio são os exageros e a violência presentes no comportamento de certos Deputados e Senadores, inclusive com o uso de armas, que desqualificam a imagem de um dos importantes Poderes da República.
Vejamos alguns registros negativos que desvirtuam essa história:
- Em 1929, quando a Câmara Federal ainda era sediada no Rio de Janeiro, Capital do Brasil à época, uma discussão áspera entre os deputados Souza Filho e Simões Lopes, este último, que estava armado, disparou dois tiros contra o Souza Filho, que morreu no local.
- Em 08/06/1967, o Deputado Estácio Souto Maior, pai do piloto Nelson Piquet deu um tapa no Deputado Nelson Carneiro, que revidou mais tarde, em frente à agência do Banco do Brasil, no salão inferior da Câmara. Com um revólver calibre 38, Nelson Carneiro baleou Estácio Souto Maior, que mesmo atingido pelo tiro, conseguiu revidar o disparo. Não houve morte.
- Em 4 dezembro de 1963, quase 60 atrás, o Senador Arnon de Melo, pai do ex-presidente e atual Senador Fernando Collor, puxou o gatilho em plena sessão do Senado Federal, na tentativa de atingir o seu desafeto político e pessoal em Alagoas, também Senador, Silvestre Péricles. Era uma conjuntura política tão acirrada, que culminou numa tragédia. Arnon elegeu-se senador em 1963. No dia 4, Arnon de Melo pediu licença para direcionar sua fala “ao nobre senador Silvestre Péricles”, que o teria “ameaçado de morte”. Silvestre gritou: “Canalha! Crápula! Cafajeste!”, foi o momento em que Arnon sacou a arma e efetuou três disparos em plena sessão. Silvestre jogou-se ao chão, puxou a sua arma, mas, o Sen. João Agripino o impediu de atirar. Os tiros atingiram e mataram o Senador José Kairala, do PTB do Acre, que havia sido recentemente empossado como suplente, e sem qualquer envolvimento com a guerra entre eles.
- Em episódio recente (29/03/23), os Deputados Federais André Janones(Avante-MG) e Alberto Fraga (PL-SE) discutiram durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal. Fraga, ao citar uma ofensa homofóbica que Janones dirigiu ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) na sessão dessa terça (28), e acrescentou: “Não uso chupeta, uso revólver, pistola”. Janones, então, usou sua vez na tribuna para falar que estava sendo ameaçado de morte.
Só falta o uso do cavalo para chegar ao cenário onde se desenvolve, efetivamente, UM FAROESTE PARLAMENTAR, para cujo filme já há atores sobrando, ou seja, só falta a trilha sonora, cujo título deveria ser: Desrespeito ao Povo! Quanto às atitudes violentas, grosseiras e deseducadas de alguns parlamentares, passam distante da polidez do próprio animal citado!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 07/05/2023
13 Comentários
Pois é caro Agenor!
Independente da evolução tecnológica e civilizada que vivemos no mundo de hoje, a ira e a pólvora (talvez um pouco mais eficaz), ou mesmo alguém usando chupeta, não são tão diferentes dos anos 1929, 1963 e 1967, muito bem detalhados por você.
O episódio de 29/03/23, teve praticamente o mesmo desfecho do ocorrido em 19/04/23, ocasião em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) partiu para cima do deputado Dionilso Marcon (PT-RS) durante reunião da Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (19).
Se não fosse a turma do “deixa disso” ou aquela tática “me segura se não eu vou…” o deputado teria cumprido o que prometeu: “Te enfio a mão na cara”.
Peço que não fique dando a ideia do uso de cavalos para chegar ao cenário em que efetivamente pode ocorrer UM FAROESTE PARLAMENTAR.
Faz todo sentido o seu artigo, Agenor. Duro é admitir que algumas agressões também fazem sentido, como aquela, há 8 anos, em que o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) cuspiu na cara do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) durante a sessão de votação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
De acordo com o próprio Wyllys, ele foi insultado e respondeu com um escarro na mosca (literalmente, inclusive): “Na hora em que fui votar, esse canalha decidiu me insultar na saída e tentar agarrar meu braço. Quando ouvi o insulto, devolvi com um cuspe na cara dele, que é o que ele merece”, destacou à época o deputado do PSOL.
Talvez se o troco pudesse ser mais elaborado, teria sido sob a forma de vômito. (Maceió-AL)
Felicito-o por tão sábias palavras. (Salvador-BA).
E querem manter a arma no coldre, para matar mais gente. Canalhas de congressistas hipócritas. (Rio de Janeiro-RJ).
Esse faroeste foi também alimentado pelo desqualificado que “dirigiu” a nação, posando inclusive com crianças em poses de armamentos. (Salvador-BA).
Parabéns, Agenor. Faltou lembrar da Lurdinha do deputado Tenório Cavalcanti, que ganhou a sua “Lurdinha” do general Góis Monteiro. Ele comandou o império do terror na Baixada Fluminense. (Salvador-BA).
Amigo,o que causa decepção é o que o governo atual está tentando fazer: inibir a liberdade de expressão. Isso é uma vergonha!! (Salvador-BA).
Carissimo Ir:. e colega Agenor. Infelizmente é uma grande verdade. Na falta de argumento o suposto ofendido usa a truculência. Noel Rosa compôs uma música que dizia:
“Naquele samba animado
surgiu alguém apressado que cantando assim dizia no século do progresso o revólver teve ingresso pra acabar com a valentia”.
(CITEI DE MEMÓRIA e pode haver diferença com o original, mas em síntese é isto aí).
O pior é que muita gente apoia esta teoria. É um atraso muito grande. Mas é o povo que bota essa gente no Congresso. Deveriam proibir que alguém, parlamentar ou não, entrasse armado no recinto do Congresso Nacional. No caso do Senador Nelson Carneiro quase que acertam o pessoal do BB (a agência ali era aberta, sem paredes, só o balcão). É uma vergonha. Parabéns pela crônica. (Brasília-DF)
POIS É. Elegemos e pagamos TUDO para eles para sermos decepcionados como podemos constatar pelos os fatos narrados nesse Artigo muito oportuno.
Muitíssimo bem feita pelo nosso mestre Agenor, a narrativa do vergonhso comportamento de épocas passadas e as recentes daqueles(as) que se julgam nossos(as) verdadeiros e legítimos (as) representantes, inclusive, colocados por nós no maior Parlamento Nacional. Como complemento à esta brilhante cronica semanal, gostaria de descontrair nossos(as)leitores(as) assiduos(as) contando uma anedota que recebi de um internauta amigo através do porreta do nosso Wast Zap. Uma certe feita um determinado turista ao passar próximo à porta do Congresso Nacional sem entender o que efetivamente estava acontecendo quando um senador dia seu pilantra; depois ouvia seu cafajeste; seu vigarista;seu vagabundo;seu picareta Vai o turista e procura saber do segurança do Congresso porque estava acontecendo toda aquela bacharia. Gentilmente o segurança explica dizendo: Nada demais conterrâneo amigo!! A sessão ainda não começou, e o presidente está fazendo à chamada nominal dos senhores senadores presentes. srsrsrsrsrs..
COLABORAÇÃO E COMPLEMENTOS DE:
José Deusimar Loiola Gonçalves
Técnico em Agropecuária (Funcionário Publico Aposentado- Extensionista do Governo do Estado de nossa linda e extennsa Bahia); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas; Licenciado em Biologia; Pós Graduado Em Gestão Educação Ambiental, e Tecnólogo em Apicultura e Meliponicultura.
Zap: (75) 99998-0025 (Vivo) .
Blog: https://www.portaldenoticias.net/deusimar
O que tem acontecido é pior que o faroeste. Fatos que tem ocorrido, em especial, nos últimos 4 anos, que nos enojam.
Quem dera se nesse cenário, estivesse o CLIN EASTWOOD, pistoleiro sem nome, YUL BRYNNER, STEVE McQUEEN, CHARLES BRONSON e outros como no filme Sete Homens e um Destino, que lutavam para defender o povo, em especial os mais vulneráveis.
O que estamos vendo na farra de nossos políticos, não é um faroeste, é um verdadeiro filme de terror. (Vitória da Conquista-BA).
Muito bom!
Chega a ser engraçado. Se não fosse verdadeiro e vergonhoso! (Rio de Janeiro-RJ).
Esta crônica mostra, claramente, uma realidade nacional: a ganância pelo poder. Entendo que toda agressão à pessoa é crime. Seja agressão com uma arma (pistola, faca, revólver…), com uma caneta assinando Leis, perseguindo, condenando, descondenando, sem respaldo legal…; seja por ato omissivo ou comissivo…
Portanto, todo crime, deve ser punido, sem benesses a partidários, apaniguados, familiares, pois todos estão sob a égide da Lei. Lei que, infelizmente, em nossos dias, enquadra-se em um conceito pejorativo: “Lei é uma tela que prende moscas e deixa escapar gaviões.” (Maceió-AL).