Estátua de Padre Cícero, no Horto, em Juazeiro do Norte – Foto: Gustavo Pellizzon/SVM – Ele é considerado santo popular e atrai milhões de romeiros ao Ceará. – Vaticano autoriza início de processo de beatificação de Padre Cícero, diz Diocese do Crato.
O processo de beatificação de padre Cícero Romão Batista na igreja católica foi autorizado pelo Vaticano. A informação foi anunciada pelo bispo da diocese do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, durante missa realizada na manhã deste sábado (20), no Largo Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará.
“Queridos filhos e filhas da Diocese do Crato, romeiros de todo Brasil, é com grande alegria que eu vos comunico nesta manhã histórica que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do santo padre, o papa Francisco, uma carta do dicastério para a causa dos santos, datada do dia 24 de junho de 2022. Recebemos a autorização para a abertura do processo de beatificação do padre Cícero Romão Batista que, a partir de agora, receberá o título de servo de Deus”, disse Dom Magnus Henrique Lopes durante a celebração.
Em 2015, o Vaticano atendeu ao pedido do bispo Dom Fernando Panico e reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não havia mais impeditivos para a abertura do processo de beatificação do “santo popular”.
O pedido para a autorização da beatificação de padre Cícero foi solicitado por Dom Magnus Henrique Lopes , através de uma carta entregue ao papa Francisco durante a visita ao Vaticano, em maio deste ano.
“Recorremos a vossa solicitude de pastor universal da santa igreja para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado, exonerado. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine, com o coração de pai e como sucessor de Pedro, este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do padre Cícero”, diz um trecho da carta entregue por Dom Magnus ao papa Francisco.
O trecho foi lido pelo bispo da diocese do Crato durante o anúncio da autorização do processo de beatificação de padre Cícero. A notícia foi recebida com salva de palmas e fogos por centenas de fiéis que estavam no local.
Padre Cícero morreu em 1934 rompido com o Vaticano por envolvimento com a política e pelo polêmico “milagre da hóstia”. Segundo a crença popular, uma hóstia dada pelo padre virou sangue na boca de uma beata. Para os devotos de padre Cícero, trata-se de um milagre, mas a igreja Católica considerou o caso uma interpretação equivocada. Por conta dos “equívocos”, ele foi afastado da igreja católica.
Padre Cícero Romão Batista é considerado “santo popular” para muitos fiéis católicos nordestinos. Todos os anos, as romarias em homenagem a ele atraem milhões de romeiros a Juazeiro do Norte.
Processo de beatificação
Para concluir a beatificação, o Vaticano faz inicialmente um levantamento da biografia do candidato para verificar se há algum fator na biografia que possa impedir o processo. Se nada for encontrado, a igreja emite o Nihil Obstat (nenhum impeditivo), um documento formal, redigido em latim e dirigido ao bispo indicando que o pode haver continuidade do processo.
“É a partir deste documento que o candidato à santidade passa a ser chamado Servo de Deus e tem a investigação livre para desenrolar-se até o fechamento do processo”, explica o advogado e especialista em Direito Canônico José Luís Lira.
Em seguida, será constituído um tribunal eclesiástico diocesano que vai aferir as qualidades, as virtudes e constatar toda a vida do Servo de Deus.
Após a conclusão da fase diocesana, os documentos são encaminhados para o Vaticano, onde inicia-se a fase romana. O Vaticano avalia relatos de milagres, graças e atos que possam dar status de beato a Padre Cícero.
“Uma vez constatada, ele é automaticamente declarado como ‘venerável’. Se houver um milagre consistente, nos modos que a Santa Sé exige, com laudos médicos e toda documentação cabível, é iniciada a fase de beatificação. Aprovado o milagre, o papa autoriza a beatificação. Depois de se tornar beato, é necessário outro milagre para a canonização”, conta Luís.
Fonte: https://g1.globo.com – Por Lena Sena e Ednardo Alves
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 20/08/2022
1 comentário
Biografia de Padre Cícero
Padre Cícero (1844-1934) foi um líder católico brasileiro. Foi ordenado padre em Fortaleza no ano de 1870. Realizou um trabalho pastoral, com pregações e visitas domiciliares. Conquistou a simpatia dos católicos.
Foi punido pelo Vaticano, com a suspensão da ordem, acusado de manipulação da crença popular. Foi considerado “Santo Popular” por muitos fiéis católicos nordestinos. Hoje, Juazeiro do Norte é ponto de peregrinação de seus fieis.
Cícero Romão Batista, conhecido como Padre Cícero, nasceu no dia 24 de março de 1844, na cidade do Crato, Ceará. Filho de Joaquim Romão Batista, comerciante, e Joaquina Vicência Romana. Foi estudar na Paraíba, mas em 1865, com a morte de seu pai, voltou para o Crato.
Ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde foi ordenado Padre, em 1870, contra o voto do reitor do seminário, que lhe censurava pelas revelações de suas visões.
Dois anos depois, Padre Cícero foi designado vigário para o distrito de Juazeiro do Norte no Ceará, onde começou um trabalho pastoral com pregações e visitas domiciliares.
Restaurou a capela de Juazeiro, comprou imagens e ganhou a simpatia dos moradores, passando a exercer grande liderança na comunidade, que na época tinha 300 habitantes.
Milagre
Um “milagre” ocorrido em 1889 transformou a vida do religioso e da cidade. Ao participar de uma comunhão geral, na capela de Nossa Senhora das Dores, a hóstia sangrou na boca de uma fiel.
Logo a notícia do milagre se espalhou e o fato teria se repetido em público várias vezes. A cidade de Juazeiro passou a receber peregrinos de vários lugares.
Punição
Em 1894, Padre Cícero foi punido com a suspensão da ordem. Dois médicos foram chamados para testemunhar o “milagre” e confirmaram o fato que só fortaleceu a crença do povo.
Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal. O bispo mandou investigar e a igreja não aceitou o milagre decidindo punir o padre. Em 1894 foi suspenso da ordem, acusado de manipulação da crença popular pelo Vaticano.
Inconformado e sem poder celebrar missa, Padre Cícero foi ao Vaticano, em 1898, pedir revogação da pena, ao papa Leão XIII. Saiu de lá com a vitória, mas o bispo não aceitou e pediu revisão do resultado.
Vida Política
Sem poder seguir na carreira religiosa, a viagem a Roma só contribuiu para aumentar o prestígio do Padre Cícero. Graças ao fluxo de romeiros, Juazeiro tornou-se importante centro artesanal.
Em 1911 o distrito foi elevado a município e o Padre Cícero foi nomeado prefeito, realizando várias benfeitorias.
Levou para a cidade a Ordem dos Salesianos, doou o terreno para construção do aeroporto, abriu várias escolas, entre elas a Escola Normal Rural, construiu várias capelas, estimulou a agricultura e ajudou a população pobre, nos períodos de secas na região.
Participou da Revolta do Juazeiro, em 1914, junto com grandes coronéis. A revolta foi motivada pela vitória do coronel Marcos Franco Rabelo para governador do Estado com a derrubada de Antônio Pinto Nogueira Accioli.
Quando o novo governador exonerou o padre Cícero das funções de prefeito, o médico Floro Bartolomeu da Costa foi ao Rio de Janeiro para obter de Pinheiro Machado, um influente político, o apoio do governo federal para depor Rabelo.
De volta ao Ceará, Floro comandou um ataque ao quartel da força pública de Juazeiro, em 9 de dezembro de 1913. Era o início da “guerra dos jagunços”, com o apoio do Padre Cícero.
O apoio dos cangaceiros
O exército de jagunços, recrutados entre cangaceiros e romeiros, ergueu trincheiras em volta da cidade e repeliu os ataques da força oficial.
Amparados pela crença de que “homem abençoado pelo “Padim Ciço” não morria de bala”, os rebeldes marcharam contra Fortaleza, saqueando as cidades no caminho.
Em março de 1914 o governo federal decretou a intervenção no estado e destituiu o governador Rabelo. Era o fim da guerra civil. Nessa época, Juazeiro do Norte se tornara a segunda cidade do “Sertão do Cariri”, depois de Crato.
Uma grande parte dos habitantes foi encaminhada para as fazendas da região, muitas delas de propriedade do Padre Cícero, que se tornou o maior agricultor do Cariri e importante coronel da oligarquia local. Conta-se que Lampião o teria visitado algumas vezes.
Padre Cícero se elegeu sucessivamente vice-governador e deputado estadual. Só não aceitou o cargo de governador porque não quis afastar-se de Juazeiro.
O Santo
Quando a vida pública de Padre Cícero chegou ao fim, seu prestígio de santo deu grande impulso, principalmente depois da revolução de 1930. Era considerado santo e profeta infalível.
Com sua morte, a devoção ao Padre Cícero aumentou. Todos os anos, no dia de finados, uma multidão de romeiros, vinda de várias partes do Nordeste, chega a Juazeiro para visitar o túmulo do santo, na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Em 1969, no alto da Colina do Horto foi erguida uma estátua do padre, com 27 metros de altura, que recebe um grande número de peregrinos. No local foi instalado também um pequeno museu.
Padre Cícero é considerado um “Santo Popular” para muitos fieis católicos nordestinos. É chamado de “São Cícero do Juazeiro”.
Padre Cícero Romão Batista faleceu no dia 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte, Ceará.