INFORMATIVO- CAMINHADA DOS UMBUZEIROS; HISTÓRIA E CULTURA NO SERTÃO DE UAUÁ.

52

 

 


É inegavelmente marcante a presença do tema “Canudos” – ainda que maculado por deturpações e engôdos interpretativos – nos campos de investigações da História, da Sociologia, da Antropologia, da Arqueologia, da Geografia, Geologia e, do mesmo modo, é perceptível o seu protagonismo nas produções das chamadas linguagens culturais, a exemplo do teatro, do cinema, do vídeo, da música, da poesia, do romance, do cordel, etc.

Transcorrida mais do que uma centena de anos daquele que certamente foi o mais dramático conflito fratricida da história brasileira[1], Canudos é ícone indiscutivelmente relacionado, também, à religiosidade e à cultura sertanejas, sobretudo porque historicamente disseminado em considerável espaço geográfico, razão das fervorosas devoções do sertanejo e porque inspirador das muitas e belíssimas produções e expressividades culturais presentes em boa parte das municipalidades do semi-árido baiano; ícone, inclusive, que cada vez mais tem alçado livres vôos para além das extensas fronteiras do estado baiano.

Uauá, à época da sangrenta e renhida refrega canudense – que, como triste legado, ceifou a vida de aproximadamente vinte mil brasileiros – constituía-se num humilde e bucólico vilarejo e, tal qual o Belo Monte conselheirista, era bordejado pelo rio Vaza Barris, provedor, nos intermitentes períodos de bonança, de sua gente pacata e laboriosa. Entretanto, em novembro de 1896, em meio à seca inclemente, o pequeno logradouro transformar-se-ia no primeiro palco do grande conflito, daí ser o sítio referenciado como “Primeiro Fogo da Guerra de Canudos”. Segundo relato do então Comandante das tropas expedicionárias republicanas ali em bivaque[2], os conselheiristas, achegados para surpreender à soldadesca, “tanto vinham para uma guerra, quanto para qualquer procissão religiosa”, pois que, munidos de caçetes, facas, facões, machados e espingardas de caça, também portavam pequenos santuários, vários estandartes de cunho religioso, um grande cruzeiro[3] e entoavam cânticos litúrgicos. Fé e resistência que fizeram história no sertão da Bahia!

ENVEREDANDO PELAS TRILHAS DE UAUÁ/CANUDOS

 No natural correr dos tempos, de vila à municipalidade, Uauá conquistou, e com justiça, o merecido reconhecimento como sendo o lugar ao mesmo tempo catalisador e propulsor, no sertão baiano, das mais genuínas expressividades artístico-culturais populares, razão, dentre tantos motivos, da sua histórica e resistente plêiade de compositores, cantadores, poetas populares, repentistas, aboiadores, cordelistas, sanfoneiros, zabumbeiros, tocadores de pífaros, etc; e da permanência/resistência de suas tradições culturais referenciadas quando dos festejos juninos, dos festivais do umbu, das exposições de caprinos e ovinos, das saudosas serenatas e das lidas e façanhas cotidianas de seus aguerridos vaqueiros.

Por tudo isso e para além de sua rica história e de seu precioso legado fundamentado nas expressões da cultura popular sertaneja, sempre houve em Uauá uma juventude culturalmente “antenada”, que poética e responsavelmente agita as praças, ruelas e becos, ensejando palcos e cenários – sobretudo se disponíveis -, enfim atos e ritos conseqüentes de sua elogiável conscientização acerca da pertinência e da visibilidade desses valores histórico-culturais, o que, não há dúvida, corrobora para que a “Caminhada dos Umbuzeiros”, tendo já enveredado por dois anos as singulares e instigantes trilhas catingueiras[4], congregando caminhantes e simpatizantes de várias localidades da Bahia e de outros estados, se efetive e se torne, com êxito, um referencial no calendário cultural dessa alcunhada “Terra dos Pirilampos” [5].

Imperativo, também, que se destaque a relevância de tal iniciativa na medida em que, ao ressaltar e vivenciar a História, ao valorizar e produzir cultura, palmilhando e, ao mesmo tempo, integrando o sujeito ao seu habitat, considera-se, responsavelmente, na produção e feitio da caminhada, a presença e a efetiva participação das comunidades residentes na trilha, enriquecendo, por conseguinte, as devidas relações de pertencimento do sertanejo ao seu histórico e querido rincão. Salve o sertão!

SERVIÇO:

CAMINHADA – 08 E 09 DE ABRIL/2017

SAÍDA – ÀS 05H, DO TERRENO EM QUE FICAVA A CASA QUE SERVIU DE BIVAQUE AO TENENTE PIRES FERREIRA, AO LADO DO COLÉGIO NOSSA SENHORA AUXILIADORA.

CHEGADA – ÀS 14 H, NA BEIRA DO AÇUDE DE COCOROBÓ/CANUDOS VELHO.

CONFRATERNIZAÇÃO  NO RESTAURANTE DE DONA MADALENA / CANUDOS VELHO

Roberto Dantas

Historiador/Documentarista

Março/2017

INFORMES COMPLEMENTARES:

[1] A Guerra de Canudos se deu no sertão da Bahia entre novembro de 1896 e outubro de 1897. Foram, portanto, necessários onze meses e o envio de quatro expedições militares para a conquista definitiva do insurrecto arraial sertanejo, a saber: Primeira Expedição, sob o comando de Pires Ferreira; Segunda Expedição, comando do Major Febrônio de Brito; Terceira Expedição, comando do Coronel Moreira César e a Quarta Expedição, comando do General Artur Oscar Guimarães.

[2] Tenente Manoel da Silva Pires Ferreira, comandante da Primeira Expedição Militar enviada pelo notívago governo republicano à Bahia (Nov/1896) para combater a gente do peregrino Antônio Conselheiro e, conseqüentemente, destruir ao seu resistente Arraial do Bello Monte, que ficou mais conhecido na História como Arraial de Canudos (1893-1897). Entretanto, após o combate em Uauá, razão das perdas sofridas e das dificuldades operacionais no sertão, retorna ao seu ponto de origem, a cidade de Juazeiro, situada às margens do Rio São Francisco.

[3] Além dos relatos oficiais do comandante expedicionário, fontes orais atestam que o referido cruzeiro fora carregado pelo então Chefe da Guarda Católica Conselheirista, o sertanejo João Abade, filho da localidade de Tucano, localidade próxima à antiga Vila do Cumbe (Hoje, cidade Euclides da Cunha), reconhecido líder guerreiro do Arraial do Bello Monte.

[4] Flora terna e rudemente conformada por macambiras, facheiros, palmas, barrigudas, favelas, xiquexiques, cabeças-de-frades, mandacarus, alecrins, juazeiros, umbuzeiros, e tantas outras espécimes dos seus ainda ínvios atalhos.

[5] Vagalumes ou pirilampos são insetos que emanam luz, que brilham efusivamente nas noites.

CONTRIBUIÇÃO FANTÁSTICA DO PROFESSOR HISTORIADOR DA MAIOR UNIVERSIDADE DE NOSSA LINDA E EXTENSA BAHIA- ROBERTO DANTAS-“BETO”- UNEB.

COLABORAÇÃO E COMPLEMENTOS DE:

José Deusimar Loiola Gonçalves-
Técnico em Agropecuária(Assistente Técnico de Desenvolvimento Rural-FLEM-BAHIATER-Governo do Estado); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas ; Licenciado em Biologia e Pós Graduado Em Gestão e Educação Ambiental(Apicultor e Meliponicultor).
Fones de contato: 75- 99998-0025( Vivo-Wast App); 75- 99131-0784(Tim).