De todas as edições do Encontro dos Amigos da CIS, a quinta, realizada no dia 3 dezembro, foi especial. Desta feita, o evento que reúne em duas ou três vezes por ano os ex-funcionários da Companhia Internacional de Seguros, extinta em 1991, contou com a ilustre presença do ex-presidente e irmão do fundador da seguradora, Plácido da Rocha Miranda. Aos 95 anos, ele veio diretamente de Petrópolis (RJ) para o almoço no Circolo Italiano, acompanhado da esposa Maria Pia e do sobrinho Rodolfo da Rocha Miranda.
Rodolfo, que cuidou dos preparativos para viagem a São Paulo, relata que Plácido estava ansioso desde o momento em que recebeu o convite para rever seus amigos. “Ele se preparou muito para vir, fez até ginástica. Para ele, este encontro é o que dá sentido à vida. Diria que ganhou mais três anos de vida”, disse. O filho do fundador Celso da Rocha Miranda trabalhou com o pai e o tio na Internacional dos 20 aos 30 anos de idade. Segundo ele, um era o idealizador o outro o materializador. “Meu tio Plácido está no seguro desde 1930, ele foi o grande operacional da Ajax Seguros e iniciou na Internacional junto com meu pai”, disse.
Memorial da CIS
Para o organizador desta e das demais edições do encontro, Adevaldo Calegari, atual mentor do Clube dos Corretores de Seguros de São Paulo (CCS-SP), a reunião de ex-funcionários da Internacional é um acontecimento marcante. Não apenas pelo espírito de confraternização e amizade que une velhos amigos, como também pelo desejo de preservar a memória da seguradora. Segundo ele, em cada encontro, um ou outro sempre traz alguma lembrança da Internacional. “Já trouxeram crachás, bottons, fotos, documentos. Tudo isso não tem preço”, disse.
Aliás, Calegari se empenha em constituir um Memorial da Internacional de Seguros. “Já tenho uma quantidade enorme de material, mas quem tiver mais coisas e puder ceder, temos uma sala no Rio de Janeiro”, disse. Rodolfo relatou que está em missão semelhante em relação à Panair, empresa da família Rocha Miranda que teve suas atividades suspensas na época do regime militar. “Decidimos fazer uma mostra permanente das memórias da Panair”, disse ele, que, atualmente, ocupa o cargo de presidente da antiga companhia aérea.
Com a participação de aproximadamente 35 pessoas, o encontro estava desfalcado de uma presença importante. “Infelizmente, uma pessoa que lutou muito para que estes encontros acontecessem já não está mais conosco. Marcelo da Rocha Azevedo faleceu em agosto. Foi muito triste, porque ele sempre teve uma relação muito próxima com todos nós”, disse. Em seguida, solicitou um minuto de silêncio em memória do amigo. “De onde ele estiver, deve estar feliz com o nosso encontro”, disse. Presente no evento, Roberto da Rocha Azevedo agradeceu a homenagem em memória do irmão Marcelo.
Homenagem
Calegari dedicou uma parte do encontro para realizar uma homenagem a Plácido da Rocha Miranda. Ele entregou uma placa, cujos dizeres foram produzidos com as sugestões de todos do grupo. “Gostaria de perpetuar a emoção deste momento e o carinho por meio dessa simbólica homenagem”, disse. Em seguida, convidou Rogério Alves e Artur Santos para lerem o enunciado da placa:
“A grandeza não consiste em receber homenagens, mas em merecê-las”. Aristóteles.
“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. Fernando Pessoa.
Ao amigo Dr. Plácido da Rocha Miranda, nosso respeito e gratidão por nos ter permitido participar, através da Companhia Internacional de Seguros, do mais expressivo e fundamental capítulo da história do mercado de seguros no Brasil.
Amigos da CIS – Circolo Italiano – São Paulo
03 de Dezembro de 2015.
Emocionado com a homenagem, Plácido destacou a relevância da trajetória da seguradora. “Esta placa é muito importante para mim, porque toca diretamente na minha história e na de todos da Internacional, que é uma seguradora importante na história do seguro no Brasil. Se não existisse a Internacional, talvez, não houvesse a técnica de seguro que temos hoje. Portanto, agradeço muito. Esta placa não ficará apenas no coração, mas na parede da minha casa”, disse.
Maria Pia da Rocha Miranda também se manifestou sobre a homenagem, revelando um fato que poucos conheciam. Ela contou que conheceu o marido, 62 anos atrás, em uma época em que o seguro já estava presente em sua vida. “Papai fundou a Generali do Brasil em 1925, em São Paulo, cujo escritório funcionava na Rua Marconi, no centro da cidade. Posteriormente, ele levou a sede da seguradora para o Rio de Janeiro. Portanto, o seguro está enfronhado em mim”, disse. “É um enorme prazer estar aqui, estamos muito felizes”, acrescentou.
Plácido voltou a mencionar o pioneirismo da Internacional na área técnica, relatando que a seguradora foi responsável pela implantação da atuária no país. “Tanto isso é verdade que a Internacional treinou os técnicos do IRB”, disse. Ele comentou, ainda, sobre a importância de se preservar a história do seguro brasileiro. “Tudo mudou, mas houve uma época em que as seguradoras eram mais importantes que os bancos. Hoje, vocês estão numa época nova, mas com a velha e boa técnica. Agradeço muito esse encontro, que tocou profundamente o meu coração”, afirmou.
O aprendizado
Como é praxe em todos os encontros, Calegari concedeu a palavra aos amigos da CIS estreantes no evento. Um dos que fez questão de dar o seu depoimento foi Hélio Opípari, que revelou ser o mais antigo colaborador da seguradora entre os membros do grupo. Segundo ele, até a recente publicação de sua biografia, poucos sabiam que havia trabalhado na Internacional. Iniciou em Uberaba (MG), aos 16 anos, em 1945, na área de acidentes pessoais, tornando-se mais tarde inspetor.
Ele contou que conheceu Karl Blindhuber, um alemão, que, a seu ver, “era o maior homem de incêndio do país”. Opípari se surpreendeu no encontro com a quantidade de amigos. “Do meu pessoal de Uberaba, todos já morreram. Sobraram apenas alguns meninos, como eu, de mais de 80 anos. Tive o grande prazer e honra de pertencer à família Internacional”, disse, recebendo muitos aplausos.
Outro que também quis dar o seu depoimento, apesar de já ter participado de outros encontros, foi Artur Santos. Ele trabalhou na seguradora durante seis anos, na área técnica, alcançando o posto de diretor, pela primeira vez em sua carreira. “Aceitei o desafio e hoje me orgulho muito”, disse. Santos contou que decidiu sair da empresa logo no início da gestão Naji Nahas, investidor libanês, que teria levado a Internacional à liquidação extrajudicial. “O sistema operacional teve problema e eu, preocupado, tentava justificar à nova diretoria o atraso no pagamento de sinistros, quando ouvi: ‘não se preocupe, quanto mais atrasar, mais vamos ganhar dinheiro’. Graças a Deus sai naquele momento”, disse.
Rogério Alves, que atuou por 30 anos na Internacional, também se manifestou. Ele lembrou a entrevista que Plácido concedeu, em 1996, ao projeto “A Atividade de Seguros no Brasil”, desenvolvido pelo convênio entre o CPDOC-FGV e a Funenseg. “Lá tem toda a história do seguro. Devemos agradecer a esta maravilhosa família por nos ter proporcionado participar dessa história. Tudo que aprendi de seguros foi na Internacional”, disse.
Osmar Bertacini, presidente da APTS, que trabalhou na mesma época de Rogério, permanecendo 22 anos no seu primeiro emprego, também agradeceu. “O que eu sei e fiz em 54 anos de carreira devo à Internacional. Se alguém tem de agradecer à família Rocha Miranda, este alguém sou eu”, disse.
Avalcir Galesco também iniciou no seguro na Internacional, depois que a Ilhéus Seguros, empresa em que trabalhava, foi adquirida pela Internacional. “Aprendi tudo sobre seguro na internacional; lá me formei advogado e fiquei até o dia em que aquele senhor, que não gosto de pronunciar o nome, adquiriu a empresa. Então, pedi a minha conta e montei meu escritório de advocacia. Até hoje digo que fui advogado da internacional, com muito orgulho”, disse.
Outros também deram seus depoimentos, como Adilson, Florisvaldo dos Santos, Hamilton Vacini, Silvio Gebran e Mario Marques. Pela primeira vez no encontro, Maria José, Jandira Alves Barbosa, Perci Rosa e Jorge Martinez foram saudados por todos. Encerrando o evento, Calegari manifestou sua satisfação com a presença da família Rocha Miranda. “Tê-los aqui conosco é recordar uma das épocas mais importantes do mercado segurador brasileiro”, disse. Em seguida, ele comunicou que o próximo Encontro de Amigos da CIS será realizado na segunda quinzena de março, em Jundiaí, no sítio de Silvio Gebran, que oferecerá, inclusive, transporte até o local. “Não percam, será muito agradável”.
Veja todas as fotos do evento no link:
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Fonte: Márcia Alves – Fotos: Carlos Cândido
Blog do Florisvaldo – Informação com Imparcialidade – 23/12/2015