O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã desta quinta-feira (16) que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro , está sendo perseguido pelo Ministério Público (MP) através das investigações que apuram possíveis irregularidades financeiras a partir de pistas apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) .
— Agora, estão fazendo esculacho em cima do meu filho. Querem me atingir? Venham para cima de mim! Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem que ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar — afirmou o presidente durante no último dia de agenda em Dallas, no Texas, para onde viajou na terça-feira.
Em material apresentado à Justiça do Rio para pedir a quebra do sigilo de Flávio e de outras 94 pessoas, o MP apontou indícios da existência de uma “organização criminosa” no gabinete dele enquanto deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).Além do MP, Bolsonaro estendeu as críticas à imprensa pela divulgação de informações que envolvem a investigação:
— Mas grandes setores da mídia não estão satisfeitos com o meu governo. É governo de austeridade, de responsabilidade com o dinheiro público. É um governo que não vai mentir e não vai aceitar negociações, não vai aceitar conchavos para atender interesse de quem quer que seja. E ponto final.
Bolsonaro também recomendou que os jornalistas procurassem Flávio se quisessem saber detalhes sobre o caso e reclamou sobre a “carga desproporcional e descomunal” que, segundo ele, pesa sob o filho.
— Pergunta para meu filho. Pergunta pra ele, ele responde pelos atos dele. Agora, estão fazendo uma carga enorme em cima dele, porque é meu filho, nada mais além disso. Nada mais além disso. Estão fazendo uma carga em cima dele desproporcional, descomunal, uma perseguição, porque é meu filho, nada mais além disso — criticou.
‘Tem uma Lava-Jato aí’
Ainda sobre a quebra de sigilo bancário, Bolsonaro reforçou o discurso de Flávio: o senador afirma recorrentemente que teve o sigilo quebrado ilegalmente pelo MP a partir de relatórios do Coaf . Diferentemente do que reiterou Bolsonaro, o procedimento mencionado por Flávio não é semelhante à quebra de sigilo autorizada no fim de abril pela Justiça , conforme já apontou o próprio MP em nota oficial sobre o caso . O presidente também fez críticas ao número de pessoas com sigilo quebrado e comparou o alcance da investigação ao da Operação Lava-Jato.
— É a jogadinha. Quebraram o sigilo bancário dele desde o ano passado e agora, para dar um verniz de legalidade, quebraram oficialmente. E de mais 93 pessoas, se não me engano. Nossa Senhora, tem uma Lava-Jato aí. Vai fundo, vai fundo. Isso aí é ilegalidade. Eu não sou advogado, (mas parece) nulidade de processo — disse Bolsonaro.
No fim de 2018, o Coaf apontou “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão, em 2016 e 2017, nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. Oito assessores do ex-deputado estadual transferiram recursos a Queiroz em datas próximas ao pagamento de servidores da Alerj. Ainda segundo o Coaf, Flávio recebeu, em um mês, 48 depósitos no valor de R$ 2 mil.
Após faltar a quatro depoimentos ao MP, alegando problemas de saúde, Queiroz afirmou, em dezembro, que a “movimentação atípica” revelada pelo Coaf teve origem na compra e venda de veículos. Em janeiro, Flávio Bolsonaro também não prestou depoimento, argumentando que iria marcar uma nova data após ter acesso ao caso.
Em janeiro, o ministro Luiz Fux, do STF, suspendeu as investigações temporariamente, a pedido de Flávio, durante o recesso do tribunal. Em fevereiro, porém, Marco Aurélio revogou a decisão e autorizou o MP do Rio a continuar com a apuração. Alegando que tem foro privilegiado, Flávio havia pedido a transferência do caso para o STF e a anulação de provas.
Em março, Queiroz admitiu, em depoimento, que os valores recebidos por servidores do gabinete eram usados para “multiplicar a base eleitoral” de Flávio. Um ex-funcionário afirmou, também em depoimento, que repassava quase 60% do salário. O MP não encontrou evidências de que a movimentação bancária de Queiroz teve origem no comércio de carros.
A pedido do MP, o Tribunal de Justiça do Rio autorizou, em abril, a quebra de sigilo bancário de Flávio e de Queiroz para o período de janeiro de 2007 a dezembro de 2018. A medida se estende a seus respectivos familiares e a outros 88 ex-funcionários do gabinete do ex-deputado estadual, seus familiares e empresas relacionadas a eles.
Ao reiterar que se vê perseguido desde o início do mandato por setores da mídia e pelo MP, Bolsonaro mencionou a ex-mulher Ana Cristina Valle, de quem diz estar separado há 11 anos. Ana não teve o sigilo quebrado, como foi o caso de uma irmã e uma prima dela: Andrea Siqueira Valle e Juliana Siqueira Vargas. Elas estiveram lotadas no gabinete de Bolsonaro na Câmara , enquanto ele era deputado, em período anterior a quebra de sigilo compreendida entre 2007 e 2018.
— Desde o começo do meu mandato o pessoal tá atrás de mim o tempo todo usando a minha familia. Quebraram o sigilo de uma companheira minha, de quem estou separado há 11 anos dela, que nunca foi empregada no gabinete. Por que isso? Eu me pergunto: ‘Por que isso? Qual a intenção disso? 93 pessoas?’. Eu não quero acusar outras pessoas de nada não, mas está escandaloso esse negócio. Está escandaloso — pontuou o presidente.