Pouca coisa sobreviveu ao incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio, na noite do domingo (2). Entre artefatos indestrutíveis ou resgatados pelos pesquisadores da UFRJ está o meteorito do Bendegó, uma das peças mais importantes do acervo. A peça não só resistiu à entrada na atmosfera terrestre, mas também a uma tentativa atrapalhada de resgate e virou até lenda no sertão –a população acreditava que a seca na região foi uma punição pela sua retirada.
O meteorito do Bendegó é o maior já encontrado no Brasil e o 16º maior já encontrado no mundo. Suas 5,36 toneladas são feitas de ferro, níquel e outros elementos químicos. Segundo escreveu o geólogo Wilton Pinto de Carvalho na Revista Brasileira de Geociências, o meteorito foi encontrado no sertão baiano, em 1784. No ano seguinte, uma tentativa frustrada de transportá-lo fez com que o fragmento de asteroide rolasse ladeira abaixo e fincasse no leito do riacho Bendegó, onde ficou por mais de um século. Daí vem seu nome.
Foram pesquisadores franceses que alertaram o então imperador Dom Pedro 2º de que o artefato deveria ser levado para um museu –em 1888 ele passou a integrar o acervo do Museu Nacional. Alguns pedaços tirados do meteorito foram levados para a Europa e podem ser encontrados em diferentes museus do continente, como o de Munique.
Transportar o meteorito do sertão baiano para o Rio de Janeiro foi um episódio curioso da história brasileira. Na ocasião, foi criada uma comissão de engenheiros, mas a solução veio do Visconde de Paranaguá, que providenciou um carretão puxado por juntas de bois e deslizado sobre trilhos. O carretão levou o meteorito até Salvador, de onde foi transportado por navio até Recife e, posteriormente, outro até o Rio de Janeiro.
Um marco foi erguido à beira rio Bendegó para indicar o local de onde o fragmento foi retirado, mas o monumento em forma de agulha piramidal foi destruído pela população local. Os moradores acreditavam que uma forte seca que atingiu a região era consequência da remoção do Bendegó. A extração virou também tema de cordel, nos versos “Até o dia de hoje/ Provoca tristeza e encanto / Queremos nossa pedra de volta/ De volta pro nosso canto.”
Outro obelisco foi construído na Estação Ferroviária de Jacurici, em homenagem aos serviços de engenharia realizados para o transporte.
Por ser composto de ferro maciço, o meteorito de Bendegó suporta temperaturas elevadas e sobreviveu ao incêndio. Ele segue agora em meio aos destroços do Museu Nacional. Tal qual no século 18, aguarda uma solução da engenharia para a remoção de suas 5,36 toneladas.
Beatriz Montesanti (Do UOL, em São Paulo)