Tenho, por vocação, o hábito de apreciar a leitura de uma boa crônica ou de ouvir comentários de bons âncoras do rádio e da televisão, pela amplitude e objetividade na análise dos problemas nacionais dentro do contexto político vigente.
Não consigo entender, contudo, onde está a razoabilidade de alguns enfoques na tentativa de passar à população o convencimento de que em Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, ou na Operação Lava Jato, como um todo, encontra-se toda a culpa da quebradeira ou quase desativação das maiores empreiteiras brasileiras da construção civil. Essa pretensão distorce a verdade dos fatos e se configura numa total inversão de valores, visto que os proprietários dessas empresas, confessadamente, assumiram em seus depoimentos que integravam o sistema de corrupção no país e denunciaram, nominalmente, os seus comparsas! Ora, não fosse a investigação conduzida com seriedade, essa prática continuaria eternizada e silenciosa.
Obviamente que essas empresas, pela competência e estrutura que possuíam, e pelo elevado nível de emprego que ofereciam, desfrutavam do respeito e admiração de toda a sociedade e se constituíam em motivo de honra para o país. Mas, diante da forma detalhada como os próprios donos delinearam todo o arcabouço dos crimes de superfaturamento e propina, do qual eles e tantas outras autoridades nacionais se beneficiaram, seria pretender encontrar “chifre em cabeça de porco” a reversão da culpa dos réus para os seus juízes!
Um detalhe que os diferencia dos ladrões de galinha do passado, que também delatavam um ao outro, está na falta do corte de cabelo com a máquina zero, o que se constituía numa forma da sociedade distinguir de pronto os malfeitores. É duro dizer isso? Não. Duro foi saber que aquelas empresas que tanto admirávamos eram como sepulcros caiados: lindos por fora, podres por dentro!
Considero até ingênuo e desproposital o que alguns dizem: “que a Lava Jato, erroneamente, destruiu essas empresas, quando deveria condenar apenas os seus proprietários”, para não afetar a economia e garantir o emprego! Primário e surreal se ouvir esse tipo de conceito. Como é possível desconectar de igual culpa esse elo proprietário/empresa, condenando apenas um e considerando o outro inocente e habilitado a continuar as suas relações de investimento com o Estado? Ora, se a máquina administrativa e operacional foi usada pelo Sistema, como isentá-la da corresponsabilidade e culpa?
O nosso BNDES foi internacionalizado a serviço de um irresponsável projeto político-ideológico da esquerda brasileira. Sem qualquer pretensão maldosa ou intencional, num breve esforço de memória iremos perceber que em todos os países onde o nosso BNDES investiu bilhões de dólares, as obras nunca tiveram objetivos de cunho social, mas a conveniente liberação de projetos em valores que permitissem a operacionalização da propina tanto pra lá como pra cá e, geralmente, subordinado à necessária identidade ideológica.
Como uma mera operação bancária, o fato passaria despercebido. Todavia, convém registrar que todos esses contratos tinham o aval oficial do Governo Federal, o que significava que, na inadimplência, o Tesouro Nacional, ou os recursos públicos, seriam acionados para honrá-los, o que já está acontecendo. E os mentores dessa política danosa ao país, o que dizem? Silêncio absoluto! Sabem por quê? Porque nem um centavo saiu do bolso deles, ao contrário, engordou algumas contas bancárias no exterior, encheu buracos nos quintais ou mesmo apartamentos, como o fez um certo baiano esperto, caso em que agiu como um fiel depositário, mas, até hoje está preso.
Recordo-me que, num certo momento desse processo da operação Lava Jato, o grande empresário Emílio Odebrecht em entrevista pública, intermeada com breves sinais de riso, talvez de origem nervosa, dizia “que a corrupção sempre existiu neste país”, o que não era uma novidade, mas queria questionar o público do porquê de tanta surpresa! Daí o mérito da operação Lava Jato, que tentou dar um basta nesse carcomido processo de criminalidade nacional, quase institucionalizado.
Impossível é admitir qualquer diferença de peso na culpa entre empresários julgados e punidos, e suas respectivas empresas. Seria “dois pesos e duas medidas”, ou um julgamento injusto e desonesto! Punir a desonestidade é crime?
O texto da semana já estava pronto, mas sobre a decisão infeliz do Presidente do STF cabe uma palavra: INDIGNAÇÃO! A entrevista do Presidente do STF, Dias Tófoli, logo após encerrada a sessão, passando a bola para o Congresso Nacional mudar a lei, e lembrando Pilatos, pode sugerir um título para o próximo artigo: STF: LAVANDO AS MÃOS!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público- Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 10/11/2019
12 Comentários
Parabéns por mais este belo texto. No nosso país, assistimos perplexos a uma enxurrada de absurdos e despropósitos. Por aqui, querem colocar a culpa da quebra de empresas não aos seus donos que, corromperam e se deixaram corromper, mas, sim, estupidamente, colocar a culpa, indevidamente, nas instituições averiguadoras e julgadoras. Enfim, o cúmulo do absurdo! (Brasília-DF).
Concordo plenamente com seu artigo, o pior cego é o que não quer ver. Pobre povo brasileiro, continua iludido… (Feira de Santana-BA).
Perfeita análise. Realça que a ideologia estúpida de partidos políticos da esquerda brasileira , apoiados por grupos jornalísticos progressistas, apenas tenta enganar a opinião pública desviando a atenção para fatores desconexos com a realidade. Pois a atividade empresarial jamais pode admitir corrupção e desvios de verbas. Públicas ou não. A lisura e a honestidade encaminham ao desenvolvimento perene e efetivo. A corrupção apenas destrói. E infelizmente maioria dos ministros do STF está alinhado com a criminalidade. Protegendo criminosos.FOZ DO IGUAÇU
Concordo plenamente, e digo mesmo que leve um certo tempo, o Brasil estará livre da maioria dos brasileiros corruptos, e os bons caracteres prevalecerão no judiciário, legislativo e executivo. (Salvador-BA).
Gostei muito meu irmão. É por aí. (Salvador-BA).
Parabéns pelo brilhante antigo. Nota 10. (Nordestina-BA).
Perfeito! Parabéns! (Brasília-DF).
Perfeita análise. Realça que a ideologia estúpida de partidos políticos da esquerda brasileira , apoiados por grupos jornalísticos progressistas, apenas tenta enganar a opinião pública desviando a atenção para fatores desconexos com a realidade. Pois a atividade empresarial jamais pode admitir corrupção e desvios de verbas. Públicas ou não. A lisura e a honestidade encaminham ao desenvolvimento perene e efetivo. A corrupção apenas destrói. E infelizmente maioria dos ministros do STF está alinhado com a criminalidade. Protegendo criminosos.FOZ DO IGUAÇU
Realmente você está coberto de razão quando afirma que “Sentir pena dos culpados é trair os inocentes” e nesta crônica EMPRESÁRIOS E EMPRESAS: INOCENTES E CULPADOS! se percebe que o predominante foi exatamente A CORRUPÇÃO, inclusive, se propagou por todos os quadrantes do nosso Brasil, e as ideologias cultivadas pelo partido que dominou a política nos últimos anos, além do radicalismo de fanáticos apegados a subversão e corrompido pela predominância da corrupção, foi a razão da existência de uma fase negra que em nosso País, houve uma causa inexorável do atraso que sustentou uma situação de incapacidade de assumir o caminho do progresso, podemos até acreditar, que a Lava à Jato foi importante para deter a sangria que a corrupção ocasionou na estrutura financeira dos nossos Municípios, Estados e a própria Nação Brasileira. (Manaus-AM).
Amigo, suas observações, sempre precisas e honestas, o admiramos muito. (Estou em Irecê e Franklin em Petrolina, leio suas crônicas p/ telefone, ele o elogia bastante, nos identificamos , você nos representa!. (Irecê-BA).
Meu estimado colega Agenor.
Lendo seu artigo desta semana e como é do meu hábito a franqueza de concordar ou discordar, vejo que:
a) talvez lhe haja escapado a notícia segunda a qual os procedimentos em países do primeiro mundo é preservar-se as empresas e respectivos empregos e punir os administradores que erraram. O melhor exemplo aqui na Bahia é o brutal desemprego em Maragogipe e todo seu entorno, com a desativação do Estaleiro de São Roque do Paraguaçu, já quase pronto para entrar em operação;
b) em que pese o salutar propósito de inibir a histórica praga da corrupção no Brasil, já está mais que provadas as armações feitas por Moro e Dalagnol visando punir, inclusive politicamente, alvos pessoais específicos e viabilizar a assunção do primeiro a notável cargo de ministro de governo;
c) quanto à comentada decisão recente do STF, embora alguns membros do colegiado se mostrem não muito confiáveis, a julgar pelo que dizem muitos consagrados juristas, a cláusula constitucional que assegura aos julgados a prisão só após o trânsito em julgado, é pétrea. Como tal, não passível de alteração (via PEC ou não) razão por que, até então, o que o STF fez em contrário foi acomodar deliberações transitórias a inadmissíveis conveniências políticas. Daí não há que se falar em lavar as mãos como Pilatos. Mais uma vez, desculpe meu conflitante ponto de vista em relação ao seu, embora o tendo como exemplar mestre na escrita. (Salvador-BA).
Bem sensata e atualíssima a sua crônica Agenor. Esquecem àqueles que convenientemente querem desvincular a pessoa física (ser) da pessoa jurídica (Empresa) que, quem faz a instituição é o homem, ela por si só inexiste. “Uma árvore ruim não pode dar frutos bons. Da mesma forma, uma árvore boa não dará frutos ruins.” Jesus.
Mas alguns homens formadores de opinião perderam ou inverteram alguns valores, distanciando-se do único código de moral e ética que é o Evangelho de Jesus. Perderam a noção de Pátria, passando a amar as coisas e utilizar as pessoas para atender aos seus interesses imediatistas de caráter puramente material. Preocupam-se com “quem” são e não com o “que são”. No primeiro caso, cargo, função, posto, etc. No segundo, essência divina, eu interior.
A Pátria deixou de ser a melhor sociedade que seus filhos herdarão e sim a terra de quem der mais. Um grande abraço mano e que Deus o abençoe. (Salvador-BA).