Eu amo a Vivian, não só o cabelo da Vivian. Isso não faz a menor diferença pra mim”. Essa frase foi crucial na vida de Vivian Somers, oficial de Marinha Mercante, de 34 anos, moradora de Resende (RJ).
Há seis anos ela tentava abandonar a química para alisar os cabelos, mas sempre desistia. Foi com o apoio do marido que a decisão foi tomada há uma semana. E ele não apoiou apenas com palavras. Ele mesmo cortou o cabelo dela.
“Eu comecei com esse assunto com o Dave quando ele estava viajando pra Inglaterra. Ele, de cara, disse que tudo bem. Mas esperei porque queria ter certeza que ele não voltaria atrás ou algo assim”, contou Vivian.
“Temos muitas diferenças: idade, crença, cor, nacionalidade [ele é inglês]… Quando ele voltou, ainda falei algumas vezes e ele sempre dizendo que tudo bem. Até que, na sexta-feira passada, eu pedi pra ele pegar a tesoura que iria cortar. Naquela hora, do ‘então vamos lá’, ele ficou preocupado com o que eu sentiria. Ele ficou preocupado se eu estava certa daquela decisão”, afirmou, ressaltando que o momento foi de total cumplicidade entre o casal. “Foi muita confiança, muita risada, muita foto… Foi inesquecível”.
O momento foi registrado nas redes sociais e repercutiu em likes e mensagens de apoio.
“Não é só cortar o cabelo. É assumir meu cabelo crespo. Coisa que já tentei, sem sucesso, em 2012 e 2014. E radicalizei cortando, ao invés de esperar crescer e ficar com dois cabelos [a parte crespa e a com química] porque não queria voltar atrás no meio do caminho. É um processo longo, de mais ou menos uns 10 meses, um ano”, afirmou Vivian.
Alisamento desde os 7 anos
Vivian contou que, desde que se entende por gente, tem guarnidina no cabelo. E antes da química, a vaga recordação é de coque ou rabo de cavalo, e também de muitos acessórios de alisamento, como o pente quente. Sempre na tentativa de fazer parte do meio.
“Eu passei a minha infância e adolescência com a ‘solidão da mulher negra’. Eu via televisão ou lia uma revista e não me sentia representada ali. Parecia que não fazia parte do mundo”, afirma.
“E isso também acontecia no meu convívio. Quando eu ia ao salão não tinha nada que pudesse soltar meus cachos, por exemplo. A opção era sempre alisar. Isso na década de 90. Então, eu cresci com aquilo: ‘sou negra, sou feia. Preciso ter o cabelo liso pra melhorar isso e entrar no padrão'”.
A primeira vez que percebeu a situação mudar dentro de si foi quando viu a atriz Sheron Menezes na TV. “Eu já era adulta. O cabelo crespo tinha virado uma raridade, e quando vi, achei lindo. Me chamou muita atenção aquele cabelo natural. Despertou a minha curiosidade em saber como seria o meu”.
Ela ainda está se adaptando com o novo visual, mas feliz em trocar o alisamento com química, que precisava fazer a cada dois meses, pelo “pezinho” da parte da nuca.
“Eu tô adorando. Minha preocupação agora é cortar o pezinho pra manter o corte. Tô ansiosa pra ele crescer e ficar com os cachos maiores”, afirmou.