Nesta semana, uma técnica de enfermagem de 42 anos — que prefere não ser identificada —, do Pronto Socorro de um dos maiores hospitais de São Paulo, conta que pediu afastamento. O motivo? “Não tenho mais condições psicológicas e emocionais para lidar com o que está acontecendo. Vou tentar ajudar de outra maneira”, afirmou. Em entrevista à CRESCER, ela contou o que viu nas últimas semanas, em meio a pandemia do novo coronavírus.
“Não sabemos quanto tempo isso vai durar. Falam, no nosso meio, que a previsão é de voltarmos a rotina normal em agosto ou setembro. É um período bem longo, mas, eu estou ‘jogando a toalha’, não tenho mais condições. Recentemente, vi um rapaz de 35 anos, que não tinha nenhum antecedênte, sem comorbidades, um menino lindo, morrer, da noite para o dia. Eu levei ele pra UTI e ele morreu. Deixou dois filhos. Ele é moço, mais novo que eu. Vou fazer 43 anos e estou com medo, desculpa, não posso seguir em frente com isso.
Estou longe dos meus pais e da minha família, que estão isolados em outra cidade. Meu pai fechou a empresa dele e foi embora, chorando. Foi difícil ver isso. Minha irmã, que também é enfermeira, ‘jogou a toalha’. Não estamos tendo condições de lidar com tudo isso. Eu quero ficar quietinha na minha casa, eu não quero sair também. Não estou aguentando mais ver as pessoas chegando feito peixe fora do aquário, sem ar, morrendo sem ar, não estou conseguindo. Não foi para isso que eu estudei. Não tenho mais condições psicológicas e emocionais para lidar com o que está acontecendo.
Vi, nesses últimos dias, profissionais da área da saúde indo para o banheiro chorar escondido para o paciente não ver; profissionais correndo com maca pra lá e pra cá, sem saber para onde levar; vendo os leitos sendo ocupados sem saber o que vai acontecer com essas pessoas… Você vê ali que não há grupo de risco. Você está no PS, entra jovem, entra idoso, todas as camadas sociais, não tem distinção de nada. Estamos vivendo um caos sem precedentes. Estamos vendo nossos colegas adoecendo e também estamos com medo.
É um momento da gente voltar para as nossas origens. Redobrem a atenção, a higiene, a limpeza. Peço que vocês se cuidem, cuidem dos seus, façam o possível, fiquem vivos. Eu vou ficar aqui, vou tentar ajudar de outra maneira.”
Em relação ao caso do homem de 35 anos que teria morrido por conta do coronavírus, a técnica de enfermagem disse que “não deu tempo de fazer o teste”. “Foi muito rápido. Todo caso que entra no PS, a partir do momento que a infecção começou a ser cruzada, é considerado COVID-19”, explicou. Portanto, ele não faz parte dos casos contabilizados pelo Ministério da Saúde.
Fonte: Revista Crescer