RIO – O ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro acredita que os vazamentos de mensagens trocadas por ele e procuradores ligados àOperação Lava-Jato têm como finalidade anular condenações, entre elas a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 abril do ano passado na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba. A afirmação foi feita em entrevista publicada pela revista “IstoÉ” nesta sexta-feira.
À publicação, Moro reiterou seu palpite de que “houve um movimento na divulgação” do conteúdo obtido a partir das contas do aplicativo Telegram dele e de outras autoridades com a intenção de “impactar a Lava-Jato” e o “esforço anticorrupção”. Ele voltou a dizer que não reconhece a autenticidade dos diálogos e especificou um dos objetivos que enxerga nos vazamentos.
— Está claro que um dos objetivos é anular condenações, entre elas a de Lula — afirmou Moro ao ser questionado pela “IstoÉ”.
Apesar das afirmações sobre o propósito dos ataques hacker — assumidos por Walter Delgatti Neto, suspeito preso pela PF na Operação Spoofing — o ministro da Justiça esclareceu que ainda não há confirmação de que eles estiveram condicionados a algum retorno financeiro. Para Moro, no entanto, a ficha criminal dos quatro presos na ação indica que essa possibilidade existe.
— Existe a investigação e a questão do pagamento vai ficar esclarecida de acordo com as provas que forem identificadas. A minha impressão é que, considerando o perfil dos presos, que sugere pessoas envolvidas em práticas de estelionato e fraudes eletrônicas, eles foram movidos por propósitos de ganho financeiro — disse Moro.
Ainda sobre a investigação, o ex-juiz garantiu que não a acompanha “peri pasu” (expressão em latim que significa “simultaneamente”). A função dele seria, conforme mencionado na entrevista, garantir a estrutura e a autonomia para os investigadores. Moro reforçou ainda que não orientou a PF a destruir provas colhidas na Spoofing, explicação que ele encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira.
Futuro
Nas declarações concedidas à reportagem da “IstoÉ”, Moro tentou desviar de qualquer confirmação sobre suas pretensões para os próximos anos.
Sobre uma possível indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF), já ventilada pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro disse considerar “inapropriado se discutir cargos quando não existe a vaga de fato”. A próxima aposentadoria é do ministro Celso de Mello, em novembro de 2020.
Em relação a possíveis planos de disputar as eleições de 2022 à Presidência da República, Moro explicou que sua missão, no momento, é completar as metas que estabeleceu para a gestão da pasta. Embora não tenha descartado completamente uma candidatura, disse que não trabalha “com viés partidário”.
— Na minha perspectiva, apesar de alguns questionamentos, meu trabalho é eminentemente técnico, embora, como ministro, sempre haja um componente político em função do relacionamento com o Congresso. Mas não trabalho com o viés partidário — justificou o ministro.
Questionado sobre a possibilidade de concorrer como vice-presidente em uma disputa de Bolsonaro pela reeleição, Moro disse desconhecer, até o momento, desejo do presidente neste sentido. Ele ainda pontuou que “está muito cedo para falar em eleições futuras”.
— Está muito cedo para falar em eleições futuras. Estamos ainda no primeiro ano de mandato. O presidente já mencionou que pode ser candidato à reeleição, mas planos específicos me parecem prematuros — concluiu Moro.
Fonte: O GLOBO