Aliada do presidente Jair Bolsonaro, a Record do bispo Edir Macedo resolveu pegar leve com o noticiário sobre o novo coronavírus. Em e-mail a profissionais da emissora, enviado na semana passada, Thiago Contreira, diretor de Jornalismo, definiu em uma frase a orientação para a cobertura da pandemia: “Não podemos entrar na onda alarmista”.
No e-mail, ele reforça conceitos básicos da profissão, como “contextualizar e explicar o que realmente está acontecendo”. Seu discurso se assemelha ao de Bolsonaro ao determinar a seus subordinados que “SEMPRE” comparem “o número de mortes provocadas por doenças que despertam menos interesse, como a dengue, gripe comum, sarampo etc.”.
“Além disso, em nossas matérias em todas as plataformas, devemos dar espaço para médicos que sejam equilibrados e que ajudem a transmitir calma à população”, finaliza o segundo homem na hierarquia do departamento de Jornalismo.
No Jornal da Record de sábado (14), a ordem foi cumprida à risca. A principal reportagem da cobertura do Covid-19 era “As histórias de quem venceu a doença”, na qual informava que “mais de 70 mil infectados já tiveram cura” e que “especialistas consideram alto o índice de cura”.
Em outra reportagem, a jornalista Angélica Sattler entrevistou uma infectologista que ajudou a transmitir calma à população, como pediu Contreiras. A médica Fernanda Maffei disse aos telespectadores da Record para “não entrarem em pânico” caso contraiam a doença, porque “na maioria das vezes vai ser uma gripe leve”.
A orientação do Jornalismo da Record também combina com a interpretação de seu dono, o bispo Edir Macedo, sobre a pandemia.
“Meu amigo e minha amiga, não se preocupe com o coronavírus. Porque essa é a tática, ou mais uma tática, de Satanás. Satanás trabalha com o medo, o pavor. Trabalha com a dúvida. E quando as pessoas ficam apavoradas, com medo, em dúvida, as pessoas ficam fracas, débeis e suscetíveis. Qualquer ventinho que tiver é uma pneumonia para elas”, disse Macedo em um vídeo publicado no final de semana e retirado do ar ontem (16).
Emissora diz que faz cobertura equilibrada
Procurada, a Record afirmou que seu departamento de Jornalismo sempre faz recomendações como a do coronavírus.
“O Jornalismo da Record TV faz a cobertura equilibrada sobre o tema com intensa prestação de serviços e todas as informações necessárias para que o telespectador se proteja neste momento grave da pandemia que o mundo enfrenta. Como em qualquer cobertura similar, pedimos a todos que as informações sejam contextualizadas e que expliquem o que está acontecendo. Este é o compromisso do jornalismo”, disse a emissora em nota enviada ao Notícias da TV.
Por meio do departamento de Comunicação da Record, Thiago Contreira enviou dois exemplos de que “SEMPRE” dá orientações à Redação por coberturas equilibradas.
Em um dos casos, a da cobertura da acusação de estupro contra o jogador Neymar, Contreira alertou que “devemos usar sempre o adjetivo ‘suposto’ quando falamos de crime ou de estupro”. No outro exemplo, ele lembrou que “não noticiamos sequestros em andamento”.