QUANDO OS BICHOS FALAVAM
(fábulas indígenas)
por José Gonçalves do Nascimento
Houve um tempo que os bichos
Com os homens pareciam
Falavam igual a gente
E seus planos possuíam
Agiam com esperteza
Em tudo quanto faziam.
II
Tinha a onça uma filhinha
Dentre muitas a mais bela
E o cágado muito afoito
Sonhava casar com ela
O teiú da mesma forma
Cobiçava a mão dela.
III
Ao saber que o teiú
Paquerava sua amada
O cágado estremeceu
Em fúria descontrolada
Depois descerrou a porta
E saiu em disparada.
IV
Correu na casa da onça
E disse com ironia:
– saibam todos que o teiú
Não tem a menor valia
Faço dele meu jumento
Toda hora e todo dia.
V
Quando soube do ocorrido
O teiú se levantou
Rumou pra casa da onça
E chegando lá falou:
– vou trazer aqui o cágado
Pra mostrar-lhe quem eu sou.
VI
– Vou pilar a cara dele
Como se pila o café
Vou arrebentar com ele
Com tabefe e pontapé
Pra que todo mundo veja
O covarde que ele é.
VII
Chegou na casa do cágado
E falou incontinente:
– Vamos visitar a onça
Pois está muito doente
Talvez precise de nós
Para algum expediente.
VIII
O cágado então fingindo
Para o teiú se voltou
E disse: – não posso ir
Pois adoentado estou
Mas se me levar nas costas
Faço um esforço e vou.
IX
Disse o teiú: – tudo bem
Mas é só um bocadinho
Quando já estiver perto
Você deixa meu lombinho
Pois não quero que me vejam
Como um reles jumentinho.
X
Quando o cágado ouviu aquilo
Ficou cheio de alegria
Afinal havia chegado
O momento que queria
De provar que o teiú
Não tinha a menor valia.
XI
O cágado mui ansioso
Cuidou logo da partida
Montou no lombo do outro
Com chicote, espora e brida
E para a casa da onça
Empreendeu sua corrida.
XII
Antes de beirar a casa
O lagarto foi falando:
– meu amigo, sinto muito
Mas peço que vá saltando
E para a casa da onça
Intimo que vá andando.
XIII
Ao que respondeu o cágado
Com seu coração mesquinho:
– eu ainda estou doente
E não posso andar sozinho
Peço-lhe que me conduza
Até o fim do caminho.
XIV
Quando divisou a onça
Disse o cágado sem demora:
– vou provar pra todo mundo
O que afirmei outrora
Que o teiú é meu jumento
Nele monto toda hora.
XV
Voltando para a oncinha
Disse ele sem maçada:
– monte aqui em minha garupa
Pra cairmos na estrada
Pois eu sou o seu marido
E você, a minha amada.
XVI
Quem aqui faz, aqui paga
Já diz o velho ditado
Não demorou muito tempo
E o cágado foi apenado
Pela maldade que fez
Com o teiú infortunado.
XVII
Para uma festa no céu
Foi o cágado chamado
Como não pode voar
Pela garça foi levado
Mas antes de chegar lá
Foi por ela despejado.
XVIII
Enquanto vinha rolando
Se pôs ele a repetir:
– se acaso eu não morrer
E se desta eu me sair
Juro que festa no céu
Nunca mais eu hei de ir.
XIX
O coitado esborrachou-se
Na terra todo quebrado
Mas Deus juntou os caquinhos
Pois ficou penalizado.
É por isso que o cágado
Tem seu corpo remendado.
XX
Muitos outros animais
Fizeram suas armações
Sublevando a floresta
Com as suas reinações
É o que vemos a seguir
Ao narrar outras ações.
XXI
Nesse tempo lá no céu
Ocorreu outra balada
E o sapo sem querer
Ficar longe da parada
Procurou o urubu
E armou uma cilada.
XXII
Na viola do urubu
Entrou o sapo de mansinho
E pra não ser percebido
Lá ficou enroladinho
Só saiu lá em cima
Na hora de beber vinho.
XXIII
Ao ver o sapo na altura
Cada bicho estremeceu
E indagavam entre si:
– como isso aconteceu?
Se o sapo não tem asas
Como aqui apareceu?
XXIV
Quando terminou a festa
O batráquio sem maçada
Retornou à violinha
Sem fazer muita zoada
Esperando dar a hora
De voltar à sua morada.
XXV
O urubu que já se achava
Completamente melado
Deu de mão do velho pinho
E o jogou no seu costado
Sem saber que novamente
Tinha sido atraiçoado.
XXVI
Mas pouco tempo depois
A farsa se revelou
O sapo sem perceber
Um ruído provocou
Deixando a pobre ave
Irritada em pleno voo.
XXVII
O urubu muito nervoso
Lançou fora o trapaceiro
Que caiu cá em embaixo
Em cima dum espinheiro
É por isso que o sapo
Tem o corpo meio fouveiro.
XXVIII
Certa feita a amiga onça
Foi o gato procurar
E disse: – meu camarada
Preciso lhe ocupar
Imploro que me ensine
A arte do bem pular.
XXIX
Não demorou muito tempo
E a ferinha inteligente
Aprendeu logo a pular
De maneira eficiente
Pulava pra todo lado
Para trás e para frente.
XXX
Certo dia os dois felinos
Se julgando maiorais
Resolveram apostar
Pra ver quem pulava mais
Quando de repente um rato
Emergiu dos matagais.
XXXI
Aprovado o desafio
O gato pulou no rato
Da mesma forma a onça
Na hora saltou no gato
Mas o gato desviou-se
Utilizando outro salto.
XXXII
A onça ficou nervosa
E disse: – seu infeliz
Este pulo me escondeste
Na aula que há pouco fiz
Disse o gato: não esquente
Nem tudo que sabe o lente
Ele ensina ao aprendiz.
CONTRIBUIÇÃO DE:
José Deusimar Loiola Gonçalves-
Técnico em Agropecuária(Assistente Técnico de Desenvolvimento Rural-FLEM-BAHIATER-Governo do Estado); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas ; Licenciado em Biologia ; Pós Graduado Em Gestão Educação Ambiental e Acadêmico da UNITAU-EAD- Polo de Tucano – Curso Superior de Tecnologia em Apicultura e Meliponicultura.
Fones de contato: 75- 99998-0025( Vivo-Wast App); 75- 99131-0784(Tim).