Alguém aí tem saudades de 1988? Enquanto Rosana estourava com “O amor e o poder” nas paradas de sucessos, a inflação atingia os quatro dígitos, fechando o ano em 1.037%. Para tentar poupar os cruzados do ataque do dragão, os brasileiros bolavam soluções inusitadas.
Dois irmãos da cidade de Embu-Guaçu, São Paulo, tiveram a ideia de usar caminhões Ford como cadernetas de poupança. Aplicaram suas economias na compra de nada menos do que doze F-11.000 zero-quilômetro. Depois, guardaram-nos em um sítio.
Os caminhões foram vendidos aos poucos. Sobrou só um, que havia sido comprado por CZ$ 4.800.000 (quatro milhões e oitocentos mil cruzados).
Para evitar olhares curiosos, Seu Orlando (um dos irmãos) mandou cobrir a boca do galpão com blocos de cimento. Eis que agora, já passado dos 70 anos de idade e com problemas de saúde, o sitiante, enfim, decidiu vender o “bruto”.
Os blocos foram retirados, arrumaram uma bateria e o F-11.000 com 110km no hodômetro voltou a rugir. Tudo, absolutamente tudo, é zero-quilômetro — até os plásticos que cobriam os bancos na concessionária. Cápsula do tempo.
O caminhão, agora, pertence a Reginaldo Gonçalves, conhecido como Reginaldo de Campinas, colecionador e comerciante especializado em modelos antigos pouco rodados.
— Nem a Ford tem um caminhão desses… — diz Reginaldo, que só pensaria em vender o Ford F-11.000 1988 pelo valor de um Cargo novo.
Fonte: Mundo Fixa