Mesmo com a chegada do novo ano, ainda persiste a perplexidade da sociedade diante do infindável volume de irregularidades e sujeiras que a cada momento são descobertas, visto que todos acompanham com interesse as investigações da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Em cumprimento às determinações do STF, do Juiz Sérgio Moro e Procuradores Federais, as diligências são realizadas com muita eficiência, recolhendo milhares de documentos e equipamentos de informática, além da quebra do sigilo bancário e telefônico dos suspeitos. O juiz federal Moro disse uma verdade, com muita propriedade: “Temos uma grande oportunidade de mudança que não podemos perder […] O que muda o País são instituições fortes. É preciso promover mudanças políticas, legislativas, culturais. A sociedade tem condições de pleitear isso, muito mais do que os agentes públicos”.
É de estarrecer o quanto os políticos, empresários e lobistas se especializaram na prática de crimes dos mais variados perfis. Segundo depoimentos do delator Cerveró, houve empréstimo de 12 milhões de reais com o Banco Schahin, feito pelo fazendeiro Bunlai, com o fim de comprar por 6 milhões de reais o silêncio de alguém que queria abrir o bico e a outra metade para robustecer os cofres de certo partido…! Em contrapartida, o mesmo Grupo Schahin foi agraciado com a venda de Navio-Sonda para a Petrobrás, com preço superfaturado (quase R$2,5 bilhões), tudo isso com o objetivo unicamente de fazer dinheiro para enriquecimento ilícito dessa quadrilha de safados e gerar caixa para campanhas eleitorais. Pensam que aquele empréstimo do Bunlai foi pago? Nada, a outra operação que beneficiou o Grupo quitou o débito, segundo o delator! Mas o cidadão comum, agropecuarista que produz alimentos ou bens exportáveis e gera divisas ao País, tem a obrigação de pagar os seus financiamentos com juros, exceto se é uma Friboi da vida, para a qual até dinheiro dos Fundos de Pensão é atraído para investimento!
Sei que é grave a situação do país, mas antes de tentar o ajuste fiscal como alternativa de recuperação, onerando os que trabalham e produzem; antes de elevar a tarifa de energia em 51,7%; antes de subtrair as verbas da saúde para gerar o caos e encontrar argumentos que justifiquem a volta da CPMF; antes de usar da mentira na ocultação dos índices verdadeiros da economia para conquistar uma reeleição; antes de tantas mazelas praticadas, inclusive usando das pedaladas fiscais, deveria o governo fazer um “choque de gestão” moral e administrativo, reduzindo os Ministérios ao mínimo necessário e extinguindo aqueles que só existem para o “empreguismo” e negociatas com os partidos, o que ajustaria as despesas da máquina do Estado. Virou piada líderes de partidos recusarem Ministérios, alegando que esse ou aquele “não tem dinheiro”…!
Na torpe intenção de encobrir o sol com a peneira, há aqueles simpatizantes que tentam amenizar a gravidade das centenas de crimes de corrupção ora descobertos, com dois argumentos frágeis e inaceitáveis: 1) que o mérito é do governo, sem cuja permissão essas investigações não teriam chegado a esse nível; 2) que tudo isso aconteceu em outros governos ou que é uma herança do passado! Simples a conclusão: a) a iniciativa de toda essa apuração está embasada na dignidade de um Juiz Federal, com o apoio de uma corporação digna, responsável e que se respeita, como a Polícia Federal; b) e não se pode recorrer à menção de erros do passado ou, como diz o leitor Olivier Gontijo, à alegação de que “os outros governaram este País durante 500 anos e NÃO FIZERAM NADA”, como justificativa para tanta bandalheira que se vem cometendo. Um crime não justifica o outro, diz o provérbio português.
Ora, como creditar às “honestas” intenções do governo atual pela apuração de tais crimes, se os condenados e presos são exatamente os políticos de expressão do partido oficial – o Tesoureiro e o líder no Senado Federal, inclusive -, e de partidos da base do governo, fora os que estão ainda sob “suspeita” e que, em breve, serão hóspedes do Pavilhão 6, de um certo Complexo Penal, em Pinhais-PR?!
Esta é, efetivamente, uma rara oportunidade de passar esse país a limpo e recomeçar a escrever uma nova história, não importa quais sejam os nomes ou a sigla partidária. Pelo andar da carruagem, novos atores estão sendo anunciados, inclusive da oposição, como participantes dessa peça teatral já com 20 atos, intitulada “Operação Lava Jato” e uma plateia de 200 milhões de brasileiros aguarda o seu desfecho vitorioso! Afinal, essa fábula de dinheiro foi tirada do meu e do seu bolso, meu caro leitor!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 17/01/2016