Recebi sugestão de um leitor, poucos dias atrás, para que selecionasse como tema central de uma crônica, o fascinante assunto sobre o Presidencialismo e o Parlamentarismo, fazendo ele, na oportunidade, o seguinte desabafo para expressar o seu desencanto: “Vamos batalhar pelo Parlamentarismo… O presidencialismo, no Brasil, já se esgotou por completo!”. Embora seja sugestiva a ideia, ainda não será hoje que o atenderei. Contudo, há de se convir que a grande instabilidade nas atitudes políticas ora presenciadas no país, onde se vive constitucionalmente num sistema Presidencialista concebido para a convivência harmoniosa entre os três Poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, conduzem ao entendimento de que temos, atualmente, um Poder Legislativo com postura e desempenho de inspiração visivelmente Parlamentarista. É grande a ascendência da Câmara dos Deputados sobre o Poder Executivo, após a presidência de Eduardo Cunha, superioridade que vem debilitando a autoridade presidencial do governo.
O povo brasileiro tem sido quase que esmagado por uma explosiva avalanche de fatos e escândalos que mal dá tempo de digerir e recuperar o fôlego, e logo outro se apresenta, maior ainda. Parece que alguém descobriu, neste país, que nada melhor para esquecer um grande escândalo do que trazer a público um outro, pinçado do submundo da relação perniciosa entre administração pública e empresas. São tantos os registros antigos e recentes, de grandezas tão diferenciadas que até o Ministro Gilmar Mendes, do STF, estabeleceu uma comparação: “Diante do petrolão, o mensalão seria julgado em ‘pequenas causas’!”.
Antes mesmo de concluída a Operação Lava Jato, da qual ainda se esperam muitas novidades e as condenações na exata medida dos crimes apurados, eis que a Polícia Federal apresenta ao conhecimento público outra “Operação Zelotes”, agora envolvendo auditores do CARF-Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão do Ministério da Fazenda, criado com a visão de ser reconhecido pela excelência no julgamento dos litígios tributários, agora denunciado por fraudes nos julgamentos de processos de empresas junto à Receita Federal, envolvendo milhões de reais, e praticadas por uma quadrilha de auditores internos. Pode não ter um valor monetário desviado superior ao Petrolão, mas o episódio abala o conceito, o respeito e a dignidade que a Receita Federal sempre representou perante a sociedade. É o fim da picada! Não escapa nem a Receita Federal…! Mas não fique surpreso, caro leitor, porque já estão tirando mais um do estoque de escândalos: o da ELETRONORTE de Rondônia, subsidiária da ELETROBRÁS, isto se não estourar antes o do BNDES ou dos Fundos de Pensão! Mama mia…
Em pronunciamento feito nesta semana, a Presidente Dilma tentou levantar o moral abatido da tropa e dos brasileiros, diante do mar de lama a que conduziram a nossa Petrobrás, afirmando que a empresa “limpou o que tinha de limpar […] e já deu a volta por cima”. Ora, respeita-se o esforço e a tentativa da presidência em passar otimismo, mas é brincar com a inteligência alheia tentar cobrir o sol com a peneira…! Ou a “Operação” de limpeza foi tão a jato que o povo não percebeu que tudo já passou?
Mas, diante de Parlamentarismo, Mensalão, Operação Lava Jato e Operação Zelotes, um fato ocorrido esta semana, divulgado e comentado na internet, tem uma magnitude significativa por afetar os princípios de ética, moralidade e honestidade, além de colocar em dúvida o caráter da relação de respeito que se espera entre os membros de uma mesma agremiação partidária. Visto que o ex-presidente Lula vem caindo nas pesquisas de avaliação do seu governo passado, de 71% para 50%, segundo o Datafolha, o que o partido atribui às influências negativas da má gestão da Presidente Dilma, pondo em risco o seu projeto de retorno em 2018, dentre outras ações que querem adotar, vazou uma frase que evidencia que ela não conta com o apoio do seu partido para superar as dificuldades atuais de recuperação do país: “SE NÃO SACRIFICARMOS DILMA AGORA, NÃO TEM LULA EM 2018” (Fonte: site poderonline, em 14/04/15). Uma tremenda traição! Se não for verdade, que o partido venha a público fazer o desmentido.
Não tenho nenhuma pretensão em defender a Presidente Dilma, mas não posso conceber que o projeto de poder de um candidato, seu correligionário, mentor e padrinho político, movido por radical ambição pessoal de voltar ao governo para o terceiro mandato e estimulado por extremistas fisiológicos que estão ao seu lado, seja capaz de colocar à margem os interesses nacionais num grave momento em que o país atravessa, de estagnação econômica, volta da inflação e do desemprego, além de um deprimente conceito internacional.
Para concluir, mas não sem antes voltar o olhar à imagem que ilustra esse artigo, não temo afirmar que: “quem tem amigos assim, não precisa de inimigos…”
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 18/04/2015
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios
5 Comentários
Agenor, mais uma vez parabéns e sucesso! (Salvador-BA).
Esses são os famosos e conhecidos “amigos da onça”… (Uauá-BA)
Parabéns por mais esta, amigo! (Central-BA).
Uma crônica genial e bem detalhada, que traz uma constatação clara do que acontece: a tentativa do criador livrar-se da criatura, conforme você colocou de forma clara, Agenor. E também concordo com você, sem defender a criatura, que os erros que hoje acontecem também foram gerados a partir da administração errônea em muitos sentidos pelo criador. Como a dívida pública triplicada em 10 anos e a corrupção endêmica. Vou usar uma expressão muito comum usada nos casos policiais: ..A casa caiu…E com o estrondo abriu-se os olhos dos brasileiros. Tomara que continuem abertos. FOZ DO IGUAÇU-PR
Eu atribuiria um outro dito popular ao final dessa magnífica crônica: “quem com porcos se mistura, farelos come”. (Salvador-BA).