Numa tragédia essa criança escolheu salvar os seus livros escolares
Por me encontrar em viagem pelo Nordeste, optei por me reportar à visualização de alguns textos passados, de modo a encontrar alguma similaridade entre fatos passados e os da atualidade. Assim, achei interessante recordar aqui o exemplo dado por essa criança da foto, que mexeu com os meus sentimentos e, certamente, sensibilizará os meus leitores. A crônica, com o mesmo título, foi editada em 17/06/2017. Vejamos, com ajustes atualizados:
Preliminarmente, vale reiterar que muito se tem dito que a corrupção, o nepotismo e o “jeitinho brasileiro” não são invenções recentes no Brasil, mas que vem desde os primórdios do nosso descobrimento, mesmo porque há registros históricos de que na frota do nosso Descobridor Pedro Álvares Cabral veio o ilustre Escrivão Pero Vaz de Caminha, que não só cuidava do diário de bordo, onde registrava as descobertas que iam acontecendo, mas, zelosamente, numa das cartas ao Rei Dom Manuel interferiu para que libertasse da prisão o seu genro, condenado ao degredo na Ilha de São Tomé, por roubar uma igreja e ferir o padre. Ou seja, desde aquela época um certo Sr. Caminha já não caminhava pelos bons caminhos…!
Vejam o trecho final da carta, no qual o cronista faz o seu pedido carregado de adulação ao Rei: “E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro, o que d’Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio de 1500”. Bajulador nato, e aí revelou o que seria o início do nepotismo!
O Pero Vaz deixou um legado tão bem assimilado pelas gerações futuras, que os lambe-botas de hoje aperfeiçoaram o hábito de tal forma que o deputado Rodrigo Loures (PMDB-PR), em maio de 2017, foi flagrado recebendo R$ 500 mil em propina, É de causar desprezo a humilhante imagem desse parlamentar baba-ovo fugindo com a mala do crime! Que exemplo indigno para a nossa sociedade!
Não obstante o véu de desonra que cobriu o Brasil, quando os atos de improbidade adquiriram especial refinamento, e fomos classificados pela Transparência Internacional, em Berlim, Alemanha, como um dos países mais corruptos do mundo, aqui ou acolá surge um exemplo isolado de dignidade, com um firme indicador de que a esperança de salvação deste país só poderá ser alcançada através da EDUCAÇÃO!
E falando de Educação, estou me referindo ao emocionante exemplo de grandeza demonstrado por uma criança de 8 anos de idade, a RIVÂNIA – no ano de 2017 -, vítima da enchente no município de São José da Coroa Grande-PE, cuja tragédia levou todos os bens materiais da família. Antes de embarcar na balsa que salvaria a neta e a avó, esta pediu à neta que fosse dentro da casa pegar apenas o essencial. Mas, para a surpresa da avó e de todo esse Brasil que teve acesso a esse valoroso exemplo, a menina foi e voltou veloz trazendo apenas a sua mochila contendo os seus livros escolares, a qual abraçava com muito carinho (vide fotos)!
Tamanho exemplo deveria causar vergonha aos nossos políticos e administradores, que tudo fazem para desviar verbas da Educação, enquanto essa garotinha passou a todos um recado sublime, sugerindo que nos seus livros escolares estavam depositadas a confiança e a certeza da superação diante da tragédia, e a perspectiva de uma vida melhor, que certamente terá! Não só uma vida melhor, mas, com toda certeza, cheia de brios, de caráter e acima de tudo uma vida exemplar!
De todos esses bilhões de reais desviados para a suja propina, se 10% fossem aplicados na melhor remuneração dos profissionais do ensino, na estruturação das escolas precárias hoje existentes pelo interior e no reforço da Merenda Escolar – para muitas crianças o único alimento que dispõem no dia -, com certeza estaria sendo construído um Brasil de melhor índole para o futuro! Os seus livros, Rivânia, que você salvou, serão úteis por toda a sua vida.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 27/11/2022
5 Comentários
Caro Agenor, muito oportuna a reedição deste Editorial, recordando fatos narrados em 2017. Cinco anos depois, se olharmos para traz, nada vislumbramos em termos de mudança para melhor, muito pelo contrário. Mesmo não querendo ser ainda mais pessimista, persistindo o cenário atual, não consigo enxergar perspectivas nas próximas décadas. Lamento pelos nossos filhos, netos ou bisnetos.
Muito bom! Parabéns, Agenor. (Salvador-BA).
Bela reflexão Agenor, mas infelizmente ainda iremos conviver com essa corja de corruptos. (Salvador-BA).
OPORTUNO por demais esse Artigo. EXEMPLO de caráter dessa criança sofrida deveria chegar aos mais altos escalões, mas o que ocorre é totalmente o contrário. Tem um fato agora incomodando a todos: essa tal eleição que não termina com as pessoas até hoje se agredindo de todas as maneiras. Esperamos que a vida possa continuar normalmente para que o pior não aconteça e venha a sobrar como sempre para as pessoas sofridas como essa criança.
Trazendo as minhas observações, permito-me expender que:
1 – da frota do Cabral, que, coincidentemente, era composta de 13 navios (03 caravelas e 10 naus), cuja rota é suspeita, nem a “Santa Maria” se salvou, pois, como sabemos, além do genro do Caminha, vieram outros facínoras, que semearam no Brasil, terra fértil,
seus ensinamentos, os quais instruíram, com sucesso, Rodrigo Loures, Geddel Vieira, Severino Cavalcanti, LULA, José Dirceu, Eduardo Cunha, Delúbio Soares, Sérgio Cabral, Garotinho e mais uma legião infinda…
2 – o mesmo “véu de desonra que cobriu o Brasil, quando os atos de improbidade adquiriram especial refinamento” foi utilizado pela Suprema Corte para acobertar as falcatruas dos alunos de Jorge Osório, acima elencados, sob o comando do então Presidente da República. Igualmente, o TSE usou daqueles ensinamentos para enlamear o último pleito eleitoral.
3 – “E falando de Educação” e no “exemplo de grandeza demonstrado por uma criança de 8 anos de idade, a RIVÂNIA – no ano de 2017 -“, cabe, aqui, repetir o que disse Juca Chaves: “Um País se faz com homens e livros… livros o Brasil já tem!”