De vez em quando, permito-me fazer um giro no tempo, a fim de sentir o que mudou – ou não mudou -, ao longo de quase uma década, recorrendo ao recurso natural dos registros históricos do cotidiano, além de erguer um olhar de curiosidade no próprio arquivo do tempo contido nas crônicas antigas de minha autoria, a exemplo do título “UMA PERIGOSA ESCALADA”, de 19/10/2013. Assim, a leitura de alguns trechos interessantes de nove anos atrás, oferece para reflexão o indicativo de que pouca coisa mudou:
“Ainda que seja uma tendência natural vincular o criador à criatura; as Entidades às lideranças que as representam; as Câmaras aos seus vereadores e deputados; o Senado aos seus senadores; o Judiciário aos seus juízes, desembargadores e ministros; e o Poder Executivo aos respectivos prefeitos, governadores e presidentes, é preciso que se tenha o cuidado e a racionalidade para entender que os julgamentos devem se restringir à avaliação do comportamento e desempenho dos indivíduos, mas, preservando-se as instituições como um patrimônio a ser respeitado”.
“Atualmente, em todos os recantos os fatos que mais repercutem são os lamentáveis comentários sobre o total desprezo dedicado à classe política, além de expressões de desencanto com o mais legítimo instrumento de manifestação da vontade do cidadão, que é o exercício democrático do direito ao voto. Toda essa explosão de revolta do cidadão, encontra respaldo na visível tendência da maioria dos que se dedicam à política de estarem imbuídos de propósitos escusos, movidos pelos interesses pessoais e quase sempre com ímpetos de se locupletarem dos recursos públicos.
“Todo o sentimento de descrédito que domina o cidadão de hoje é de inteira responsabilidade dos maus políticos, cujo perfil está refletido nas verdades profetizadas há mais de 100 anos por Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, e de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Impossível não repetir as suas palavras, sempre presentes e oportunas em qualquer análise da atualidade!”
Como se pode ver, não pode existir coincidência quando um dos homens mais íntegros e inteligentes da história do Brasil, tenha tido esse lampejo de tamanha sabedoria e rara visão sobre um todo daquilo que se passava ao seu redor, aí incluindo com toda certeza a classe política da sua época. Certamente que, desde lá, a classe já tinha os seus defeitos, ainda que em menor escala do que os de hoje, onde a corrupção deslavada impera de uma forma explícita e sem vergonha de absolutamente nada!
“São verdadeiras as afirmativas de que se o povo não se manifestar as mudanças não irão jamais acontecer e de que as coisas erradas tendem a se consolidar como práticas comuns do dia a dia. Além de não se implantarem as reformas que a sociedade reclama, há de se pugnar pela defesa e manutenção das instituições que justificam a sua existência”.
“Não se combate os desvios dos gestores que integram o sistema destruindo as instituições que são os fundamentos da democracia. Qualquer atitude nesse sentido abre espaço para a participação indesejável dos amantes da força, estimula o surgimento do autoritarismo e das ações dos que desejam suprimir as liberdades individuais. Sob todos os aspectos, os protestos não podem oferecer argumentos que façam despertar os simpatizantes dessas correntes discricionárias”.
A luta deve ser sempre em torno de ideias e valores, que visem a construção de uma Nação forte e respeitada não somente pelos brasileiros, mas, também, pelo conjunto das Nações que integram as suas relações diplomáticas e comerciais.
O fato do atual Presidente ser um ex-Capitão do Exército, não justifica ou privilegia os seus partidários a escolherem a frente dos Quartéis dessa briosa força Militar, para reivindicarem a sua intervenção num processo de escolha que foi pelo voto dos brasileiros, tenham gostado ou não do resultado. As manifestações são um direito inquestionável. Onde realizá-las e por que, essa é a reflexão que precisa ser feita, para o bem do Brasil!
E como se pode ver na ilustração acima, o recado está bem dado: Não é com violência que vamos mudar o Brasil.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 20/11/2022
6 Comentários
Caro Agenor, certa vez eu lhe disse que sua visão, habilidade e criatividade na escrita, faz com que suas crônicas nunca fiquem velhas ou desatualizadas, a exemplo de celebres frases que foram ditas por grandes personalidades da história do nacional, entre tantas outras, a proferida por Rui Barbosa, citado na crônica.
Parabéns!
Meu caro Agenor,
Sou admirador do seu estilo conciso e bem elaborado.
Não raro, permito-me discordar de seu ponto de vista o que volto a fazê-lo: 1) não é pelo fato de o atual Presidente ser Capitão da Reserva.do Exército que as manifestações estão acontecendo em frente aos quartéis e sim porque as Forças Armadas representam a última esperança do “brasileiro de bem” de conter a escalada de violência que está sendo praticada pelo poder judiciário, leia-se STF, contra quem se opõe à vontade dos seus integrantes. “Eleição não se ganha se toma” (ministro Barroso); “Perdeu Mané” (do mesmo Barroso), sem contar todo o autoritarismo do ministro Alexandre – que se acha “O pGrande” – mandando prender, multar, cassar direitos de cidadãos de bem; 2) será que o candidato foi, de fato, eleito democraticamente? Em qualquer competição, quando um dos concorrentes é beneficiado pelos organizadores essa disputa é justa? Por que o ministro Barroso (sempre ele), foi para a Câmara interferir em assuntos da exclusiva competência do legislativo no que diz respeito à transparência das eleições? Por que o ministro Alexandre exonerou servidor do TSE que mencionou desigualdade no tratamento dado à propaganda eleitoral dos candidatos através das emissoras do Nordeste? E, por fim, qual nação deseja mostrar-se para o mundo como tendo tirado da prisão alguém preso por roubo, julgado e condenado em três instâncias e fazê-lo presidente? Aí estão os “fatos” nos quais alicerço minha discordância. (Salvador-BA).
Muito bom Agenor. (Salvador-BA).
De acordo com a ilustre reflexão acima. (Rio de Janeiro-RJ).
Quanto a seu texto “UMA PERIGOSA ESCALADA – II”, tenho a dizer o seguinte:
Toda manifestação é legítima, quando há reivindicação legítima, o que não está sendo o caso, pois se trata de revolta financiada e contra instituições de um dos poderes do Brasil, além do mais pedir intervenção pelas forças armadas é inconstitucional e como tal ser punida.
o STF/TSE, já descobriram em torno de 43 empresários do agronegócio, que estão financiando milhões desses movimentos de bloqueios e lamentações em muros das forças armadas, sem contar também de alguns militares de altas patentes que colocam fogo na fervura, estimulando a continuidade.
Perfeito amigo!