O Brasil é um País privilegiado, tradicionalmente, pelos comentários positivos dos turistas que nos visitam, visto como um povo simpático, receptivo e acolhedor, como poucos no mundo. Essa manifestação é visível no entusiasmo que sempre exteriorizam, não somente dando relevância ao encanto de nossas belas praias e à beleza de um sol sempre constante, mas, pelo perfil alegre, espontâneo e festivo dos brasileiros.
Sem discriminar qualquer outra região desse imenso território, o nosso Nordeste, e a sua gente, particularmente, centraliza as boas qualidades de simplicidade, harmonia e o bem servir, indispensáveis ao bom convívio social e turístico.
Não obstante essa avaliação corrente, no último dia 28/02 fomos surpreendidos por uma fala grotesca – não se pode chamar isso de discurso – de um certo vereador de Caxias do Sul, chamado de Sandro “Fantasmel”, que, em arroubos de covardia, usou da tribuna da Câmara para vomitar impropérios deseducados, ofensivos e preconceituosos contra os nordestinos e, em especial, ao povo baiano. Com certeza aquele brutamonte nunca veio ao Nordeste, tampouco à Bahia.
Mesmo com as péssimas condições gerais subumanas do alojamento de Bento Gonçalves, onde estavam acomodados os 207 operários, dos quais 198 eram baianos, localizados e vistoriados pela Polícia Federal e os órgãos de proteção ao trabalhador do Rio Grande do Sul, o infeliz vereador tripudiou sobre essa realidade, com palavras desabonadoras, revertendo sobre os operários a culpa de tudo. Ou seja, para a dimensão das tremendas diatribes ditas, aquele individuo foi de uma incivilidade sem precedentes, talvez querendo defender as empresas de sua região ou, quem sabe mesmo, fazer uma média política com prováveis interesses.
A falta de coragem e dignidade do tal vereador, ficou bem evidente quando, diante do escândalo nacional causado, procurou justificar o que disse: “Quando a gente está no calor da fala, […] a gente diz palavras que não é o que a gente quer dizer, que não representa a gente. A única coisa que eu disse dos baianos é que eles gostam só de tocar tambor e ficar na praia, né”.
Como o julgamento da sua insensatez estará a cargo da Câmara de Vereadores e do Ministério Público, de Caxias do Sul-RS, vou preferir dar prioridade a quem realmente merece, o povo Nordestino, em cujo grupamento racial e social está inserido o baiano, com muita honra.
O grande escritor Euclides da Cunha, deixou uma frase que ultrapassa o tempo e se eterniza na memória de quantos conhecem a gente do sertão: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. E o trovador usa a frase como mote dos seus versos, quando nas feiras livres exalta o inconfundível perfil do nordestino.
O suor do sertanejo, com sabor do sangue que lhe corre nas faces, parece emergir das suas entranhas como lenitivo e bálsamo para a pele que queima sob a intensidade do sol. Não se quebranta com pouco sofrimento, nem se arrefece ante os grilhões da dor, da sede e da fome, como se lhe fossem alimentos de vida. É um forte que está mais para o verdadeiro sentido de fortaleza, muralha, que resiste bravamente às adversidades.
A enxada do sertanejo parece ser a caneta que escreve no solo do semiárido, ressequido e tórrido, os seus sonhos e esperanças. Imagine, o homem do sertão sonha! Sonha que come e nesse momento se alimenta. Sonha que chove e nesse instante tem a sensação de que gotas de água lhe banham o corpo marcado pelo sol. Planta a semente e sonha que ela vai nascer. Os sonhos e fantasias têm o poder de tornar a sua vida menos sofrida. Só tem uma coisa que o nordestino não precisa sonhar, pois isso é nato dele: ser forte e valente!
No rosto do catingueiro as rugas do sofrimento e do cansaço parecem desenhar pequenos córregos na face, pelos quais rolam gotas do suor que se precipitam ao solo, como se desejassem irrigar a terra de novas esperanças.
Mesmo sabendo que esse sertanejo obstinado “é, antes de tudo, um forte”, incorremos no risco de desconhecer os seus limites. Tenho certeza de que “AQUELA GENTE LÁ DE CIMA”, está convencida de que a débil fala do tal vereador jamais afetará o bom humor do baiano, além de reconhecer que não representa, absolutamente, a boa índole da simpática gente gaúcha.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 19/03/2023
16 Comentários
Bom dia, Mestre Agenor!
Como Nordestino que sou, filho de sertanejo legitimo, me senti devidamente representado, em tudo que você escreveu neste editorial, principalmente quando você disse: “vou preferir dar prioridade a quem realmente merece, o povo Nordestino, em cujo grupamento racial e social está inserido o baiano, com muita honra.
Este tal de “Fantasmel”, não merece maiores ou menores citações.
Por falar em sonhos dos sertanejos, não podemos esquecer que hoje, 19 de março é DIA DE SÃO JOSÉ, data celebrada com esperança em todo o Sertão Nordestino. Neste dia, a fé pelo santo se renova a cada ano na forma de orações e pedidos de chuva. Reza a tradição que, se chover na data, a colheita será farta.
Viva São José!
Caro Agenor. Chega a dar pena a ignorância deste cidadão. Talvez ele não saiba que Rui Barbosa, Jorge Amado, Dorival Caymi, Castro Alves, e tantos outros de destaque na vida nacional eram baianos. Parabéns pela oportunidade e firmeza das colocações. Também foi na Bahia que o Brasil foi descoberto pelos portugueses. (Brasília-DF).
Caro Ir:. Agenor. Termino de ler essa obra prima de crônica “Aquela gente lá de cima”. Você ainda falou pouco sobre as qualidades dos nordestinos, especialmente dos baianos, como força de trabalho e, principalmente, pela capacidade de acolhimento e hospitalidade para com qualquer brasileiro, seja de que Estado for. Eu ouvi os impropérios daquele desqualificado “vereador” e tenho certeza de que ele não conhece as belezas do nordeste e a educação do povo nordestino. (Goiânia-GO).
Muito bom! Parabéns, Agenor.
Já escrevi, assim como você o está fazendo, melhor que outros, a respeito desse assunto infeliz desse inescrupuloso gaúcho que fere as tradições do seu povo cordial e atencioso. O melhor exemplo do valor do nordestino é o árduo trabalho de construção da monumental economia paulista e a construção de Brasília, onde se fizeram presentes, entre outros nordestinos, muitos baianos valorosos. Também você mencionou o extraordinário Euclides da Cunha que eternizou uma frase famosa: “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”
Mas, convenhamos, o grande responsável pela fama do baiano preguiçoso é Dorival Caymmi, baiano que se fixou no Rio de Janeiro e pouco deu atenção ao nosso valoroso e intrépido povo. Nós, baianos, vivemos a tocar tambor nas praias -na concepção de um idiota de Caxias do Sul- porque sabemos viver, a despeito de todas as nossas agruras, como você bem descreve.
Ainda bem que o seu partido já o expulsou e a câmara municipal iniciou o processo de expulsão do irresponsável vereador, numa prova de que o povo gaúcho nos tem respeito e consideração.
Mas é válido notar que outros exemplos de trabalho similar à escravidão, explode diariamente nos mais varaiados espaços nacionais. Parece que é uma saga! (Salvador-BA).
Ainda bem que somos de cima, se fosse de baixo, não imagino como seriamos tratados por aquele preconceituoso descontrolado que, no dia seguinte, já estava mansinho, e vai ficar ainda mais quando for devidamente punido quem sabe até com a perda do mandato como estão noticiando.
Grande Agenor: Vou guardar a declaração abaixo, como lembrança desta crônica.
“No rosto do catingueiro as rugas do sofrimento e do cansaço parecem desenhar pequenos córregos na face, pelos quais rolam gotas do suor que se precipitam ao solo, como se desejassem irrigar a terra de novas esperanças”.
Que imaginação fértil, hein companheiro. (Salvador-BA).
Parabéns! Viva o Povo Nordestino! (Salvador-BA).
Muito bom o texto. Orgulhosa por ser BAIANA, NORDESTINA. Parabéns, meu amigo! (Mutuípe-BA).
Muito boa crônica. Parabéns, Agenor. (Salvador-BA).
Você falou muito bem, da gente nordestina e sertanejo. (Irecê-BA).
É amigo, infelizmente esse tipo de coisa é recorrente lá pelos pampas. Ao longo dos meus 38 anos de BB. Tive a oportunidade de presenciar muitos comentários por parte dos “colegas” gaúchos, de racismo e de críticas aos Nordestinos. Inclusive, de um que prefiro não citar o nome, que fez parte do nosso convívio, nos anos de 95 e 96, quando tive a oportunidade de trabalhar em Salvador.
Que a justiça seja feita. Punindo o salafrário do vereador, como determina a lei. (Rio de Janeiro-RJ).
Como sempre suas crônicas são excelentes!! (Salvador-BA),
Plagiando as palavras de meu primo amigo Basilio Gomes Gomes Gonçalves BGG o Poeta da Mata Virgem, que outorgou o título de o Menestrel do Vaza Barris ao nosso preparado cronista Agenor Francisco dos Santos, aproveito este espaço do Blog do mestre Florisvaldo, para deixar aqui registrado os sinceros parabéns pela brilhante dissertação desta mais uma abalizada crônica semanal. Muito bem feita às merecidas referências que foram feitas pelo autor da crônica ao bravo e destemido povo sertanejo, inclusive, pegando carona na frase mais célebre do porta voz da sangrenta e truculenta Guerra de Canudos, o escritor Euclides da Cunha:”O sertanejo, é antes de tudo um forte”. Em tempo, gostaria de expressar os meus sentimentos de prfunda indgnação,não só pel desrrepeito do vereador bravateiro de Caxias do Sul, mas também pela forma como aqueles que se julgam nossos verdadeiros representantes no topo dos poderes nas três esferas de governo vem ao longo de mais de três décadas tratando o nosso bravo povo nordestino, com bolsas; auxilios disso e daquilo, e a oferta de políticas públicas para a exploração das diversas cadeias produtivas ficam relegadas a Ns planos. De acordo com os dizeres do escritor de renome internacional, o nordestino não precisa de esmolas, como lembrou bem o mestre Agenor, ele quer é ter condições dignas de plantar e criar, colher e abater seus animais, e dando o valor ao seu suor levando o pão à mesa de suas familias. Nos velhos tempos do atraso sem as regalias de hoje, este homem forte das abelhas em sua fase de adolescente ajudou seu tudo … tudo.. através do cabo da peroba a conquistar o suado pão de cada dia, mesmo com muita dificuldade, mas éramos felizes. Feliz e abençoada noite deste dia de São José, e que todos e todas tenham um bom e pro ativo comecinho de semana. José Deusimar Loiola Gonçalves – Técnico em Agropecuária Extensionista aposentado do -Governo do Estado); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas ; Licenciado em Biologia ; Pós Graduado Em Gestão Educação Ambiental e Tecnólogo em Apicultura e Meliponicultura – Fones de contato: 75- 99998-0025( Vivo-Wast App).
Muito bom! Aquele insano está recebendo agora o que merece, além do repúdio nacional. (Salvador-BA)
Maravilhosa crônica! Parabéns, mais uma vez.
A respeito do palavrório mordaz assacado contra os nordestinos, mais especificamente atacando os baianos, por “um certo vereador de Caxias do Sul, chamado de Sandro “Fantasmel”, que, em arroubos de covardia, usou da tribuna da Câmara para vomitar impropérios deseducados, ofensivos e preconceituosos contra os nordestinos e, em especial, ao povo baiano.”, eu só teria uma estorinha pra contar:
“Contam que um certo senhor (chamemos de Zombado) era escarnecido por um outro (nomeemos de Zombador), que o taxava de traído pela esposa e propagava tais acusações e fazia troça… O Zombador, quando do aniversário do Zombado, com o objetivo humilhante, enviou a este uma caixa contendo um par de chifres… O Zombado recebeu e silenciou… No aniversário do Zombador, o Zombado enviou um buquê de lírios brancos… O Zombador, ao receber, ficou pasmo e sem entender porque não recebera um revide. O Zombador foi ao encontro do Zombado e perguntou porque ele teria lhe mandado um ramalhete de lírios quando ele, Zombador, teria lhe dado um par de chifres… o Zombado, calma e educadamente, respondeu: “meu amigo, cada um dá o que tem!” (Rio de Janeiro-RJ).
Quero que você saiba que eu conheci o nordeste durante uma de suas piores secas e posso atestar uma das melhores características desse povo, a solidariedade, mas não a única.
Quando chegamos com a nossa mudança fomos para uma casa onde a água, naquele momento, só chegava através da “Pipa”, pois saiba que na hora que chegamos também chegou uma fila de vizinhos, todos de baldes na mão trazendo a água que, a maioria deles, havia comprado a duras penas.
Eu fiquei abismado e estranhei aquilo, pois não sabia da escassez extrema que aquela comunidade vivia. Me emociono até hoje com aquele gesto. Foi a pura expressão da solidariedade de um povo tão sofrido e tão humano. Eu era um estranho chegando e ninguém ali sabia quem eu era nem de onde vinha, mas sabiam que na casa não havia água e que dela eu e meus familiares precisaríamos…
Ouço com frequência falas inoportunas e imbecis sobre o povo nordestino e, sempre, faço questão de dizer que só fala dessa gente quem não a conhece. Pois só fala mal do nordestino quem ignora sua sua bravura e coragem. Quem ignora é o que? IGNORANTE! Assim deve ser entendido esse “vereadorzinho” de Caxias do Sul. Ignorante e fascista é o que ele é.
Peço desculpas em nome do povo gaúcho! (Porto Alegre-RS)