A propósito da FENAGRO que ora se realiza aqui em Salvador, exposição agropecuária que faz parte da agenda oficial do Estado para o Parque de Exposições, recordei-me de uma crônica editada em 17.07.2011, inspirada num episódio inusitado ocorrido durante aquele evento, cuja reedição permitam-me os meus leitores fazer, com pequeno dimensionamento no texto:
“Resolvi rebuscar os arquivos da mente e eis que retornou à lembrança o sucedido a um caro amigo e que me fez dar boas risadas. Sabe-se que nos bate-papos das rodas de amigos, principalmente naqueles instantes em que as substâncias energéticas da cevada, do delicioso vinho do Vale do São Francisco ou o destilado do malte escocês começam a fazer o efeito estimulador da imaginação dos mais ecléticos contadores de casos, ouve-se histórias verdadeiras e aquelas fruto da pura criatividade, sempre com ênfase nas narrativas com forte dose de humor. Quase sempre o contador dos casos elege alguém como personagem principal do teatro que se desenrola naquele momento, provocando explosão de risos dos integrantes do grupo e motivando ainda mais o consumo etílico.
É nessas ocasiões que nos contam casos absurdos e esdrúxulos, indicando que circunstâncias e situações imprevisíveis pregam verdadeiras peças nas pessoas, às vezes deixando marcas profundas e difíceis de serem apagadas.
O Luizão Dagoméia (nome fictício), o personagem, participava de uma agradável farra em determinada Expo-FENAGRO da Capital, degustando um bode assado regado a certo líquido que “desce redondo”, quando o dito sentiu aquela vontade incontrolável de esvaziar a pipa e se dirigiu ao banheiro. Como sempre acontece nessas horas de aperto, o inevitável aconteceu. Banheiro lotado e reduzida capacidade de tolerância para esperar. Como o baiano tem sempre a solução imediata para esse tipo de problema, como nenhum outro povo, acostumado que é à reprovável mijadinha pública sem qualquer cerimônia – prática hoje condenada como crime por nova lei do município de Salvador, diga-se de passagem, bastante oportuna – o Dagoméia circundou as instalações mais próximas, à procura de um pouco de penumbra ou mesmo escuridão total, para assim descarregar as inutilidades que havia ingerido.
Enquanto estava fora, o celular e sua pasta de trabalho foram guardados pelos amigos de farra e somente três horas depois os objetos foram lembrados pelo mijão, que tentou localizá-los através de uma chamada desesperada. Questionado pelos amigos sobre o seu desaparecimento, o fujão passou a contar a sua tragédia.
– Vocês nem imaginam o que me aconteceu! Como o sanitário estava cheio, circulei em volta à procura de um lugar seguro para o descarrego desejado, e vislumbrei uma réstia de luar entre duas paredes indicando que ali adiante havia uma laje de cimento que brilhava, certamente um porto seguro de apoio para o tão esperado alívio.
– E o que isso tem a ver com o seu desaparecimento por tão longo tempo?
– Aí é que está o problema! Comecei a descer o éclair da calça com sofreguidão e, ao invés do alívio esperado, de repente me senti como se afogasse num profundo mergulho em águas poluídas, pura fedentina, em meio a dejetos meio sólidos!… Que tragédia!… Que merda!… Acabara de cair de corpo inteiro numa fossa que estava aberta! Submergi até o último fio de cabelo!
– E aí parceiro, como se saiu dessa?
– Literalmente, tive de aprender a nadar na merda! Ao sair, imundo, caminhei em direção ao carro, deixando os rastros no solo por onde passava. Entrei no meu veículo que ficou inutilizado com tamanha imundície e me dirigi a casa. Sem celular, nada pude comunicar à família e assim a escuridão da noite me trouxe a proteção para chegar até o chuveiro situado nos fundos da casa. Que alívio!
O leitor pode imaginar como foi difícil concluir esta crônica, elaborada sob risos intensos, imaginando a figura do Luizão Dagoméia lutando para se ver livre de tão indesejáveis excrementos”.
Na verdade, foi um episódio hilariante e pitoresco, mas que permite uma importante reflexão: o grande sentido está em que nem sempre devemos confiar nos atalhos da vida.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 01/12/2019
7 Comentários
Um ótimo conto com bom humor, leitura agradável e no fim a impressão que temos é que mesmo fictício Luizão Dagomeia nos representa. Em nossos erros e acertos. Alegrias e dificuldades. O que nos faz sentir humanos e aceitar nossas limitações.Outros textos como este sempre serão apreciados. E que tenhamos um feliz e abençoado dezembro. Para coroarmos de êxito a nossa luta neste ano tão turbulento no Brasil. FOZ DO IGUAÇU
Como na maioria as suas crônicas são com temas políticos, já tinha finalizado na mente alguma metáfora da atualidade do nosso país. Como essa não teve esse final, me permita concluir com meus pensamentos… o amigo Dagoméia representou nós brasileiros, é nessa fossa, nessa escuridão, nessa imundície que está o nosso Brasil, triste, triste, muito triste. Completando: estamos literalmente na “MERDA”! (Salvador-BA).
Muito bom. Coitado do Dagoméia! Kkkkkkk (Salvador-BA).
Grande cabeça, escritor de primeira, narrativa clara e rica em detalhes. Senti até o cheiro da merda, tamanha clareza do texto. (Salvador-BA).
Agenor, ótima crônica! Interessante que foi em 2011, como passou rápido! Obrigado pela lembrança. (Salvador-BA).
RIR É BOM DEMAIS. SÓ FIQUEI IMAGINANDO SERÁ QUE EM SALVADOR, UMA DAS MAIS ANTIGAS CIDADES DO BRASIL, AINDA EXISTE LAGOA DE MARDA DANDO SOPA ??? (Manaus-AM).
Também ri bastante, Agenor. Gostei. Mas, como de hábito, o fecho do texto é uma grande verdade.(Salvador-BA).