Luva de Pedreiro: Jovem de Quijingue é a nova sensação da internet

Quase toda boa gíria ou expressão que consegue se manter viva e atual costuma conseguir isso através de transformações ou variações. Um caso emblemático é a baianíssima “receba a galinha pulando”, que diminuiu nos últimos anos, mas ampliou seu alcance para escalas internacionais por meio do jovem Iran Ferreira, 20 anos.

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Morador da zona rural de Quijingue, no nordeste do estado, o ex-lavrador ficou conhecido pelo perfil Luva de Pedreiro que, de tão incensado nos últimos dias, ganhou a atenção de ninguém menos que Neymar Jr. Na sexta, o craque da Seleção e do PSG repostou um dos já consagrados tipos de vídeos feitos por Iran, em que aparece num campinho de terra batida dominando uma bola e chutando no ângulo. “Que chapada. RECEBAAA!!!!”, parabenizou o Adulto Ney sobre o lance.

Como em quase todos os vídeos, a cena termina numa comemoração exagerada, com o rapaz tirando a camisa, denunciando a escassez de músculos, e autoestima de sobra. “Receba! Graças a Deus, pai. Simmm!”, costuma dizer, com algumas variações de termos.

A habilidade no domínio da pelota e os arremates precisos se juntam ao carisma, os discursos motivacionais e as expressões de orgulho por ser da Bahia, do Brasil, numa jogada bem feita para cativar inclusive quem não entende o que ele fala. O bom humor habitual, expresso em auto-elogios, e os agradecimentos a Deus, com sinais da cruz na velocidade 5, completam a tática perfeita.

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“Comecei a fazer vídeo no ano passado, pra dar uma renda pra minha família. Eu vi muita gente fazendo vídeo e dando certo, né? Então eu disse, ‘quer saber de uma, eu vou me aventurar e vou fazer também’, e graças a Deus deu certo”, contou Iran, que já num dos primeiros vídeos alcançou 30 milhões de contas no TikTok.

A velocidade de sua ascensão ainda surpreende: até o mês passado eram já expressivos 3 milhões de seguidores no TikTok, além de 600 mil no Instagram, muita coisa. Nos últimos dias, saltos ainda mais altos. O Luva de Pedreiro alcançou, na sexta, 5,4 milhões de fãs no TikTok, 1,1 mi no Insta e sua conta no Twitter, criada apenas um dia antes, rapidamente alcançou 170 mil seguidores.

‘Eseba’
Em perfis gringos famosos, o conteúdo do boleiro baiano quase sempre tem um engajamento alto. Na quarta, a página 433, que publica conteúdo sobre futebol e possui 47,5 milhões de seguidores apenas no Insta, postou mais uma do Luva de Pedreiro colocando uma bola na forquilha. “Eh, caraca! Eu sou da Bahia, Nordeste, Brasil! Cara da luva de pedreiro é o melhor de todos, graças a Deus, pai!”, celebrava Iran, com a empolgação característica.

Nos comentários estrangeiros — a imensa maioria —, o “receba” recebe adaptações como “ESEBA”, neste caso ganhando mais de 6 mil likes. Os BR foram aos comentários do comentário para tentar traduzir, mas qual a importância?

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Outras páginas bombadas do universo desportivo também já replicaram os conteúdos, a exemplo do jornal espanhol Marca, além de páginas brasileiras muito populares como Desimpedidos e Esse Dia Foi Louco. As paródias de peladeiros nas mais diversas línguas também são inúmeras, com o “receba” interpretado das formas mais curiosas. “Eh seba”, “Eu seba” são algumas das mais difundidas.

“Eu não tava nem acreditando, porque eu sou fã demais daquele cara. Quando ele falou aquilo, cê é doido, fiquei muito alegre”, disse Iran, ao relembrar a homenagem do ídolo gringo.

Origens
O open bar de felicidade, no entanto, não combina em nada com a rotina de dificuldades que Iran sempre levou, vivendo numa das regiões mais pobres da Bahia.

“Eu trabalhava na enxada, limpando roça, arrancando velame, dando comida às ovelhas, aos gados, limpando o quintal do pessoal”, conta o moço, que tenta, junto com vizinhos e familiares, assimilar o novo momento.

“Rapaz, pro pessoal onde eu moro não caiu a ficha ainda. Está começando a cair a ficha agora que eu tô reconhecido, agora que eu tô sendo assessorado. Mas ainda não caiu minha ficha”, admitiu.

Assim como o campinho de terra em que tenta simular um jogo da Liga dos Campeões, o uso de luvas também são parte do teatro de contrastes em que baseia parte do humor que faz: num dos lugares mais quentes do país, usa a proteção para fingir que está atuando em locais de baixas temperaturas, na Europa. Sem dinheiro para comprar uma luva da Nike, o jeito foi recorrer à loja de materiais de construção, origem da Luva de Pedreiro.

Boleirada
Recebido de braços abertos no meio da boleiragem —  ainda sonha em tentar a carreira profissional no futebol —, teve como primeiros “colegas de profissão” jogadores do Vasco, time do coração: Raniel, Nenê e Gabriel Pec iniciaram as tabelinhas virtuais. A torcida cruzmaltina também o abraçou de cara.

Nessa semana, além de Neymar, outro atacante da Seleção entrou no rol de parças: Richarlyson apareceu saudando o baiano na saída de um jogo do Everton, na Inglaterra. “É o Luva de Pedreiro, siiimmm!”

Na lista dos ídolos da bola que ainda sonha conhecer, interagir, Iran coloca Juninho Pernambucano, Ronaldinho Gaúcho e, obviamente, Cristiano Ronaldo, o dono do “sim!”

Convites para o mundo
Quem vai tentar ajudar a transformar esses sonhos em realidade é o agente de Iran, o também baiano Allan Jesus, da ASJ Consultoria. É ele quem está fazendo o meio-de-campo dos primeiros convites ao jovem. “Já recebemos muitos convites pro Iran viajar pra Europa, Ásia, América do Sul. De clubes também, para que seja apresentada a estrutura, e ele possa gerar conteúdo. A gente já teve convites também de atletas que jogam fora”, contou à coluna.

Fonte: João Gabriel Galdea / Correio24horas

Gabriel Araújo: Jornalista, produtor de conteúdo digital, especialista em servidores Linux e Wordpress. Escreve sobre Carros, política, Esportes, Economia, Tecnologia, Ciência e Energias Renováveis.