A direção nacional do Democratas, partido presidido pelo prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, divulgou nota na manhã desta segunda-feira (25) afirmando que irá “punir exemplarmente os eventuais responsáveis” pelo que é apontado em investigação da Polícia Federal como a maior candidata laranja das eleições de 2018.
Conforme a Folha de S.Paulo revelou nesta segunda, a PF afirma haver fortes indícios de que verba eleitoral pública do DEM nacional foi desviada por meio da candidatura da policial militar Sonia de Fátima Silva Alves, no Acre.
Oficialmente candidata a deputada estadual, ela recebeu R$ 240 mil do Diretório Nacional da sigla, declarou ter contratado amplo aparato de campanha, mas obteve apenas 6 votos.
Com isso, se tornou a candidata com o voto mais caro do país -R$ 46,6 mil de verba pública por cada apoiador que conseguiu.
De acordo com as investigações da PF, há fortes indícios de que esse dinheiro foi desviado em benefício da campanha do deputado federal Alan Rick, presidente do DEM no Acre e integrante da Executiva Nacional do partido.
A maior parte da receita declarada pela candidata foi repassada por meio de uma transferência eletrônica autorizada por Romero Azevedo, tesoureiro nacional, e ACM Neto.
Apesar de reproduzir o documento de transferência do dinheiro, a PF não faz considerações sobre o prefeito de Salvador e cita artigo do estatuto do partido que estabelece que os comitês financeiros regionais respondam civil e criminalmente por eventuais irregularidades no processo eleitoral.
“Diante do noticiado nesta segunda-feira, a direção nacional do Democratas informa que vai instaurar um procedimento apuratório interno para acompanhar formalmente as denúncias relacionadas à aplicação de recursos públicos em campanhas femininas pela direção partidária no estado do Acre, bem como para punir exemplarmente os eventuais responsáveis”, diz a nota divulgada pelo partido.
“É importante ressaltar que a matéria veiculada nesta manhã, ao reproduzir o relatório final da Polícia Federal, absolve o diretório nacional da sigla de qualquer responsabilidade, uma vez que a indicação das candidaturas femininas beneficiadas com recursos públicos é de exclusiva competência do órgão partidário local”, acrescenta o texto.
O DEM comanda hoje o Congresso Nacional, com Rodrigo Maia (RJ) na Câmara e Davi Alcolumbre (AP) no Senado.
Em nota, Alan Rick afirmou que a expressiva quantidade de dinheiro destinada a Sonia ocorreu devido à necessidade de suprir uma desvantagem na candidatura da policial militar, que teria sido escolhida de última hora para substituir outra mulher que havia desistido. O parlamentar nega irregularidades e afirma que o resultado eleitoral servirá para balizar melhor decisões futuras sobre candidaturas e respectivos aportes financeiros.
O caso de Sonia foi publicado pela Folha de S.Paulo em fevereiro, em apuração que mostrava potenciais candidaturas laranjas em 14 partidos.
A reportagem integrou pacote de apurações do jornal que revelou desvios de recursos eleitorais da cota feminina (que exige um aporte de ao menos 30% das verbas), com a existência de esquema de candidaturas femininas laranjas no PSL -partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu- em Minas Gerais e Pernambuco.
No primeiro caso, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que presidiu o PSL de Minas, foi indiciado e denunciado. Ele nega as acusações.