SÃO PAULO – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmaram nesta quinta-feira que as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro à China atrasam o envio, por parte do país asiático, de insumos para a produção de vacinas contra o coronavírus no Brasil.
Segundo o presidente do Instituto Butantan, há a perspectiva da redução da quantidade de insumos a serem envviados de 6 mil litros para 3 mil litros, o que, segundo ele, não tem justificativa técnica. As declarações foram dadas após o envio, pelo Butantan, de um lote de 1 milhão de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde.
– Quero registrar aqui a nossa preocupação com as sucessivas manifestações que o governo federal vem fazendo contrariamente ao governo da China e à China, que é neste momento o único fornecedor de insumos para a vacina do Butantã, como é também fornecedor de insumos para a vacina da AstraZeneca. (…) Essas declarações em nada contribuem para a evolução e a normalidade da entrega de IFAs (insumos para a produção dos imunizantes) – disse Doria.
Bolsonaro insinuou nesta quarta-feira que a China pode ter criado o novo coronavírus em laboratório como parte de uma “guerra química”. A afirmação contraria a Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirmou que o vírus provavelmente teve origem animal.
Segundo Dimas Covas, as bravatas do presidente têm impacto direto na redução da quantidade de insumos recebidos pelo Brasil.
– Neste momento, estávamos em negociações para embarque da matéria-prima estão em curso na China para embarque de 6 a 8 mil litros (de IFA), e existe uma sinalização da redução desse volume. A data prevista de liberação era dia 10, agora já foi para o dia 13. O volume inicial era de 6 mil litros e agora existe uma expectativa de 2 mil litros. Não são mudanças da produção da Sinovac, são determinadas pelas autorizaçoes, no fundo é uma consequência da falta de alinhamento do governo federal. – salientou Covas.
Dimas Covas afirmou que o Butantan tem insumos para fazer a entrega de 3 milhões de doses da Coronavac na próxima semana e mais 2 milhões na semana seguinte.
– Nós já tivemos eh um grande problema no começo do ano (com o envio do IFA) e estamos enfrentando de novo esse problema. Embora a embaixada da China no Brasil venha dizendo que não há esse tipo de problema (político), a nossa sensação de quem está na ponta, é que existe dificuldade (na liberação dos insumos). A burocracia está sendo mais lenta do que o que seria o habitual – disse Covas.
O governo paulista também sinalizou que recomendou ao Ministério da Saúde que os municípios reservassem unidades da Coronavac para aplicação de segundas doses, orientação que não foi dada pelo governo federal às cidades. Hoje, já há estados que não têm vacinas para a aplicação da segunda dose.