Falar em democracia invocando direitos, igualdade e liberdade, é fácil. Praticar o sistema, ter consciência dos deveres, cumprir e respeitar os seus princípios é uma atitude nem sempre adotada por muitos que se dizem democratas, principalmente quando os interesses pessoais são atingidos no dia a dia, ou no resultado contrário de uma eleição.
A população brasileira exibiu para o mundo no último domingo, um extraordinário exemplo de cidadania, ao exercer o direito constitucional e pacífico de eleger o seu Presidente da República para o comando do País. Tivemos um pleito bastante acirrado e disputado voto a voto, com a presença de 124.252.796 de votantes, e uma diferença de 2,1 milhões de votos entre o vencedor (60.345.999 votos) e o perdedor (58.354 votos), equivalente a uma frente percentual de apenas 1,80%.
O equilíbrio comparativo dos números totalizadores demonstra que o eleitorado nivelou os seus “mitos” e não teve um convencimento absoluto quanto ao candidato mais preparado para comandar a Nação. O resultado ratificou o acerto da histórica e legítima frase atribuída ao cronista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade, não precisa pensar”! Por isso, o equilíbrio de forças… E isso não é só bom como, também, demonstra que nós estamos atentos a tudo, como foi o caso dessa última eleição.
Ambos os concorrentes são portadores de defeitos graves de perfil, por demais conhecidos e explícitos. É visível a carência de novos líderes aptos ao comando decente do país e assim, em razão dessa falta de opção, foi muito comum se ouvir dos eleitores. a frase “vou votar no menos pior”! Mesmo com esse desabafo cheio de desencanto, importante foi a oportunidade de poder testemunhar o grau de responsabilidade e cidadania de muitos brasileiros. Pior seria a omissão absoluta.
A propósito, aqui na Bahia, na cidade de Queimadas, a televisão exibiu a impressionante imagem de uma senhora de 68 anos deitada sobre um leito hospitalar e conduzida até a sua sessão eleitoral por enfermeira e familiares, e assim cumpriu o seu dever cívico de votar. Exemplo admirável!
Um fato provocante e que precisa de melhor compreensão pelas populações do Nordeste e do Sudeste/Sul do Brasil, é a circunstância das regiões terem preferência por candidatos específicos, nunca identificados um com o outro. Ora, num país de dimensão continental, e com diversidades sociais e culturais, nada mais natural que não haja convergências políticas, o que ficou profundamente configurado na eleição presidencial deste ano, quando o Nordeste ficou com o Lula e o Sudeste/Sul com o Bolsonaro. O próprio discurso e prioridades de campanha dos candidatos tem direcionamento adequado para cada região. Se cabe algum questionamento das partes, o direito de fazê-lo é mútuo, obviamente. E, certamente, o eleitor cada vez mais politizado, não vai deixar por menos ou barato!
Nada mais esperado, a partir de 1º. de janeiro de 2023, do que uma normal polarização entre a Direita e a Esquerda no País, uma vez que são claros os pontos de divergências ideológicas. Contudo, os excessos devem ser contidos desde agora, pois, É HORA DE DAR UM FIM AO ÓDIO, de maneira que os interesses nacionais e as necessidades do povo brasileiro ocupem as prioridades de ambos os segmentos políticos aqui atuantes. Lembrando que o ódio adoece o corpo e a alma.
Isso não significa dizer, contudo, que a sociedade brasileira deva relaxar a sua vigilância permanente quanto aos atos do futuro governo, sobretudo no que tange à preservação do patrimônio institucional e os direitos democráticos.
Faço minhas, as palavras contidas no comentário à última crônica, enviado pela leitora Adriana Marques, de Salvador-BA: “A sorte está lançada! Vamos rezar para que, em algum momento, o sentimento – de amor ao País -, toque o coração de quem ganhou essa eleição”.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 06/11/2022
10 Comentários
Na vida, aprendi e tenho como definição que “O ódio contamina e o amor contagia”. Assistindo uma palestra de Daniel Sarmento, doutor em Direito Constitucional, ouvi ele afirmar que discurso de ódio pode ser caracterizado por “manifestações de ódio, desprezo ou intolerância contra determinados grupos, motivadas por preconceitos”. Assim sendo, não tenho a menor dúvida que Pablo de Paula Bravin estava coberto de razão quando disse: “O ódio contamina o intelecto e destrói as melhores qualidades do caráter”. Compartilho com as palavras da leitora Adriana Marques, “toque o coração de quem ganhou essa eleição”, e acrescentando: “de parte dos eleitores também”.
Você acha que uma diferença de 2,1 milhões de votos significa equilíbrio de preferência? Penso que não, especialmente porque o Nordeste, onde o Bozo nada ganhou e na capital paulista, historicamente Bolsonarista, o “barbudo” vendeu. E eu não votei em ninguém.
Quanto ao sul e sudeste, é dispensável dizer que a nossa sofrida e brava região que, segundo alguns irresponsáveis, só serve pra “tirar férias”.Uma vergonha escandalosa!
Mas, ao meu ver, o melhor exemplo foi daquela senhora que, acamada e impossibilitada de deslocar-se, foi levada a votar, cumprindo o seu dever cívico, quando bastaria um simples atestado médico para livrar-se da responsabilidade. Caso EXEMPLAR, que deveria ser obedecido por todo brasileiro, inclusive eu. (Salvador-BA).
Amigo Agenor: Para mim, está claro que tanto um quanto o outro não possui nem 30% do eleitorado a seu favor. A grande disputa se deu entre dois grupos maiores, quase iguais: antipetistas e antibolsonaristas.
A constatação me permite supor que existe um espaço vazio de 40% a ser ocupado por alguém que se credencie nos próximos anos: Tarcísio? Tebet? Zema?
Façamos as apostas sem perder de vista que o tempo, sábio como de costume, continua sendo o senhor da razão. (Maceió-AL).
A paz está voltando !! (Salvador-BA).
Bem colocado amigo Agenor, bela crônica. Parabéns. (Maracás-B|).
Mais uma ótima crônica. Que o amor vença o ódio! Dentro do regime democrático, a vigilância aos governantes deve ser constante, bem como, a todo e qualquer cidadão que ultrapassa os limites da Lei. (Salvador-BA).
REALMENTE o ódio não leva a nada. A percepção do momento nos leva a uma reflexão: a paz se faz necessário, caso contrário, entraremos numa guerra familiares e amigos uns contra os outros, e eles lá numa boa usufruindo das regalias pagas por nós! Que esse Artigo sirva como alerta de que o ódio adoece… Simplesmente isso!
Muito bom! Exatamente amigo. Chegou o momento do Brasileiro, mostrar que é Brasileiro e unir forças em busca de dias melhores para toda Nação! Quem não puder ou quiser ajudar, que não atrapalhe. (Rio de Janeiro-RJ).
Parabéns Agenor, sempre leio suas crônicas e aprecio a maneira das suas abordagens.
Blóton Oliveira
Sábias palavras! Como sempre, cirúrgico nas colocações e coerente com a inexorável realidade.
Parabéns! Irmão Agenor Santos.(Maracás-BA).