UM BRASIL DEFENDENDO UM OUTRO
Um trabalhador que tentava a vida em São Paulo, vendendo pipoca na estação do metrô. Um Brasil de poucas oportunidades. Em plena noite de natal, ele ali, vendendo pipocas! Lembrou-me “A Vendedora de Fósforos”. Segundo os mais próximos, os que ali conviviam diariamente com ele, era um homem muito humano, protetor, integro, de caráter. Enquanto muitos outros ceiavam com seus familiares, ele estava ali, na estação, buscando o seu sustento.
Um outro Brasil, era uma travesti. Discriminada, sempre achincalhada, vilipendiada pela intolerância, por viver e levar a vida de forma “diferente” dos padrões, dos malditos padrões normativos. Um Brasil que muitas vezes vara as madrugadas em busca do seu sustento, travestido, vivendo o seu gênero, enfrentando a fúria da violência, do preconceito, da homofobia.
Esses dois Brasis naquela estação se encontraram, como deveriam quase sempre se encontrar, como se encontram as minorias nesses lugares públicos, espaços que tem segurança assegurada pelo Estado.
O Brasil travestido fugia de seus algozes, de dois playboys, fortes, robustos, machos intolerantes, que teriam matado-o se a presa indefesa não tivesse escapado das suas garras homofóbicas.
E o outro Brasil, ao perceber a cena, em um ato de coragem e sensibilidade, foi defender o outro Brasil, a travesti que fugia da fúria dos covardes. Esse Brasil, que vendia pipoca na estação do metrô, não resistira aos socos e pontapés dos dois brutamontes. Fora espancado até a morte. Eles não mataram um homem pobre, pai de família, sobrevivente em uma grande metrópole, mataram um pouco da nossa dignidade, da nossa solidariedade, materializada naquele homem. “Um homem que defende um homossexual, também deve morrer”- Devem ter pensado os dois criminosos. Um Brasil morreu aos olhares de outros, que por medo não interviram, temendo a sua própria morte, ou mesmo pela relativização da violência.
Sinto a dor desses dois Brasis, um que morreu com o pouco do que ainda me resta na crença no ser humano, e o outro, que mesmo seguindo os maus tratos desse Brasil de opressores, que não tolera quem expõe sua natureza de gênero, e que são assassinados diariamente, segue com seu nome artístico, ou da sua identidade de gênero, o mesmo nome do país que lhe oprime: “Brasil”.
Pobre Brasil! Pobres Brasis!
Autor:IVAN SANTTANA
Colaboração e Complementos de:
Técnico em Agropecuária (Assistente Técnico de Desenvolvimento Rural-FLEM-BAHIATER-Governo do Estado); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas; Licenciado em Biologia; Pós Graduado Em Gestão Educação Ambiental e Acadêmico da UNITAU-EAD-Polo de Tucano – Curso Superior de Tecnologia em Apicultura e Meliponicultura.
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