Famoso por fantasias luxuosas e carros alegóricos que abusam da tecnologia, o Carnaval do Rio esteve ameaçado pela crise econômica pela qual o Brasil passa desde o ano passado. Apesar de terem sentido os efeitos da economia ruim, as escolas de samba garantem que souberam se virar e os desfiles deste ano vão manter o padrão de qualidade – e beleza – dos carnavais anteriores.
“Todas as escolas estão passando por um momento de readaptação do carnaval em função da crise”, contou ao iG Décio Moura, diretor geral de harmonia da Unidos de Vila Isabel. “Mas às vezes você cresce na adversidade”, disse.
Sem especificar valores, ele confirmou que o ano foi difícil para a agremiação da zona norte do Rio. “Perdemos muitos parceiros, perdemos tempo e os materiais encareceram”, explicou.
Outro fator que complicou a produção das escolas neste ano foi a alta do dólar. Com a moeda americana chegando a valer mais de R$ 4, os adereços tiveram que ser adaptados e alguns materiais substituídos. “Um quilo de plumas estava custando US$ 220, então tivemos que abrir mão”, contou Mauro Quintaes, carnavalesco da Unidos da Tijuca, que trocou as plumas por palha de milho e capim dourado.
A escola do Borel vai falar sobre a cidade de Sorriso, no Mato Grosso, que é considerada a capital da soja. Por ter o campo como tema e não apostar na tecnologia para impressionar na avenida, Quintaes acredita não ter sido muito prejudicado pela crise. “Geramos uma economia interessante substituindo materiais, mas nosso grande parceiro foi o enredo”, confessou o carnavalesco.
Mercado retraído
O tema do desfile foi parceiro da Tijuca, mas a agremiação não teve a mesma sorte na hora de buscar patrocinadores. A escola até tentou, sem sucesso, o patrocínio da cidade de Sorriso, mas teve que bancar por conta própria o carnaval.
Como um compromisso com a comunidade, os diretores preferiram tirar o orçamento de R$ 12 milhões dos cofres a cobrar por fantasias. “Temos só três alas comerciais, então 99% das nossas fantasias são doadas aos componentes. Assim, garantimos a alma da escola”, explicou Mauro Quintaes.
A Unidos de Vila Isabel não seguiu a fórmula da Tijuca, mas sentiu a crise no bolso mesmo assim. “A frequência de pessoas na nossa quadra caiu muito, foi um reflexo da crise”, contou Décio Moura, explicando que a receita levantada com as festas no barracão da Vila Isabel foi menor neste ano. A escola também arrecadou menos com eventos externos e apresentações em festas particulares. “Quando a crise aperta, a primeira coisa que as pessoas cortam é o lazer”, disse.
Dinheiro público
Assim com a Tijuca, a Vila Isabel também sofreu com a falta de patrocínios. “Os parceiros demoraram a chegar e, quando vieram, vieram com o freio de mão puxado”, afirmou o diretor de harmonia da escola.
O que salvou o carnaval carioca em 2016 foi o repasse de dinheiro feito pela prefeitura para as escolas. Neste ano, a gestão de Eduardo Paes liberou R$ 24 milhões para as agremiações, R$ 2 milhões para cada uma do Grupo Especial.
“O repasse foi a grande salvação das escolas. Se não houvesse isso, não teríamos condições de fazer um bom carnaval”, admitiu Décio, garantindo que esse pensamento foi unânime na Cidade do Samba. “Sem dúvidas o dinheiro da prefeitura salvou o carnaval”, completou Mauro Quintaes.
Mesmo com todas as adversidades, os integrantes das escolas garantem que o carnaval carioca deste ano será exuberante como sempre. “Temos alegorias belíssimas, não perdemos nada em qualidade. Vamos fazer um carnaval como a Vila Isabel não faz há anos”, adiantou Décio Moura. A Vila Isabel venceu o campeonato em 2013, mas ficou em 10º em 2014 e em 11º no ano passado, quase sendo rebaixada.
Na Tijuca, o otimismo também está em alta. “Estamos muito bem e espero brigar pelo campeonato”, contou Mauro Quintaes, que no ano passado ficou na 4ª colocação com a escola, admitindo que o páreo vai ser duro. “Não vai ser um carnaval tímido nem menos luxuoso. A função do carnavalesco é deixar o desfile bonito e vistoso, e é isso que todas as escolas estão fazendo”, completou.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 05/02/2016