“Projetar Brasília para os Políticos que vocês colocaram lá, foi como criar um lindo vaso de flores pra vocês usarem como pinico. Hoje eu vejo, tristemente, que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas sim de Camburão” (OSCAR NIEMEYER).
A partir de rabiscos iniciais que nada diziam quando contemplados por simples mortais, o nosso grande Oscar Niemeyer (105 anos) criou obras de arquitetura fantásticas no espaço e no tempo, que não somente até hoje, mas para todo o sempre permanecerão sendo conhecidas como “modernas”, pois a sua concepção foi de insuperável genialidade. Ao longo de uma vida profícua e criativa, deixou um impressionante número de obras de encantamento e beleza tanto no Brasil como em outras partes do mundo, pelas quais recebeu honrarias e homenagens que o consagraram. Das majestosas obras em Brasília (Catedral Metropolitana, Palácio da Alvorada, Palácio do Itamaraty, Memorial JK, Museu da República, Museu Nacional Honestino Guimarães, o Panteão da Pátria e o Congresso Nacional); ao Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; o Sambódromo, do Rio de Janeiro; a Igreja São Francisco de Assis, em Belo Horizonte, dentre os principais projetos no Brasil; ao Edifício-Sede da ONU, em Nova York e a Editora Mondadori, em Milão, Itália, possui ele um acervo de impressionar a qualquer mortal.
Mas este trabalho não tem o objetivo biográfico da vida desse grande brasileiro, mesmo porque o espaço é limitado, mas pegar um gancho numa das suas extraordinárias frases do seu pensamento político, tão valiosas e expressivas quanto as suas obras. Foi fiel às suas convicções políticas como um comunista histórico até a morte, superando perseguições de toda natureza, inclusive durante a ditadura militar de 1964. A sua coerência e firmeza ideológica assemelhava-se à solidez dos seus projetos arquitetônicos.
Esse foi o homem que, além de nos brindar com obras de rara beleza como os edifícios do Congresso Nacional, em Brasília, deixou, para a reflexão do eleitor brasileiro e de todos aqueles que se julgam com méritos para exercer a representação política da nossa sociedade – Deputados Federais e Senadores -, essa frase que inicia a crônica, profunda, contundente e de um lamentável mas legítimo realismo, como a expressão da sua grande decepção com os inquilinos desse belo palácio que ele projetou em Brasília. Estou coeso com o sentimento sobre a importância e o valor que essa instituição representa no contexto da República, e consciente da grandiosidade do seu papel constitucional que dá legitimidade à existência do nosso sistema democrático. Como seria bom estar alinhado aos raríssimos cidadãos deste país, que, eventualmente, possam fazer algum coro na defesa dos “nobres” parlamentares! Todavia, tem sido muito acachapante os desvios de conduta que maculam a imagem e o desempenho dos nossos legisladores, com algumas exceções, é claro, tornando-se uma tarefa inglória aplaudi-los.
Num momento da grave crise econômica nacional que estamos vivendo, que poderá evoluir e atingir ainda mais a fragilizada situação da saúde, educação e segurança, seria de se esperar um mínimo de participação solidária num projeto de recuperação nacional, independente de alinhamento partidário, mas visando os mais nobres objetivos de superação do país. Não obstante, transformam o governo em refém dos seus interesses pessoais e corporativos, auferindo benefícios em causa própria, como o Fundo Partidário que a Presidente acabou de triplicar, elevando de 289,5 milhões de reais para 868,5 milhões de reais por ano, ao sancionar o Orçamento da União para 2015. As justificativas passadas ao público pelos assessores presidenciais são de que a medida visa “evitar novos atritos com o Congresso Nacional em um momento crucial para a aprovação das Medidas Provisórias (MPs) do ajuste fiscal”! Partidos sem nenhuma expressão nacional e que somente servem aos interesses dos seus fundadores, passarão a ter acesso a quotas anuais independentes de ser ano eleitoral ou não… Para completar o cenário, os presidentes da Câmara e do Senado – dois peemedebistas! – digladiam-se vergonhosamente (vivem na ponta da espada) para ver quem tem mais poder de intimidar a Presidente da República, como se fossem duas crianças disputando a melhor ou maior fatia de um bolo… Ora, como recuperar este país convivendo nesse deplorável quadro de vaidades e chantagens?
Pelo perfil de conduta, esses passageiros estão mesmo mais para CAMBURÃO do que AVIÃO! E olhem que alguns já embarcaram nesse veículo da Polícia Federal e outros estão ansiosos na fila…
Concluo com outra frase do Oscar Niemeyer, que pode ser lida fazendo-se uma pequena analogia: “Vejo os homens (…ou o Congresso Nacional) como uma casa, em que você pode consertar as janelas, acertar o aprumo das paredes, pintar. Mas, se o projeto inicial foi ruim, fica prejudicado”.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 25/04/2015
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios
2 Comentários
Concordo. Perfeito. A Esperança matou o medo (dizia-se lá anos atrás). A corrupção matou a Esperança (dizemos hoje). Demonstrando isso no ato do Sr. Governador de MG que “outorga” medalha ao “líder” do MST. Onde estão os homens livres e de bons costumes que não reagem. Esses que se dizem livres que defenderam e defendem o candidato e atual governador de MG. Tá “complicado”, muito complicado. O que diria Olavo Bilac, se vivo fosse?
Brasília foi fundada com um objetivo, no entanto deram outro, semelhante ao avião que foi inventado por Santos Dumont com um objetivo e transformaram o equipamento (avião) como mensageiro do bem e do mal. Perigosamente, o avião que está dentro de Brasília (plano piloto), não sabemos para onde e quando vai levantar voo, quem vai pilotar e quem são os passageiros e tripulantes. Quando o plano piloto levantar voo com os brasileiros como passageiros, espero que jamais tenha que arremeter ou sofrer a influência de falhas humanas ou tecnológicas ou pousar suavemente em uma montanha. Quanto ao resto, deixamos o destino tomar conta. (Salvador-BA).