MEU VOTO
Eu voto pelas gaiolas abertas,
sem passarinhos,
pela comunidade das formigas
que trabalham em comum,
pelo bem de todas.
Meu voto, seu dodô,
vale muito.
Vale as horas do fim do dia
quando rompem as seis horas
e a gente reza uma Ave Maria,
com a cabeça leve, no travesseiro.
Meu voto, eu não vendo,
porque meu voto mata as pragas da plantação,
que comem as plantas, a saúde, a educação.
Eu voto pela andorinha friorenta, no campanário,
que precisa de um abrigo mais quentinho.
Pelos que vão nascer e necessitam
de uma cidade mais iluminada,
ladrilhada de poesia,
de mais parquinhos,
de mais educação infantil
que estimule o pensar.
Meu voto, seu dotô,
eu até lhe dou,
se seus olhos me contar do seu coração,
se sua consciência ter a mesma limpeza das suas mãos.
Eu voto nos burros sem cabresto,
nos bois sem careta,
nos que escrevem leis com o sangue do coração,
nos que não espalham migalhas,
nem pros pombos, nem pra as pessoas,
mas dão a todos, dignidade de cidadão.
Meu voto eu não vendo,
porque meu voto vale uma vida melhor,
não pra mim, mas pra todos,
pra gente, escaravelho, besouros e passarinhos…
Eu voto na falta de ambição,
no desejo de renovação,
pelas laranjeiras em flor, no mês de maio,
pelas mães enternecidas diante do filho,
pensando no amanhã.
Eu voto pelo coaxar dos sapos,
pelo canto das rãs nas lagoas cheias,
pela chuva banhando de mansinho a terra,
pela borboleta de cor, em fulô amarela.