Primeiro-Ministro Holandês e o Primeiro-Ministro Inglês indo ao trabalho de bicicleta
Sempre que se aproxima um novo pleito eleitoral, principalmente com a relevância do que se realizará em 2022, são muitas as preocupações pontuais que passam a atormentar o nosso eleitor. Decidir pelos destinos do país e defender a integridade de suas instituições é uma missão de grande responsabilidade, e uma oportunidade ímpar de valorização do sistema democrático. O problema ganha maior dimensão quando é grave a escassez de concorrentes confiáveis e com o perfil adequado, como na atualidade. É algo difícil de encontrar, mas não impossível.
Qualquer país relativamente jovem como o nosso, e que pretenda estabelecer as regras e normas básicas para o seu desenvolvimento cultural e político, tem a obrigação de buscar no mundo os bons exemplos de outras nações com séculos e mais séculos de história, a fim de que nas mais simples atitudes comportamentais sejam sedimentados os bons princípios, desde cedo. Em outras palavras, devemos aprender com quem pode ser exemplo e tem o melhor para ensinar.
Assim, aquilo que começou errado fica mais difícil de alcançar a recuperação. É inquestionável que a família representa o mais extraordinário e inquebrantável patrimônio da sociedade, cuja estrutura dá sustentação e sentido à nossa própria existência. Se nos desvios dos costumes e hábitos educacionais uma família enfrenta enormes obstáculos para encontrar novos caminhos, muito mais difícil é reformular a cultura de toda uma sociedade. Diante dos desequilíbrios socioculturais, ela é vulnerável a agressivas consequências, com reflexos a todos que vivenciam essas situações sem precedentes.
É triste reconhecer que a estrutura da nossa administração pública nem sempre é montada tendo como prioridade a funcionalidade e gestão racional em prol do bem-estar da população. Num país de terceiro mundo e com tantas carências básicas, surpreende que todos aqueles que assumem o comando nos escalões mais avançados da vida pública, políticos ou não, sejam tão pródigos em se assoberbarem das vantagens do cargo, enquanto tantos brasileiros passam dificuldades, até para a própria subsistência… Em outras palavras, passam fome deliberada e assustadoramente.
Até algum tempo atrás, deputados e Senadores recebiam 13º., 14º. e 15º. salários. Mesmo assim, ainda hoje recebem um volume de vantagens que choca a qualquer cidadão: auxílio moradia em Brasília, cota telefônica, cota postal, veículo, combustível, gráfica, jornais e revistas, passagens aéreas para os seus Estados de origem, verba indenizatória para uso nos gastos de combustível, alimentação e moradia nos seus Estados, e pode contratar até 25 Assessores parlamentares para os seus gabinetes… E é aí que funcionam as deploráveis “rachadinhas”!
Depois de desfiar todo esse complicado novelo de excessos, de cuja realidade pouca gente tem conhecimento, permita-me o leitor mencionar alguns inusitados exemplos externos, para que se conclua que nós, no Brasil, estamos vivendo num mundo totalmente irreal e fantasioso: a) Em Londres o Prefeito não tem veículo oficial e vai à Prefeitura de bicicleta, assim como o 1º. Ministro Boris Johnson; os vereadores recebem Vale Transporte para uso em coletivos; b) Na Holanda, o Primeiro-Ministro e o líder Parlamentar também vão ao trabalho de bicicleta ou usam trens, ônibus ou metrô; c) Na Suécia, os vereadores e deputados regionais (estaduais) não recebem salários; o prefeito da Capital anda de ônibus e o Primeiro-Ministro circula de metrô ou de bicicleta; um Deputado Federal ganha apenas 50% a mais do que recebe um professor da rede primária de ensino;
Com exemplos dignificantes como esses, conclui-se que o Brasil tem solução desde que mude a mentalidade vigente e que os nossos nobres governantes e “reizinhos” desçam do trono para se identificarem um pouco com a plebe aqui embaixo, que trabalha e produz na base da sociedade brasileira. Fazendo isso, eles tomarão uma “Chuva de Honestidade” – como diz o compositor nordestino Flávio Leandro -, e, quem sabe, após se reciclarem, encontrem o caminho da prudência e da vergonha!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 15/11/2021
10 Comentários
A realidade dos países desenvolvidos em relação ao Brasil é tão diferente que soa risível alimentarmos qualquer expectativa de as coisas irão mudar por aqui a curto prazo. Entre nós, a esperança é a “única” que morre.
“Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!” é uma frase irônica de um antigo humorista brasileiro e colega de BB, Stanislaw Ponte Preta, que morreu em 1968 mas continua vivíssimo no “Festival de Besteiras que Assolam o País” que ele brilhantemente criou. (São Paulo-SP).
Bem colocado amigo Agenor. (Maracás-BA).
Realmente são muitas as preocupações pontuais que passam a atormentar o nosso eleitor, todavia, as informações, de modo geral, deveriam ser mais consistentes e que chegassem ao conhecimento de uma grande maioria para se fazer justiça com essas escolhas porque, como você afirma, é algo difícil de encontrar, mas não impossível.
Por outro lado, a ESCOLA, UNIVERSIDADES ENTRE OUTROS ÓRGÃOS DE
ENSINAMENTOS DEVERIAM COLOCAR EM PAUTA RECICLAGEM, COM CAMINHOS QUE
ENCONTREM PRUDENCIA E VERGONHA PARA OS FUTUROS REPRESENTANTES DO POVO.
FLÁVIO – MANAUS- AM.
Achei bom, muito bom esse artigo, uma boa reflexão e um conteúdo prático. De muitos eu não gosto porque você introduz induz matéria partidária de esquerda, que deixei de ser admirador pela patifaria que fizeram e fazem e acho um absurdo admirar isso. Não sou Bolsonaro, mas quando falta o melhor jamais darei chance ao PIOR, quero ficar longe do PT, mas muito longe mesmo. Mas como disse, a patifaria que fizerem e que fazem esquerda infiltrada abusivamente mídia e STF, quanto mais longe deles, melhor. (Salvador-BA).
Nobre amigo Agenor, você abordou um tema, realmente, palpitante, especialmente no que se refere aos princípios culturais dos brasileiros, porquanto ao que tudo indica, já se institucionalizou o péssimo hábito do toma lá dá cá, ou ainda o de levar vantagem em tudo, dessa forma, penso que dificilmente alcançaremos, a curto prazo, a conscientização do dever e da obrigação de soerguermos o nosso gigante de dimensões continentais que se encontra, literalmente, adormecido, desde os primórdios do seu descobrimento. Como bem foi abordado, em seu embasado artigo, os países de primeiro mundo, institucionalmente e pela óbvia cultura, todas autoridades legalmente constituídas habituaram a respeitar o erário público, a ponto de exercerem seus cargos sem o império da vaidade pessoal, os exemplos apresentados em seu artigo, demonstram sem sombra de dúvida, sem exceção, que as autoridades dos mais altos escalões têm a conscientização de que laboram em favor dos interesses de sua nação e também, conscientemente, sabem respeitar os seus contribuintes. Imaginemos, hipoteticamente, até mesmo um servidor categorizado, diretor ou chefe de um órgão ministerial, por exemplo, dentro de um ônibus ou ainda andando de bicicleta, rumo à repartição, isso seria um verdadeiro absurdo, sem falar no mais alto escalão, nunca, nunca e nunca, no Brasil, porque o todo poderoso não pode e nem deve se misturar ao povão. É isso ai, meu nobre, parabéns! (Brasília-DF)
Parabéns, irmão Agenor!!! Mais uma vez você trás uma crônica realística e que reflete fielmente o ponto de vista da importância da democracia para o desenvolvimento da nação e principalmente das pessoas! (Maracás-BA).
Excelente reflexão, mas na realidade aqui no Brasil, o que falta é ser humano com MORA. (Rio de Janeiro-RJ).
Caro Agenor, semanalmente você traz pontos para reflexão.
As comparações deixam claro que tudo é possível, porem levam tempo.
Se pensarmos que tais mudanças dependem da educação cultural, precisamos investir ricamente nas crianças que estão nascendo hoje, educando-as para quando atingirem a maioridade, tenham condição de votar e serem votadas, com a consciência e percepção das diferenças apontadas hoje. É difícil, mais não é impossível.
Florisvaldo F dos Santos
Meu querido Irmão, o problema todo é, exatamente, conseguir que ‘os nossos nobres governantes e “reizinhos” desçam do trono’ mudarem a mentalidade. Outro problema, não menos importante, é que os atuais ‘governantes e “reizinhos”’, como se por um milagre da genética, transmitem seus famigerados vícios para os novos políticos e/ou próximos governantes, que se transformam em “reizinhos”.
Acredito que a solução seria chamar o “Cabral” e mandar “cobrir o Brasil”, para que outro descobridor o descobrisse e não mais trouxesse a escória portuguesa nem admitissem como Deputados os despudorados “Tonicos Ferreiras”, como “Nos tempos do Imperador”. Um abraço fraternal e parabéns por mais esta excelente crônica.