Luciano Mestrich Motta fala sobre os terroirs das Ilhas Canárias

O terroir vulcânico faz parte de uma tradição vitivinícola que atravessa gerações e impressiona os apreciadores da bebida

As Ilhas Canárias ficam em um arquipélago que pertence à Espanha, mas que curiosamente está localizado mais perto da África do que da Europa. Muito além do famoso e temido vulcão Cumbre Vieja, a região é conhecida por seus terroirs vulcânicos e pelo cultivo de uvas únicas no mundo.  

O cultivo de vinho nas Ilhas Canárias é uma tradição que remonta ao século 16, quando as primeiras videiras foram trazidas para o arquipélago por colonizadores europeus. A combinação do clima subtropical e a presença de solos vulcânicos, ricos em minerais, criou condições únicas para a viticultura, resultando em vinhos de características distintas. 

A combinação perfeita 

Para o sommelier Luciano Mestrich Motta os terroirs das Ilhas Canárias são consequência de uma combinação perfeita entre o clima tropical da região com o solo vulcânico. “O cultivo em altitudes elevadas, aliado à influência dos ventos alísios, favorece uma maturação lenta e equilibrada das uvas”, explica o especialista.  

O cultivo nessa região é realizado em terraços de pedra com grande altitude, que variam de 500 a 1000 metros. A combinação do solo vulcânico com o clima quente e úmido resulta na produção de vinhos doces produzidos por meio das uvas: Malvasia, Listan Blanco, Listan Negro, Tintilla e Marmajuelo.  

As Ilhas Canárias 

O arquipélago é composto por oito ilhas principais: Tenerife, Gran Canaria, Lanzarote, Fuerteventura, La Palma, La Gomera, El Hierro e La Graciosa, além de várias pequenas ilhas. As Canárias são uma comunidade autônoma da Espanha e dividem-se em duas províncias: Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife. 

De origem vulcânica, as ilhas apresentam uma paisagem diversa, que vai de praias paradisíacas e dunas de areia a montanhas e florestas exuberantes. Uma das características mais impressionantes é o pico do Teide, em Tenerife, que é o ponto mais alto da Espanha e um dos maiores vulcões do mundo. 

Culturalmente, as Ilhas Canárias têm uma rica mistura de influências, resultante de sua localização estratégica nas rotas marítimas entre a Europa, África e América. Essa fusão é refletida na música, na gastronomia e nas tradições locais, que combinam elementos europeus, africanos e latino-americanos. 

Terroir vulcânico 

O terroir vulcânico refere-se ao conjunto de características ambientais e geológicas de uma região com solo de origem vulcânica que influencia o cultivo de vinhas e, consequentemente, o perfil dos vinhos produzidos.  

O conceito de terroir envolve fatores como clima, solo, topografia e práticas humanas, que em conjunto moldam as características únicas de uma bebida ou alimento. No caso de um terroir vulcânico, o solo é originário de cinzas vulcânicas, lava solidificada, escórias ou outros materiais provenientes de erupções vulcânicas passadas. 

“No caso das Ilhas Canárias, por exemplo, o sistema tradicional de condução das vinhas, muitas vezes em socalcos e em pé franco (sem enxertia), preserva cepas antigas que em outros lugares já desapareceram”, explica o especialista.  

Notas do vinho  

Os solos vulcânicos são conhecidos por serem ricos em minerais, como ferro, magnésio e potássio, além de possuírem uma excelente drenagem. Essas qualidades tornam o ambiente favorável para o cultivo de vinhas, já que as plantas têm acesso a uma variedade de nutrientes e as raízes são forçadas a se aprofundar, tornando-se mais fortes e resistentes. 

O resultado é que os vinhos produzidos em terroirs vulcânicos tendem a apresentar características específicas, como uma mineralidade marcante, frescor e acidez equilibrada. Essas vinhas frequentemente produzem vinhos com sabores complexos e estruturados, refletindo a singularidade da geologia do solo onde foram cultivadas. 

“O vinho das Ilhas Canárias tem conquistado cada vez mais reconhecimento internacional, tanto pela sua história quanto pela qualidade e diversidade, sendo uma expressão autêntica do terroir vulcânico e da cultura local”, completa Luciano Mestrich.  

De entusiasta a sommelier 

Antes de se tornar sommelier, Luciano Mestrich Motta se apaixonou pelo universo dos vinhos ao explorar vinícolas ao redor do mundo. De Mendoza na Argentina a Stellenbosch na África do Sul, o especialista apreciava a bebida e entendia as características ambientais, culturais e econômicas envolvidas na sua produção.  

Para aprofundar os seus conhecimentos, Mestrich fez cursos renomados, entre eles o Wset nível 1, ministrado por Alexandra Corvo. Atualmente ele também integra a Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e atua no universo dos vinhos há mais de duas décadas.  

Para mais informações acesse: https://www.crunchbase.com/person/luciano-mestrich-motta-2a3b 

Gabriel Araújo: Jornalista, produtor de conteúdo digital, especialista em servidores Linux e Wordpress. Escreve sobre Carros, política, Esportes, Economia, Tecnologia, Ciência e Energias Renováveis.