A vida política nacional foi oxigenada no último final de semana com a eleição do novo Presidente da Câmara dos Deputados, e abriu um grande leque de reflexões e conjecturas que trouxeram enriquecimento ao debate político, com a reafirmação de algumas convicções já tradicionais e a eclosão de novas nuances ligadas ao comportamento dos parlamentares.
Certamente por tudo quanto amplamente divulgado pela imprensa, pode-se imaginar que foram muitas as negociações ou barganhas nebulosas na tentativa de conquistar os votos dos 513 deputados num evento dessa importância, tanto do lado do governo como da oposição. Não é improvável que nessa operação de garimpagem de votos muitas promessas de cargos nos vários escalões da República foram empenhadas ou mesmo sinalizadas outras vantagens (!) que somente o submundo político entende, uma vez que se comunicam através de um dialeto nem sempre entendível num universo onde ainda são respeitados certos valores. A eleição ocorreu logo após a posse dos 513 deputados para o próximo período legislativo e um fato inusitado mereceu destaque especial: o dia da posse é o único evento em que o painel acusa a presença de 100% dos deputados! Agora, só daqui a quatro anos! Os nossos legisladores, mesmo ausentes dos trabalhos, recebem os seus salários integralmente, o que se apresenta como mais uma diferença abissal em relação ao poder e o trabalhador comum.
Por reconhecer a importância da existência e funcionamento dos Três Poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – como peças institucionais obrigatórias e fundamentais para a legitimação do Estado Democrático de Direito, tenho, pelos seus integrantes, o maior respeito e admiração, pela honra de que estão revestidos em poderem representar os interesses de todo um povo e a dignidade do exercício do poder em nome da Nação. Naturalmente que os representantes dos poderes Executivo e Legislativo, por serem escolhidos pelo voto popular, têm as responsabilidades pelos seus erros e acertos submetidas ao crivo dos que os elegeram em eleições livres. O que me deprime, bem como a qualquer cidadão de bem, é a constatação de que grande número desses eleitos desonram os cargos que exercem, confundindo os interesses pessoais e patrimoniais com os da nação, ainda que se tenha o consolo de que existem as exceções nesse balaio.
É evidente que os desvios que configuram quebra nas regras de conduta nem sempre estão unicamente ligados às cifras que identificam a marca da corrupção. Mas há quem diga que são “primos irmãos”! Para que o leitor tenha uma ideia do que estou dizendo, durante as entrevistas feitas pela TV Câmara dentro do próprio Plenário antes do início da votação, um dos candidatos à presidência perguntado se tinha a expectativa de alcançar o número de votos para vencer ante o fato de que as coligações partidárias indicavam vantagem para o principal opositor Eduardo Cunha, respondeu entre sorrisos “de que a minha esperança é que o voto será SECRETO e assim, tudo pode acontecer…”! Insinuação emblemática de quem conhece o conceito negativo de certos Deputados, e cujo perfil de inidoneidade e submissão já está impregnado na conduta parlamentar. Então, numa votação secreta na qual não têm os seus nomes identificados, são capazes de qualquer atitude dolosa e de subserviência? Felizmente a profecia do candidato falhou e só resta agora uma tênue esperança de que a vitória do Eduardo Cunha, como Presidente da Câmara, possa significar o rompimento do cabresto que a mantinha submissa ao Executivo.
Outro detalhe marcante que produziu efeitos negativos sobre o andamento da eleição da Câmara, foi a alardeada disposição do agora Ministro das Cidades, Gilberto Kassab, em fundar o novo Partido Liberal-PL, para a fusão com o seu PSD, partido que fundou em 2011 levando partidários do ex-PFL (agora DEM) e pensa agora em arrebanhar os que saíram insatisfeitos da eleição da Presidência da Câmara. Ou a nova Câmara discute e aprova uma urgente Reforma Política que inclua limites à criação de novos partidos ou esse Ministro ao invés de fazer alguma coisa pelas cidades brasileiras, vai se dedicar ao seu interesse maior que é fundar partidos políticos, para cuja atividade demonstra singular habilidade.
Estamos diante de uma perspectiva que inspira a convicção de que nem tudo está perdido neste nosso país, que é a prometida divulgação pela Procuradoria Geral da República, até o final de fevereiro, dos nomes dos políticos envolvidos com a Operação Lava Jato. O prenúncio de que há deputados, senadores, ex-governadores e atuais envolvidos, pela seriedade como a Polícia Federal e a Justiça Federal vêm conduzindo a apuração, sinaliza o começo de um processo de moralização no país. Esses Políticos, como coadjuvantes de uma tragédia imposta à Petrobrás, através da união espúria com seus Diretores e Empresários, conseguiram não somente usurpar os Ativos Financeiros da nossa maior empresa nacional, mas destruir a sua credibilidade no mercado nacional e internacional. Apesar da eficiência da Polícia Federal, da Justiça Federal e da Procuradoria Geral da União, entristece lembrar, contudo, que os “Mensaleiros” foram igualmente julgados e presos… mas não é que alguns privilegiados já estão soltos? Resta a dúvida, ainda, se as revelações do Procurador Geral não virão atingir a nova “cara” da Câmara…!
Como o primeiro ato da nova Presidência foi acolher a criação da CPI da PETROBRÁS, após assinaturas de 182 Deputados, o povo agora espera que haja o julgamento imparcial e independente de qualquer cor partidária, mas que a punição seja dura e exemplar, DOA A QUEM DOER!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
CONTRIBUIÇÃO DO:Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 08/02/2015
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios