Minha mãe, que não era alfabetizada, mas que sabia ler o mundo, costumava dizer que seu maior desgosto era não ter tido a oportunidade de aprende a ler. Da sua numerosa família, somente uma das irmãs fora alfabetizada, porque saía escondido para à casa de uma professora. Muitas, da sua geração e das que lhes antecederam, não tiveram acesso ao ensino formal. A educação chegou tardiamente nesse país, sobretudo para as populações mais pobres, das grandes periferias de metrópoles, às periferias de sertões e rincões.
Com muito sacrifício, todos os meus irmãos cursaram o ensino médio. Dentre os oito, eu sou o único que conseguiu cursar uma faculdade. Estudar nunca foi fácil pra muita gente. E o analfabetismo desse país é fruto de muitas mazelas, de um projeto pensado para manter os menos favorecidos como gado de corte, que se marca, tange e abate.
Esse senhor da foto, é José Francisco do Carmo, 89 anos. Esse ano ele voltou a estudar. Está na EPJAI – Educação Para Jovens, Adultos e Idosos, na escola Esc Ayrton Oliveira de Freitas, de Monte Santo.
Seu José, com quase um século de vida, tenta resgatar aquilo que o Estado lhe negou, oportunidade para estudar. A oportunidade de estudar precisa estar atrelada à uma família com oportunidade de trabalho, para que a criança ou adolescente, muito comum por aqui, não precise conciliar seu tempo de estudos com trabalho. Porque não é fácil passar o dia descarregando carros de mercadorias, ou trabalhando como ajudante de pedreiro, e ainda encontrar força e vontade para encarar a escola à noite, enquanto outros tem o privilégio de se dedicar inteiramente aos estudos.
Que toda comunidade escolar aprenda com o conhecimento e sabedoria de seu José. Soube que essa semana ele não levou uma maçã para a professora, mas um pé de arruda.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 03/04/2023