Junho chega e nos encontra cabisbaixos, receosos do riso. Os santos juninos, quando aqui descerem para os seus festejos, encontrarão as ruas vazias e nossas casas fechadas. Nenhuma fogueirinha acesa, nenhum balão solitário riscando o céu do sertão, nenhuma bandeirola colorindo as nossas retinas cansadas, fatigadas dessa espera. São João, certamente pensará que esquecemos do seu aniversário.
O céu, compadecido de nós, provavelmente chore uma chuvinha fina.
Alguns dirão:
“são as lágrimas de Gonzagão, fechando seu fole no firmamento,
num triste lamento,
lembrando desse torrão,
pois, ninguém mais do que ele, sabe que essa,
é a época da nossa alegria mais genuína,
da nossa autêntica animação,
em que se dança o Xote das Meninas
e celebra-se com festa a fartura da colheita
na noite de São João.
Não teremos fogos, quadrilha, missa na igrejinha,
forró, sanfoneiro em toda parte, cobrinha, quentão;
arrasta-pé nas ruas, milho assado na brasa, bombinha,
enfim, só uma displicente fogueirinha acesa no coração.
Amuados em casa, talvez sejamos despertados
pelo foguetinho de um menino peralta que rompeu o distanciamento
pra dar um “Viva São João!”.
“Não há lugar para festa quando se tem um peso no coração”.
Dirá Santo Antônio, entristecido, do alto do seu altar
adornado com as singelas flores de papel crepom,
esquecido pela moçoila que pensava em se casar.
Nem novena, nem trezena, nem ladainha.
Nem o blim blom da campainha
com a chegada dos amigos,
recebidos com aquele prato de milho e amendoim cozidos:
”se aprochegue, pode entrar, seu menino!”
Nas janelas, apenas nossos olhos umedecidos,
pensando, “como era bom o nosso mês junino”.
Talvez forremos a mesa com uma toalhinha de chita,
degustemos sem muito gosto uma canjica,
e na vitrola uma canção nos arrebata,
deixando uma lágrima do peito rolar feito brasa:
“Se avexe não, que amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada,
Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa”.
Ah, meu São João do Carneirinho,
se ano que vem estivermos todos juntinhos,
lhe prometo fazer uma festa mês inteirinho!
Fonte e Texto de: Ivan Santtana
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 02/06/2020
1 comentário
Ivan Santana, amigo querido!!!
Adoro a obra dele.
Em tudo que ele cria é maravilhoso!
O homem da arte!!!
Beijos, querido!!!
Silvana Teixeira