Por mais que haja empenho de boa parte da população em aceitar a complexidade do momento, a realidade se torna cada vez mais difícil de ser absorvida. E um dos fatores mais preponderantes e que contribui negativamente para que não se alcance uma mais razoável compreensão dessa gravidade, é a enorme diversidade conceitual sobre o Vírus COVID-19 e seus muitos protocolos em circulação nos diversos órgãos de imprensa, tanto por posições assumidas pelos seus editores, como por manifestações médicas divergentes por parte de muitos profissionais da área. Ora, é evidente que esses conflitos criam enorme angústia e desesperança!
Outro fator que afeta fundamentalmente o sentimento de confiança e crença de que tudo isso vai passar, esbarra na chocante falta de prioridades objetivas no combate ao COVID-19, desde o início. Entre abril e maio/2020, justamente quando o Brasil registrava 2.575 mortes e 40.581 casos infectados, em algumas entrevistas em frente ao Palácio, o Presidente da República já esbanjava sinais de indiferença e desprezo, ao arrotar frases desse quilate: a) “…Houve uma potencialização das consequências do vírus; b) “Levaram o pavor para o público, histeria. E não é verdade. Estamos vendo que não é verdade. Lamentamos as mortes, e é a vida. Vai morrer!”; c) “Aproximadamente 70% da população vai ser infectada. Não adianta querer correr disso. É uma verdade. Estão com medo da verdade?”; d) “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”; e) “Não sou coveiro, tá?”. Ao mesmo tempo em que o vírus era uma invenção, um exagero, e não verdade, previa que 70% do Brasil seriam infectados! E tantas outras expressões infelizes e impróprias para um Presidente.
Como estamos atingindo a marca de 252,8 mil mortes e mais de 10,4 milhões de infectados até agora, pode-se afirmar, sem medo de errar, que esse Messias realmente não faz, nem fará milagre, mas profetisa com relativo acerto, visto que as mortes por ele anunciadas percorrem o Brasil em todas as direções, de Norte a Sul, e de Leste a Oeste!
É óbvio que não se pretende insinuar ou afirmar que a culpa dessas mortes é de “A” ou de “B”, o que seria injusto e imprudente. Mas, um líder tem de ter freio na língua, ser sensato, coerente e consciente de suas responsabilidades, deixando de lado a politicalha ao estilo CENTRÃO ou os radicalismos inconsequentes, em detrimento à defesa da vida dos cidadãos, diante de um claro colapso em todo o sistema de saúde do País, causado por uma “gripezinha”. Por essa expressão de indiferença e desprezo quando tudo começou, é que o povo está pagando caro!
Quando se fala no indesejável confinamento ou funcionamento restritivo das atividades sociais, religiosas e empresariais, definido como “Lockdown”, não há dúvida de que é a medida governamental mais extrema para tentar reduzir os impactos do crescimento desordenado de infectados, e consequentes mortes. Se governantes de outros países, que vivem igual drama, adotam essa alternativa para a saída do caos, será que o nosso Presidente é mais sábio que todos eles para seguir na direção contrária, desviando as suas atenções e gestões administrativas para ações de caráter secundário, justamente numa hora de tragédia, dor e sofrimento de tantos? Esse senhor, pelo que parece, tem olhado apenas para seu próprio umbigo…
É incontestável a assertiva de que o país não pode parar totalmente, no que concordo plenamente. O que se questiona, é que embora o caos recomende a união solidária de todos, sem vaidades ou partidarismos, o que se testemunha no cenário nacional é uma triste e repugnante rixa política entre autoridades e partidos políticos. Assim sendo, é hora de dar um basta nisso! É hora de ter respeito pelo povo, o verdadeiro dono do poder, atualmente relegado a último plano!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 28/02/2021
18 Comentários
A realidade é uma só: “Do Oiapoque ao Chuí”, não temos distinção.
Há mais de um ano de isolamento, nunca passou pela minha cabeça viver o que estamos assistindo.
O enfrentamento da pandemia desencadeada pela Covid-19 traz significados, grande impacto e muitos desafios que se colocaram desde a proliferação do vírus.
Uma experiência que trouxe no seu bojo muitos aprendizados e trará ainda mais porque, afinal, vivemos o processo sem imaginarmos o que teremos pela frente na pós-pandemia.
Prezado colega Agenor. Dispensável qualquer comentário adicional ao texto de mais uma brilhante performance redacional. E o mais importante, repleto de “verdades verdadeiras”. (Salvador-BA).
Apesar do lamentável (des)governo e da desenfreada ação dos renitentes negacionistas, sejam estes maliciosos ou mesmo idiotizados, igualmente, também, dos vacilos cometidos por tantos que menosprezaram a virulência da enfermidade que hora vige no mundo, imperativo que todos busquemos, neste grave momento, ainda que tardiamente, além da serenidade o premente isolamento. Não se trata mais de meias palavras e nem de meias condutas. É isolamento social! Aos que de fato carecem sair, obrigatório os já incansavelmente propalados cuidados, respeitando-se radicalmente os protocolos de segurança. Evitar, portanto, a mínima aglomeração, mantendo-se o estipulado distanciamento de segurança! Cada qual, além de zelar pela sua e pela saúde dos seus próximos, precisa, também, se dedicar ao convencimento dos que ainda se iludem. Não se trata de fomentar dramas ou de causar terrores! Tal acusação se constitui, na verdade, uma desumana leviandade diante do que hoje se vivencia! Os dados aí estão a comprovar diariamente a descontrolada disseminação desse vírus letal! Evidente que o quadro social brasileiro requer, simultaneamente à implementação das medidas restritivas, ações ao menos paliativas enquanto perdurar a pandemia, tal como a distribuição mais abrangente dos recursos, ou seja, a manutenção e majoração do chamado auxílio emergencial. Este auxílio há de ser distribuído por mais qualificados e democráticos meios de acesso, evitando-se as humilhações e os perigos que a ineficiente acessibilidade até aqui concedida tanto constrangeu e, contraditoriamente, contaminou a muitos necessitados, razão das intermináveis filas e aglomerações e dos persistentes problemas tecnológicos. Todavia, necessário ressaltar que sem pandemia, portanto anteriormente as suas nefastas consequências, já era por demais injusto o quadro social brasileiro e, por isso mesmo, não se aceita, hoje, as desculpas casuísticas ou a desfaçatez de algumas autoridades gestoras, seja para precarizar o valor a ser concedido e, ou que é mais vergonhoso, concedê-lo sob inaceitável chantagem, cortando-se criminosamente as já reduzidas verbas então destinadas aos basilares setores da saúde e da educação.
Cuidemos da nossa saúde! Cobremos, sem radicalismos, mas com firmeza, através dos diversos canais que o Estado Democrático de Direito ainda nos oportuniza, as prementes ações em prol da vida. Serenidade e consciência! (Salvador-BA)
Bem colocado amigo Agenor, quanto mais o negativismo do presidente mais mortes acontecerá no Brasil. (Maracás-BA).
Caro Agenor Santos, espero com ansiedade a complementação dessa sua análise, contemplando com o mesmo rigor crítico, a participação decisiva de outras importantes instituições e seus principais atores: OAB, STF, Governadores, Prefeitos, Partidos de Oposição. Agora mesmo, aqueles que influenciaram decisivamente para a retirada dos poderes do Presidente para um comando centralizado das ações remediadoras da situação (que dilapidaram a maior parte dos recursos remetidos pelo Governo Federal e se regozijaram com isso) são os mesmos que estão pedindo que o Governo (depois das portas arrombadas por esses mesmos atores) venha a assumir, justamente o que lhe negaram fazer há um ano: centralizar e coordenar o comando das ações em nível nacional. O que o amigo tem a dizer sobre isso? (Brasília-DF).
Boas e reais colocações, enquanto tivermos esse maluco em Brasília estaremos órfãos de liderança… (Salvador-BA
Dá tristeza ler esse assunto sobre o qual você muito bem está abordando. Como podemos ter uma pessoa dessa como Presidente de uma nação? E o cenário para 2022 é muito sombrio com a ausência de nomes para confrontá-lo. Desolação! É o que sentimos… (Salvador-BA).
Ele está pensamento exclusivamente na reeleição e em salvar os filhos dos processos a que respondem. O resto que se “exploda”, como dizia o Personagem de Chico Anisio!! (Salvador-BA).
Lúcido, lógico, claro e coerente. (Irecê-BA).
Nos entregar a Jesus e confiar n’Ele, é o que nos resta fazer.
Muito boa crônica. Parabéns. (Salvador-BA).
Caro e perfumado escriba. Concordo em tudo com você, em especial o último parágrafo! A população já não entende nada.. há sintomas evidentes de próximo desespero!!! Há muito político pensando somente em proveito próprio… como se a COVID não chegasse a eles… Um abraço!!! (Salvador-BA).
Infelizmente acredito que exista mais emoção do que visão da realidade na atual crise da doença. Enquanto muitos se preocupam em críticas pontuais a atitudes, frases mal elaboradas e comentários que também julgo improcedentes, ninguém questiona fatos simples como a aplicação dos vastos recursos federais distribuídos. Quantas UTIs foram criadas? Quanto foi realmente aplicado na saúde com efetividade e eficácia? E os hospitais de campanha criados e sumariamente fechados sem nenhum uso? Os políticos diminuíram seu cartel de assessores para ajudar na diminuição dos gastos públicos? Em quarentena os funcionários públicos tiveram sua renda garantida, em sua grande maioria simplesmente ficando em casa sem nenhuma atividade, inclusive em vários estados concedendo reajustes salariais. E solicitando complementação de verbas do governo federal. E foi exigido o mesmo procedimento dos que não tiveram sua renda garantida por serem da iniciativa privada. E os governadores e prefeitos terão seus atos de gestão pública investigados do ponto de vista orçamentário? Muitos questionamentos, mas parece que são sepultados pela carga emocional. Do que se aproveitam os políticos corruptos. FOZ DO IGUAÇU
Parabéns, Agenor! Excelente crônica. Um grande abraço! (Salvador-BA).
Sou sua admiradora de carteirinha. Sábias palavras!!! (Salvador-BA).
Agenor você está sempre coerente em seus artigos. (Salvador-BA).
Sou sua admiradora de carteirinha. Sábias palavras!!! (Salvador-BA).
Também tenho sua opinião. (Salvador-BA).