Quase dez meses antes das eleições que definirão o prefeito da maior cidade do País a partir de 2017, já é possível inferir o tom do embate que marcará o período eleitoral no próximo ano.
Ao longo das últimas semanas, o iG conversou com os principais pré-candidatos à Prefeitura paulistana, uma lista que vai de ex-administradores de São Paulo, caso da senadora Marta Suplicy, a nomes conhecidos do grande público por seus trabalhos como comunicadores na televisão, como o apresentador José Luiz Datena (PP), o deputado federal Celso Russomanno (PRB) e o empresário João Doria Jr. (PSDB).
E, apesar de afirmarem que concentrarão suas campanhas apenas em propostas, não em ataques, todos mantêm as fortes críticas que já vêm fazendo nos últimos meses contra a administração do atual prefeito, Fernando Haddad (PT), acusando sua gestão de ter deixado a cidade abandonada, especialmente em suas periferias, e atacando algumas das principais bandeiras do petista.
Ações como a implantação de ciclovias – apoiadas por 57% da população – e a redução da velocidade máxima nas duas marginais que atravessam a capital – que segundo levantamento da CET reduziu em 22,1% o número de acidentes, em 25,2% o de feridos e em 33,3% o de mortos – já se tornaram alguns dos alvos preferenciais na disputa, sempre tendo como embasamento pesquisas de opinião sobre Haddad, que mostram apenas 15% dos paulistanos aprovando sua gestão contra 49% que a rejeitam.
Todos os sete principais nomes que pretendem disputar a Prefeitura foram procurados pela reportagem. Somente Haddad e Datena não quiseram conceder entrevista.
“Ciclovia tem de ser revista”
“Além da falta de estudo, as ciclovias são malfeitas. As pessoas comparam com Europa, Estados Unidos, mas nesses lugares ciclovia é ciclovia, não é um asfalto esburacado pintado de vermelho.”
O discurso acima foi proferido pelo primeiro colocado na mais recente pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Instituto Datafolha, em novembro, o deputado Celso Russomanno, do PRB. Mas poderia ser atribuído a qualquer um dos pré-candidatos à Prefeitura paulistana.
É praticamente unânime entre eles a opinião de que as ciclovias são positivas, mas precisam ser revistas. “Naturalmente, não se pode assumir um cargo e interromper todos os programas da gestão anterior. É preciso estudar. As ciclovias podem ser interessantes, mas têm de ser planejadas, não implantadas da forma atabalhoada como foi feito, para virar manchete de jornal”, opina Andrea Matarazzo, que disputa com João Doria a preferência do PSDB pela disputa do cargo.
“Estabeleceu-se como principio para as ciclovias a meta de quilometragem, que muitas vezes desconhece o interesse real da população e o valor real da sua implantação. Não é assim que se faz”, argumenta Doria.
Pré-candidata do PMDB, a senadora Marta Suplicy – que teve Haddad como seu secretário de Finanças durante seu mandato na Prefeitura paulistana, entre 2001 e 2005 – afirma que um dos problemas do petista, “além da péssima gestão, que não vê a cidade como um todo e não prioriza seus enormes problemas, é investir em ações que poderiam ser interessantes, mas que, por falta de planejamento, criam confusão e dividem a cidade”. “A ciclovia foi feita sem planejamento, com ciclotintas pintadas sem critério. Serão revistas. E, onde funcionarem, mantidas”, diz ela.
Russomanno vai mais longe em suas críticas. “Tenho uma relação muito boa com a CET [Companhia de Engenharia de Tráfego] e sei que não foram feitos estudos técnicos para as ciclovias: foram simplesmente riscando a cidade, uma loucura. Tem ciclovia que começa do nada e termina em lugar algum. É só para dizer que pintou 400 km na cidade de São Paulo? Ou é alguma coisa pra alguém ganhar dinheiro pintando o quilômetro quadrado da ciclovia?”, acusa.
Velocidades máximas, o retorno
Da mesma forma que as ciclovias são vistas pelos pré-candidatos como uma medida aplicada sem estudo, a bandeira da redução das velocidades máximas em vias do território paulistano também é criticada com o mesmo tom pelos concorrentes de Haddad na eleição.
No geral, eles concordam que a redução de velocidade ajuda a diminuir acidentes. Mas veem a medida como mal aplicada, especialmente por incluir no rol de vias com novos limites as marginais Pinheiros e Tietê, que hoje não permitem a motoristas ultrapassar os 50 km/h e 70 km/h, respectivamente, em suas pistas local e expressa.
“Na semana seguinte à minha posse como prefeito, colocarei de volta os limites de velocidade anteriores, de 90 km/h. Não faz sentido classificar uma via expressa de lenta. O que tem de ser feito também é, assim como nos EUA, usar as câmeras de monitoramento para registrar o fluxo e determinar velocidades máximas variadas, de acordo com o movimento do horário, tanto por segurança quanto por mobilidade”, diz Doria Jr.
“Há lugares em que dá para se readequar a velocidade e outros não. E, nas marginais, está nítido que está errado”, diz Matarazzo. “Para reduzir acidentes, temos de retirar os ambulantes das pistas, que jogam pregos nas vias para parar o trânsito e vender seus produtos; realocar as pessoas que vivem sob os viadutos e que atravessam a pista a toda hora; melhorar a sinalização. São essas medidas que levariam à redução de acidente.”
Assim como para os concorrentes, Russomanno afirma que outras medidas – como a proibição de motocicletas na faixa central, pelo fato de seus condutores serem boa parte das vítimas de acidentes nas vias – seriam mais eficazes do que a redução das velocidades máximas para reduzir fatalidades.
O que o Haddad diz é tudo balela. A medida foi implantada para reforçar uma indústria de multas, para encher bolsos. A Prefeitura tem de cuidar do trânsito, impedir e multar motocicleta de baixa cilindrada; não deixar o ambulante vender na pista. Não tem nexo a diminuição nas marginais. Deixe a cidade circular, pelo amor de Deus!”
Estreante na disputa pela prefeitura paulista, Marco Feliciano discursa que, se acabar com metade das coisas que Haddad fez na capital paulista, o eleitor já terá motivos para presenteá-lo com uma estátua. “A má administração dele ajuda muito qualquer concorrente. O Haddad dá uma lição do que não se deve fazer no cargo de prefeito”, critica. “O PT jogou a cidade na lama, não se anda no trânsito, as multas se tornaram uma indústria, essas velocidades máximas são inacreditáveis. Precisamos de oxigênio novo à população.”
Preferência do eleitorado ainda é um mistério
A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha sobre a preferência do eleitorado paulistano para o pleito mostra um único candidato liderando com grande folga, apesar de ainda não ter a possibilidade de vencer as eleições em primeiro turno por não possuir mais de 50% dos votos.
Pré-candidato do PRB, o deputado federal e jornalista Celso Russomanno lidera a corrida, com 34% das intenções de voto, nos dois cenários possíveis para o pleito avaliados pelo Datafolha, quase o dobro da porcentagem dos concorrentes mais próximos, também nomes conhecidos da população da cidade.
No primeiro cenário, em que Matarazzo é o candidato do PSDB, Marta Suplicy e José Luiz Datena aparecem em segundo lugar, com 13% das intenções de voto; Fernando Haddad, em terceiro, com 12%; seguido por Marco Feliciano, com 5%, e pelo tucano, com 4%.
Com Doria na disputa, Marta mantém os 13%, Datena e Haddad ficam com 12%, Feliciano consegue 4% e Doria registra 3% das intenções de voto.
Os números, no entanto, ainda não dizem muito. Nas últimas eleições para o governo paulistano, em 2012, Russomanno também liderava a corrida até às vésperas do dia do pleito, quando se tornou o principal alvo dos adversários e não conseguiu sequer chegar ao segundo turno.
Em agosto de 2012, dois meses antes das eleições, o hoje deputado federal aparecia com 31% das intenções de votos e liderava isoladamente a corrida. O terceiro colocado na ocasião era Fernando Haddad, que tinha apenas 8%. O atual prefeito acabou derrubando Russomanno e vencendo a disputa com José Serra no segundo turno.
Blog do Florisvaldo – Informação com Imparcialidade – 28/12/2015