Não há receitas iguais para todos os países, mas a forma como a Finlândia se tornou num dos países mais ricos, seguros e socialmente justos do mundo pode dar umas pistas.
Há 150 anos, em 1868, o cenário estava muito longe de ser este. Nessa altura, um inverno rigoroso e uma primavera fria destruíram grande parte das colheitas e cerca de 250 mil pessoas – 10 por cento da população – morreram de fome.
O governo – na altura o Grão-Ducado da Finlândia fazia parte do Império da Rússia – reagiu tardiamente e não tinha dinheiro suficiente para comprar cereais nos mercados europeus. Quando o governo decidiu finalmente pedir dinheiro emprestado ao poderoso Banco Rothschild, os preços dos cereais tinham subido e o pouco que foi comprado mal chegou às populações devido à falta de estradas.
De lá para cá muito mudou e determinados factores determinaram a subida do país no ranking da felicidade.
Cooperação imposta pelo clima
O clima frio do país leva a que os finlandeses tenham-se habituado a trabalho árduo para sobreviver e a contar com a ajuda dos vizinhos. “Isso tornou os finlandeses seguros de si mesmos, privados, mas também muito dependentes de uma sociedade altamente cooperativa, onde as regras são importantes. É cultural, mas tornou-se parte da química”, explica o ex-embaixador norte-americano na Finlândia, Bruce Oreck, ao The Guardian.
Resiliência finlandesa, o sisu
A capacidade de persistir perante as adversidades quaisquer que sejam as consequências é uma característica finlandesa que terá permitido que, durante a Segunda Guerra Mundial, 350 mil soldados tenham conseguido derrotar forças soviéticas três vezes maiores em duas batalhas distintas.
Sociedade em classes
Durante os 600 anos em que os finlandeses foram governados pelos suecos e depois pelos russos, o país era quase todo pobre. “Não existiram servos, nem ricos aristocratas. A sociedade não era hierárquica”, explica o escritor histórico finlandês, Sirpa Kähkönen.
Os sociólogos confirmam. “As diferenças entre classes na Finlândia têm sido menores do que o normal. Até a revolução industrial aqui foi modesta: não havia Rothschilds, nem Fords, nem mesmo uma dinastia como os suecos Wallenbergs [uma das mais poderosas famílias suecas]”, diz a socióloga Riitta Jallinoja.
Não fogem aos impostos
A dever cívico é celebrado no país e todos os anos se publica a lista dos impostos pagos pelos 10.000 maiores empresas e contribuintes com maiores rendimentos. A actual mais bem sucedida empresa finlandesa, o estúdio de videojogos Supercell, criador do jogos de estratégia Clash of Clans, pagou 800 milhões de euros em impostos, em 2016.
Educação gratuita
Grande parte do êxito do país reside na educação que é grátis e universal desde 1866. Na altura, um decreto obrigou que quem quisesse casar-se pela igreja teria de passar um exame de leitura e o incentivo. Cerca de 30 por cento dos chefes de Estado do país foram professores universitários. “O movimento que criou a Finlândia como nação – a sua língua, historia, literatura, música, símbolos e folclore – eram académicos. O líder nacionalista era professor de filosofia”, explica o filósofo finlandês ilkka Niiniluoto.
Igualdade de género
A ideia errada de que as mulheres teriam menores capacidades comparadas com os homens não ganhou raízes na Finlândia. Para além de ser um dos primeiros países do mundo em que elas puderam votar, em 1906, no primeiro parlamento nacional, 10 por cento dos deputados eram mulheres. A percentagem reside agora nos 42 por cento.
Coligações governamentais
O desenvolvimento económico é atribuído à série de coligações que governaram o país e realizaram grandes investimentos em infra-estruturas e indústria. Nos anos 90, reconheceram a importância das novas tecnologias e investiram quase 4 por cento do PIB em investigação e desenvolvimento – um recorde na época.
Confiança nas instituições
O crescimento económico sustentado aumentou a confiança nas instituições. O serviço nacional de saúde funciona – o país gasta 31 por cento do PIB em saúde -, e quase não existe crime organizado ou corrupção.
Fonte: Sábado.PT