UM CAUSO PRO DIA DA MENTIRA:
PÃO DE COCO BELEZA PURA: A MENTIRA DE HERMES
Hermes era conhecido por ser um bom saxofonista e por organizar pequenos festejos na cidade. Era ele um dos músicos que realizavam os bailes de carnaval, que durante algumas décadas aconteceram na pequena Monte Santo. Aos domingos, Hermes vendia, geralmente à tarde, o pão de coco beleza pura, feito por ele. Passava nas ruas gritando: “olhe o pão de coco beleza pura, quem não come dá gastura”!
O pão vendido por ele era a nossa merenda, e saboreá-lo aos domingos, assim como o aluá de dona Ecília, era uma das coisas mais gostosas da nossa adolescência.
Adepto de uma quentinha, Hermes quase sempre estava em alta. Certa feita, passando na Rua das Flores, se deparou com uma moradora nova, e começou a lhe passar cantadas. Não sabendo ele que a mulher bonita, por quem se engraçara, era esposa de um juiz recém chegado à cidade. Não deu outra: a mulher contou ao seu esposo, o juiz, que o sujeito que vendia pão de coco aos domingos, sempre arrastava a asa para cima dela, com cantadas chulas.
O juiz, no horário em que Hermes passava, o esperou:
– Quer dizer que o senhor, além de vender pão de coco, gosta de passar cantada em mulher casada, e ainda por cima, esposa de juiz?
Hermes tremeu nas bases, deu um sorriso sem jeito e largou uma grande mentira:
– Mas seu doutor, sua esposa deve tá me confundindo. Quem deve ter feito isso, foi o meu irmão gêmeo, Ieié. Aquilo é um safado! Pode procurar ele. Sou um homem de família e não tenho nada a ver com isso. Tem domingo que é ele quem vende o pão.
– Pois o senhor comunique ao seu irmão gêmeo, que ele será intimado!
– Pode deixar que eu dou o recado a ele. O senhor não deseja um pãozinho de coco pra adoçar a vida? – perguntou mudando de assunto.
Hermes, que não é irmão gêmeo de Ieié, nunca mais passou em frente à casa do juiz.